Anná lançou o seu novo disco “Brasileira”, que traz, por meio do samba, um fio que transforma a linha do tempo em uma espiral.
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A ‘música de colagem’ foi a marca registrada da multiartista no álbum “Colar” e no EP “Pesada”. Neste novo trabalho, as colagens se expandem, assim como a linearidade do tempo e do próprio universo, através do olhar sobre a história da música brasileira das últimas dez décadas.
“Agora é uma colagem de tempo, colando passado e futuro, numa viagem com buraco de minhoca e transcendência”, pontua Anná.
Em entrevista exclusiva para o POPline.Biz é Mundo da Música, Anná conta sobre a presença do samba em sua vida, as suas influências musicais e a construção de “Brasileira”, álbum que a cantora abraça a força dos samples digitais, beats com um certo tom pop.
“Cada faixa convida a uma viagem diferente. Em algumas músicas só gravamos voz, o resto foi samples, em outras misturamos instrumentos acústicos com efeitos. Este universo de sons digitais é infinito”.
O samba como fio condutor de “Brasileira”, de Anná
De acordo com Anná, a ideia era que o álbum contasse a história do samba surgiu em 2014 com Samuel Silva. Juntos, os dois estudaram a história do samba e, a partir disso, escreveram um projeto de sambas clássicos e preservação de tradição.
Durante a pandemia da covid-19, Anná conseguiu um fomento para gravar um álbum. Assim, ela conseguiu adaptar o conceito de linha do tempo, transformando em um fio espiral. Com isso, segundo a cantora, a ideia foi subverter a mentalidade linear do tempo ocidental, misturando presente, passado e futuro.
“Tenho uma conexão muito forte com todas as músicas do álbum. Escolhi cada uma a dedo. Por exemplo, a música que abre o álbum é a “Rito de Passá”, que seria a música mais antiga, a que inicia a linha do tempo. Essa canção é um funk da Mc Tha, super atual, que trata de uma energia de Exú, de abertura de caminhos, muito antiga. Antes de começar a música eu canto “OM”, o som do universo tradicional da Índia, tradição de milhares de anos.”
De acordo com a cantora, outro exemplo é a canção “Valdineia”. A composição é do mestre Riachão, que foi um sambista expoente da era de ouro do rádio baiano nas décadas de 1940 e 1950.
“Na regravação de “Valdineia” misturei elementos eletrônicos e de funk ao tradicional samba do mestre Riachão. Sinto que mesclar presente e passado é uma tendência muito pulsante na cena independente, que se intensificou depois do lançamento da “Mulher do Fim do Mundo”, da Elza Soares. Eu adoro, porque a gente é meio vintage, mas adora novidades.”
A capa de “Brasileira” por Anná
A capa de “Brasileira” retrata o encontro de gerações, representado por uma criança e uma mulher. O conceito foi pensado e executado em parceria com a Casa Dobra e fotografada por Júlio César. Segundo Anná, durante a pandemia da covid-19, ela mergulhou em debates raciais e sentiu uma forte necessidade de falar sobre o protagonismo preto do samba na capa do álbum.
“O samba, que nasceu como forma de resistência de um povo tirado de sua terra e escravizado nas Américas, é quem dita o visual, a narrativa e as colagens deste trabalho. A capa do álbum traz a mestra Geovana, que é uma das maiores sambistas que o mundo já conheceu, e a jovem Dandara. Além disso, é uma homenagem a uma grande amiga, Maria Antônia, com quem passei grande parte da pandemia e me ajudou a ‘parir’ grandes ideias.”
Mas, afinal, quem é Anná?
Anna Paula Fonseca Carneiro Barreto Furtado, de 27 anos, é multiartista da cidade de Mococa, interior de São Paulo. A música sempre esteve presente na vida da cantora. Com três anos, ela gravou um álbum com a escola em que estudava na sua cidade natal.
“Gravei um álbum com a escola que eu estudava em Mococa. Tive o privilégio de estudar em uma escola construtivista desde cedo, com a professora de música Egle Zamarian e a Suze Alegrya, que plantaram muita poesia nesta caixola aqui”, conta Anná.
Com a música presente em sua vida desde a primeira infância, Anná revela que na época da escola sempre foi uma boa aluna e, por isso, existia uma pressão para prestar vestibular para carreiras tradicionais, como Direito e Medicina. No entanto, a cantora conta que depois de muita terapia, ela se mudou de Mococa para São Paulo para estudar Cinema. No período da faculdade, ela começou a fazer aulas de canto, seguindo a sua intuição.
“Nesse período eu conheci o samba. Em Mococa, nunca tinha visto uma roda de samba, aquilo me chamou de um jeito que não larguei mais. Nessa época, também, há uns 8 anos, eu conheci a Liniker. Ela estudava teatro e quase atuou em um curta meu. Alguns meses depois ela estourou e eu vi que era possível, me inspirei muito nela. Resolvi me assumir como artista e criei minha página no Facebook, foi ali que oficialmente o ‘bagulho’ começou”.
O que salta aos ouvidos de Anná
Na infância, tanto em casa quanto nas ruas, Anná escutava artistas como É O Tchan, Sandy & Júnior, Tom Jobim, Elis Regina, Milton Nascimento e Zezé de Camargo. Já na adolescência, a cantora passou por uma fase evangélica, em que os louvores de Kleber Lucas, Aline Barros, Alda Célia, Nívea Soares, entre outros, faziam parte do seu cotidiano. Ao sair da igreja, a artista inseriu os Beatles e Los Hermanos em seu repertório.
“Em São Paulo fiquei obcecada por Tom Zé. Quando entrei no samba, mergulhei fundo em Clara Nunes,Clementina de Jesus,Candeia, Cartola e Pixinguinha.”
Atualmente, a cantora revela que está vidrada por Beyoncé e que costuma ouvir playlists das 50 mais tocadas no Brasil, a fim de ‘furar as bolhas’. Para ela, expandir o repertório musical é importante para se comunicar e ouvir o que as multidões escutam.
“Atualmente, tudo que eu ouço se torna referência e acho difícil nomear as principais, porque já virou uma colcha de retalhos rocambolesca. Quando eu comecei a carreira, eu tentava filtrar as referências boas e ruins, mas alguma chave virou na pandemia e hoje tudo que eu ouço é material para (re)criar.”
“Pesada” e “Colar”: Anná antes de “Brasileira”
Em seu EP de estreia “Pesada”, em 2017, Anná tratou de temas como gordofobia e brasilidade com influências de samba e forró. Já em 2020, a cantor lançou “Colar”, seu primeiro álbum, que trouxe uma verdadeira explosão de ritmos, no que artista chama de “música de colagem”, em que ela flui por vários gêneros e levadas alternantes, passando em uma faixa por funk, jazz, ijexá, reggae, rock n’roll e outros.
“Brasileira”, de Anná, em plena expansão pelo o mundo
Quanto aos próximos passos, Anná revela que está em plena expansão. Com o álbum “Brasileira”, a cantora vai subir nos palcos de países da Europa, Minas Gerais, Rio de Janeiro, entre outros. Mesmo com uma agenda intensa de shows, a artista revela que ainda neste ano vai lançar mais um single.