Desde a infância, Kley Tarcitano tinha interesse pelo mercado artístico. O palco, em especial, sempre saltou aos seus olhos e estava presente nas suas brincadeiras. Segundo o diretor artístico, aos seis anos, ele pediu para a sua mãe cortar uma caixa de papelão para fazer um palco. Os seus Legos viraram peças para montar concertos. Quando passavam comerciais de shows na televisão, Tarcitano sentia que havia nascido para fazer parte dos espetáculos.
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Ao ingressar no mercado de trabalho, de acordo com Kley, o instinto era o principal guia dos desenhos, das ideias e das soluções. Foi na prática, ao lado de grandes profissionais, e com muito estudo que ele conseguiu se especializar e se aperfeiçoar na carreira.
À essa altura do texto você deve estar se perguntando como tudo começou, qual foi o pontapé de Kley Tarcitano para entrar no showbiz. Em entrevista exclusiva ao POPline.Biz É Mundo da Música o diretor artístico conta sobre os caminhos que foram traçados para alcançar notoriedade na sua área de atuação, as parcerias com grandes nomes da cena musical, como é feita a elaboração dos grandes projetos e, também, os desafios na construção dos megaeventos que ele produz.
A abertura da cortina no palco dos grandes espetáculos na vida de Kley Tarcitano
Embora tenha alcançado os holofotes do mercado musical no exterior, Kley Tarcitano é brasileiro e começou a carreira no país de origem junto a Lilian Gonçalves produzindo shows. No entanto, a sua meta era ampliar os horizontes e conquistar o palco de um dos maiores espetáculos mundiais: os Estados Unidos.
“O meu objetivo sempre foi os Estados Unidos, desde criança. Primeiro, fui ao país para aprender inglês e depois voltei com meu visto de trabalho. Tive uma oportunidade em uma empresa pequena e fui expandindo. Comecei a trabalhar na frente das câmeras — fiz figuração, participei como ator de vários projetos, até de ‘Iron Man 3’ — para conhecer as pessoas por trás das câmeras. Conheci muita gente e foi quando me tornei assistente de produção do ‘American Idol’. Três meses depois, me tornei produtor associado do show”, diz Tarcitano.
Foi no Grammy Latino que Kley Tarcitano desenhou o primeiro espetáculo para grandes artistas, entre eles Thalía, J Balvin e Maluma.
“O primeiro show que comecei a desenhar para artistas grandes foi o Grammy Latino e foi um show muito especial, pois me deu uma experiência incrível. Desenhei o show inteiro, o que envolve muito trabalho e criatividade. Trabalhei com a Thalía, o J Balvin, o Maluma, todos os grandes artistas do mercado latino de uma vez só. Inclusive, o primeiro show que a Anitta fez de performance de televisão nos Estados Unidos foi eu que fiz quando trabalhei no Prêmio Lo Nuestro. Contei para ela e ela ficou super feliz.”
O intercâmbio cultural com artistas de nacionalidades diferentes não é uma dificuldade na vida do diretor artístico. Kley revela que essas parcerias funcionam de forma natural e orgânica.
A construção dos palcos: um espetáculo de Kley Tarcitano
O diretor artístico enfatiza sobre a complexidade acerca da construção de um espetáculo e ainda destaca que são muitas pessoas pensando na elaboração e concepção da apresentação. O trabalho é feito em equipe e, dependendo do artista, podem surgir sugestões tanto dele quanto do empresário.
“A influência depende do artista e do time com que você trabalha. O empresário da Jennifer Lopez, por exemplo, se envolve muito na parte artística. Muitas vezes, como no caso da Anitta, ela que trouxe a ideia principal. No Coachella, a ideia de trazer a favela veio dela. Eu, Rodrigo Branco, Joe Rohde — o mesmo responsável pelo Animal Kingdom da Disney World — e a própria Anitta entramos com ideias, De modo geral, é um conjunto de pessoas trabalhando.”
Para o diretor artístico a elaboração de um show é como um laboratório, é preciso ir a fundo no conceito definido de determinado espetáculo. No entanto, o sucesso e a satisfação de um trabalho bem feito está presente nos detalhes.
“Vamos falar do caso da Anitta: trazer a favela para o palco do Coachella era a ideia principal. A partir daí, começamos a pesquisar. Ela me levou para o Rio de Janeiro para conhecer a comunidade e entender ainda mais. Também gravamos o clipe de introdução do show por lá. Conversei com pessoas, andei de moto táxi, pois a Anitta queria entrar assim no show, e achei incrível. Gosto de ver as texturas, os detalhes de luz e até de cheiro. Sei que o público não vai sentir, mas, por exemplo, quando fiz a flor de lótus da Jennifer Lopez, coloquei um perfume na flor gigante, que ela sentiu. Um toque especial para o artista. Depois do conceito, começamos os desenhos e a parte técnica, de funcionalidade e durabilidade. Outro ponto é a questão financeira. Você tem que desenhar o show baseado naquele orçamento. Na execução do projeto, montamos tudo e vemos a parte de luz, projeção, bailarinos, coreografia… Assim, o artista entra e realiza os ensaios técnicos.”
Por trás dos palcos de Kley Tarcitano: o caminho percorrido para o conceito de um projeto
O espetáculo pronto é a ponta do iceberg. O caminho do briefing até a execução de um projeto requer muita dedicação e, para além disso, trabalho. De acordo com Kley Tarcitano, os pilares de um conceito estruturado para a elaboração de um projeto são: pesquisa e criatividade.
“Existe muita pesquisa, de internet e de campo. No caso do Coachella, fui até a favela da Rocinha. Porém, na maioria das vezes a gente não tem tanto tempo para fazer esse laboratório. Às vezes, temos apenas uma semana para desenhar o show e, então, pesquisamos pela internet. É legal ter referências, mas gosto de fazer um processo muito isolado, criar sem ver muitas imagens, pensar no que eu quero sem olhar tanta coisa. Gosto de ver o que está passando na minha cabeça.”
Mesmo com muita pesquisa e uma criatividade aguçada, assim como em todas as áreas profissionais, trabalhar com grandes espetáculos também tem alguns desafios. No entanto, Kley acredita que com uma fórmula, que consiste em três vertentes essenciais, as dificuldades ao longo do percurso podem ser dribladas.
“Existem muitos desafios, mas resumindo: acredito que existe uma fórmula boa que é criatividade, financeiro e viabilidade. Quando você junta esses três elementos, o projeto vai ser um sucesso. E, claro, o artista tem que gostar.”
Super Bowl: Kley Tarcitano estrela no espetáculo mais televisionado do mundo com Jennifer Lopez
Um dos espetáculos televisionados de maior audiência do mundo, o Super Bowl, o jogo da final do NFL (National Football League), nos Estados Unidos, não só atrai uma legião de torcedores como o patrocínio de marcas todos os anos. Em 2020, o Kansas City Chiefs foi o time campeão no Hard Rock Stadium, em Miami, na Flórida. Para além do resultado da competição, o show do intervalo traz não só reconhecimento como visibilidade para o artista. Naquele ano, Jennifer Lopez foi a atração de um dos momentos mais caros na televisão estadunidense.
O diretor criativo destacou o desafio de elaborar um concerto em um palco com grandes proporções em um curto período de tempo. Segundo Kley Tarcitano, o palco precisa ser montado em três ou quatro minutos. Para a troca é preciso agilidade e ensaio, não da parte artística, mas a técnica. Geralmente, para a dinâmica acontecer é necessário mais de 1300 pessoas na produção, tendo um cuidado redobrado com o gramado, por conta da partida.
“Eu estava na parte artística da Jennifer Lopez, o responsável por desenhar o show em si foi o Bruce Rodgers, que está no Halftime Show do Super Bowl há 20 anos. Ele tem a fórmula mágica para acontecer sem erros. A JLO é exigente como todas as grandes estrelas mundiais. Ela quis trazer o melhor do melhor, os melhores profissionais, para criar a apresentação. Foi muito gratificante para mim”, explica. “Lembro que quando cheguei nos EUA, na escola de idiomas, a professora estava ensinando sobre o Halftime e eu falei que um dia iria fazer o show. Ela até brincou: “of course, darling”. Anos depois, isso virou realidade”, recorda Kley.
Rock in Rio Lisboa: a parceria de Kley Tarcitano e Anitta
Antes de elaborar o show de Anitta no Rock in Rio Lisboa, Tarcitano havia trabalhado com a cantora no Coachella. O diretor criativo conta como foi pensada a mega produção e como funcionou o processo de trabalho para pensar em um espetáculo da artista mais popular do Brasil.
“Trabalhar com a Anitta é maravilhoso. Primeiro, porque ela é uma artista sensacional, competente em tudo que faz e extremamente talentosa. Ela sempre traz ideias muito boas, como aconteceu no Coachella, o que nos ajuda a pensar em um show com sua identidade. Além disso, fico muito feliz em trabalhar com uma brasileira, estando próximo da minha cultura. A mega produção do Rock in Rio Lisboa foi inspirada no que fizemos no Coachella e o resultado foi, mais uma vez, incrível.”
A expansão do palco de Kley Tarcitano
Mesmo com um vasto currículo carimbado por megaeventos, Kley revela que ainda tem muitos sonhos profissionais e ainda há espaço para mais realizações.
“Ainda tenho muitos sonhos profissionais que gostaria de realizar. Ter a possibilidade de estar envolvido, por exemplo, nas Olímpiadas ou Carnaval seria um desses. A complexidade e tudo que esses dois eventos representam deixam a minha cabeça a mil por hora e cheio de ideia”, concluiu.