Bala Desejo nomeia o encontro dos músicos cariocas Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra. Se você não acompanhou o hype deles, pode colocar a culpa na pandemia. Amigos desde a época da escola, os quatro começaram a chamar atenção após algumas participações nas lives temáticas no Instagram da cantora Teresa Cristina. Por aqui, o mercado piscou, a banda nasceu, gravou um álbum carnavalesco super elogiado e já esta listada em grandes festivais como o Coala Festival, Nômande Festival e o Rock in Rio.
Com referências tropicalistas, dos anos 70, mas ao mesmo tempo com frescor da juventude, de artistas que possuem história e experiência, Zé Ibarra contou, em entrevista ao POPLine.Biz é Mundo da Música, mais sobre como nasceu a musicalidade da Bala Desejo e suas reais referências.
“Nossa musicalidade foi construída juntamente, desde os tempos de escola. Estudamos todos juntos e crescemos ouvindo discos e compartilhando o que gostávamos um com o outro. Cada um de nós é o que é hoje em dia muito por conta dessa troca estabelecida desde então. A questão das referências setentistas vem menos por uma questão estética (que acho que para muitas pessoas é o que grita de cara) e mais por uma questão das entranhas musicais“, revela Zé.
E completa: “O que se produziu em termos de música (harmonia, melodia, letra e arranjo) nos anos 70 nos agrada muito, e antes por esses parâmetros do que pela letra estilizada ou pelas roupas arrojadas, saca? É uma questão muito mais musical do que comportamental. Vivemos em 2022 e nosso álbum, nossas letras e o debate que tentamos abordar no disco é do agora, só nos utilizamos de uma linguagem que amamos e da qual fazemos parte, que é a MPB”.
Segundo ele, “existiu uma vontade conceitual e prática de que vivêssemos, num fim de pandemia, tudo o que não pudemos viver durante ela, então quisemos entrar em estúdio, sentir os músicos ali presentes, tocar sem click, olhando no olho, contato e verdade, que era como faziam lá atrás por falta de outro jeito de se fazer”.
A pandemia foi um momento de muita introspecção, mas também de muita criação. Vimos projetos incríveis nascendo, mas também vimos projetos incríveis morrendo. Questionado se ele acreditava que se não houvesse esse momento de “caos” a Bala Desejo não existira, Zé foi categórico: “Sem dúvida não existiria”.
“Complicado é dizer que a pandemia nos fez bem por conta disso, mas tão complicado quanto seria dizer que ela não fez também. Sei que esse disco nos salvou em certo sentido, organizou e canalizou toda uma dor e frustração para algo construtivo. O Bala é um filho da pandemia, tudo veio dela – tanto o contexto para que a ideia de formar um grupo surgisse quanto o próprio material conceitual. A pandemia é o ponto de partida e de chegada do Bala Desejo”, revela.
Mas afinal, quem é Bala Desejo?
Em 2020, cada um dos músicos seguia um caminho diferente em suas respectivas carreiras musicais: Dora integrava o grupo vocal Zanzibar, Julia compunha músicas para seu trabalho solo, enquanto Zé e Lucas estavam imersos nas produções do segundo álbum da banda Dônica, a qual integram juntamente de Tom Veloso, André Almeida e Rodrigo Parcias. Lucas também participava da produção do álbum “Meu Coco”, de Caetano Veloso, lançado no final de 2021.
Cada integrante viveu a própria solidão e processo criativo no período de isolamento. Quando decidiram morar juntos, a residência virou sinônimo de imersão, resultando em uma sonoridade que se faz nostálgica no imaginário do público brasileiro, mas de vanguarda na proposta embalada.
A concretização de Bala Desejo como grupo veio a partir do convite do Coala Festival para que a banda integrasse o line-up da edição de 2021, posteriormente adiada por conta da pandemia. Com a impossibilidade do evento, surgiu a ideia da gravação de um álbum.
“Sim Sim Sim” nasceu de uma imersão criativa, num sítio, em Minas, e o processo criativo dos quatro instigou a curiosidade. Composição, melodia… Zé contu como funcionou o processo e brica: “Nossa, isso aí dá um livro”.
“Nos comprometemos em criar ideias sozinhos enquanto passávamos o tempo longe uns dos outros. Eu, por exemplo, morava em São Paulo na época, e quando estávamos juntos, íamos à Barbacena (MG) desenvolver essas ideias. Assim fizemos. Quase todas as músicas do disco surgiram assim, embriões individuais com desenvolvimento coletivo”, conta.
E completa: “A primeira música que surgiu foi lá em casa, “Baile de Máscaras”, e foi muito importante ela ter sido a primeira, porque deu o norte conceitual do disco: é pandemia, mas é Carnaval. Foi muito impactante a primeira vez que tocamos ela todos juntos no banheiro, dava pra ver que tínhamos algo poderoso nas mãos. Enfim, são mil histórias que não cabem numa entrevista escrita, se um dia nos encontrarmos ao vivo será um prazer reviver tudo isso” – a repórter aqui já anotou na agenda e quer esse encontro pra ontem!
Liberado em duas partes (lados A e B), em uma reverência à tradição dos LPs, Sim Sim Sim tem direção artística e produção musical do próprio Bala Desejo, coprodução de Ana Frango Elétrico e supervisão de Marcus Preto, produtor e diretor artístico responsável por trabalhos junto de Gal Costa. A “kombi do Bala” nasceu em viagens entre Rio de Janeiro e Minas Gerais e agora anuncia para o mundo o desejo do “recarnaval”.
Questionado sobre “Que carnaval é esse que vocês querem recriar?”, Zé desenhou: “A ideia do “Recarnaval” parte de uma vontade de contraposição ao enclausuramento e à tristeza que invadiu nossos corpos e cabeças durante a pandemia. Lembro de ouvir muitas coisas sobre a pandemia que eram tristes. Por um lado, isso era bom porque rolava uma identificação e uma reflexão sobre a questão, mas por outro me deixava pior ainda”.
“Ficamos pensando que disco gostaríamos de ouvir quando isso estivesse acabando e vimos que tínhamos em nossas mãos a chance de fazer o oposto: dar para nós e para o mundo um disco alegre, dançante e esperançoso; que servisse de bálsamo para os outros, sabe? E assim tentamos fazer”, finaliza.
Ouça Sim Sim Sim:
O quadro “Quem é” do POPline.Biz é Mundo da Música que traz nomes que estão dando o que falar no mercado como Tasha e Traice, John Amplificado, Gabrá, Gabriela Gomes, João Gomes, Duquesa, Jessé Aguiar, Luan Estilizado, Ruivinha de Marte, Lukinhas, Kant, Zé Vaqueiro, Malu, Diego & Victor Hugo, Krawk, Vitor Fernandes, Rai Saia Rodada, Nattan, MC Dricka, Luthuly, Marina Sena, Joel Carlo, Melly, Juçara Marçal, Taty Pink, Danny Bond, Luccas Carlos e mais.