in ,

Por que o mercado de catálogos musicais é tão atrativo?

Com investimentos bilionários em escala mundial, entenda como esse movimento dominará a indústria da música em 2021

Foto: Tom Pennington, Shakira; Matt Kincaid, Neil Young (Getty Images)/Divulgação Bob Dylan

Com a música nas plataformas digitais, àquela canção que lembra bons momentos pode ser ouvida a qualquer instante. De “hits atemporais” o catálogo infinito de canções nos streamings, estão repletos de opções. E nos últimos meses, o mercado tem visto que os artistas que possuem álbuns e produções que são sinônimo de plays, independente do período, guardam um verdadeiro tesouro em uma indústria avaliada em bilhões de dólares.

A Hipgnosis Songs Fund Limited está planejando emitir até 1,5 bilhão de novas ações à medida que planeja mais aquisições de catálogo, de acordo com um prospecto da empresa divulgado na última quinta-feira (21) e divulgado pela Billboard. A empresa com sede em Londres tem planos iniciais de emitir até 500 milhões de ações a partir de 10 de fevereiro a £ 1,21 cada, o que poderia potencialmente levantar até £ 605 milhões ($ 827 milhões) na Bolsa de Valores de Londres, onde é negociada desde 2018.

Os rendimentos potenciais desta e de outras emissões planejadas de ações parecem já estar negociados. O consultor de investimentos da Hipgnosis, The Family (Music) Limited, tem um “catálogo pipeline” – indicadores de vendas – atualmente sob devida diligência ou discussões em estágio final a um preço de compra combinado de mais de £ 1 bilhão, revela o documento.

O fluxo de negócios nunca foi um problema para a Hipgnosis, que já arrecadou mais de £ 1 bilhão para aquisições de catálogo. Mesmo com a concorrência das empresas Primary Wave, Concord Music Group e Round Hill Music a The Family (Music) Limited garantiu 129 catálogos com 60.836 canções – 3.164 deles ex-hits número 1.

Já este ano, a Hipgnosis anunciou suas aquisições de direitos dos produtores Jimmy Iovine e Bob Rock, da cantora colombiana Shakira e das lendas do rock Neil Young e Lindsey Buckingham. Em 30 de setembro de 2020, o catálogo de canções Hipgnosis estava avaliado em £ 1,16 bilhões ($ 1,59 bilhões). Enquanto que a Universal Music Publishing adquiriu o catálogo de Bob Dylan, em um acordo histórico e considerado um dos maiores do setor.

 

Por que o mercado de cátalogos musicais é tão atrativo?

Como investidor editorial, a Hipgnosis está no lugar certo na hora certa. O crescimento do serviço de streaming deve gerar ganhos nas receitas de música gravada e publicação ao longo da década. As previsões do Goldman Sachs revelam que haverá 1,15 bilhão de assinaturas premium nas plataformas e US $ 45 bilhões (cerca de R$ 243 milhões de reais) em receitas de música gravada até 2030, clique aqui e saiba mais.

Os direitos de reprodução, um investimento relativamente seguro com pouca ou nenhuma correlação com mudanças mais amplas do mercado, são especialmente atraentes quando as baixas taxas de juros fazem com que os investidores adotem classes de investimentos em ativos alternativos, como os royalties musicais.

Se observarmos, por exemplo, as músicas mais ouvidas do Spotify da cantora Shakira, que recentemente vendeu seu catálogo musical, apenas 2 foram lançadas em 2020, enquanto há música lançada em 1998, como “Inevitable” ou “Whenever, Wherever” de 2001. E mesmo em janeiro de 2021 permanecem com milhões de plays e entre as canções mais escutadas da artista.

Foto: Reprodução/Spotify Shakira

Outro caso é o da BMG, de propriedade da Bertelsmann, divulgou recentemente que adquiriu os direitos autorais de Mick Fleetwood em mais de 300 gravações, incluindo os maiores sucessos da banda lendária Fleetwood Mac, sucesso de 1977, a exemplo de “Dreams”. Sucesso viral global do TikTok em 2020, a música gerou mais de 3,2 bilhões de visualizações globalmente durante um período de oito semanas no segundo semestre de 2020, a colocando no topo da lista dos conteúdos mais virais da plataforma no ano passado.

O processo da Hipgnosis deixa claro que a pandemia está pressionando o mercado musical. Os bloqueios e fechamentos reduziram o número de estabelecimentos – bares, restaurantes, academias, lojas de varejo – pagando royalties de desempenho. Além da ausência dos shows, que impactam drasticamente o mercado. Para os artistas dispostos a comercializar os direitos de reprodução dos seus catálogos musicais, os acordos podem resultar em transações milionárias.

A Hipgnosis reduziu suas expectativas de acréscimo de receita em 25%. Mesmo assim, arrecadar mais dinheiro para aquisições de catálogos provavelmente não será um problema, aponta a Billboard. Com a maior parte de seu catálogo com dez anos ou menos, os ativos da Hipgnosis sobreviverão em muito ao controle da COVID-19 na economia global.

O mercado musical em 2021 acompanhará ainda mais movimentações de vendas de catálogos musicais e, muito em breve, a indústria brasileira começará a caminhar na mesma direção.