in

Vimos a “Reputation Stadium Tour”: Taylor Swift mostra porque é um dos nomes mais poderosos da sua geração


Por Flávio Saturnino

Foto: Dave Hogan/Getty Images/Uso autorizado POPline

Cerca de 6 anos atrás tive a primeira oportunidade de ficar cara a cara com Taylor Swift. Durante a promoção do álbum “Red”, milagrosamente o Brasil foi incluído na rota e a cantora, na época em sua transição explícita do country para o pop, se apresentou para poucos fãs sortudos no Rio de Janeiro.

Até então, seus desafetos eram poucos e seu temido squad ainda estava sendo construído. Agora, finalmente, o nosso reencontro aconteceu e… não foi no Brasil. Embarcar para a “Reputation Stadium Tour” – não ouse esquecer a palavra “stadium” (estádio, em ingfês) – foi uma experiência que deixou claro para mim que Taylor Swift assumiu seu lugar no pódio das três maiores estrelas da sua geração. Você queira ou não, ela conseguiu uma posição invejável por todas as estrelas ex-Disney que estão desde a infância nos holofotes.

Fazer uma turnê em estádio é desafiador. O potencial da Taylor Swift nos Estados Unidos nunca foi questionado, mas para o restante do mundo e poucos anos atrás era difícil imaginar essa possibilidade. Utopia? Não mesmo. Taylor abandonou o country regional e adotou uma estratégia para ser adorada pela massa – ainda que em sua maioria por meninas de até vinte-e-poucos-anos – do mundo inteiro.

Para conquistar o Reino Unido, o processo não foi do dia para noite. A amizade e as parcerias com Ed Sheeran, que hoje é o principal nome masculino made in UK, foram fundamentais – em especial, pela relação ter começado lá atrás, antes mesmo do ruivo se tornar um fenômeno global. O namoro de pouco mais de um ano com o DJ britânico Calvin Harris também foi um ponto positivo para ela ser entendida e acolhida pelos fãs de pop. O cheque-mate da Taylor após o fim do namoro foi revelar que era autora do mega-hit “This Is What You Came For”, de Harris com Rihanna.

Precisava elencar esses pontos antes de analisar o que a última noite representou para Taylor Swift. Primeiro show em estádio no Reino Unido. A primeira das duas datas no Etihad Stadium, em Manchester, atraiu um público fiel e engajado, um ponto final para sua consagração como estrela global. Minutos antes do show começar, uma área VIP pouco atrás do meu assento começou a ser movimentada. Estavam ali a família da Taylor Swift e alguns fãs selecionados a dedo. Era notável o cuidado e atenção que a mãe da cantora dava a cada um deles. Talvez sejam alguns dos mesmos fãs que participaram da audição do álbum “Reputation” no país meses atrás. Outro sinal estratégico de tornar a experiência em sensação de exclusividade para os fãs mais fieis. Poucos artistas do tamanho da Taylor fazem isso. Valorizar o fandom é essencial! Pena que alguns artistas descobrem isso um pouco tarde demais.

Foto: Dave Hogan/Getty Images/Uso autorizado POPline

Por falar em valorização, muitas vezes os atos de abertura de um mega-show são impostos por empresários em tentativas desesperadoras de promover artistas em desenvolvimento. Muitas vezes ligam o foda-se para qualquer conexão com o artista principal. Recentemente, vi no Brasil uma artista novata tendo que se virar com pouca iluminação, não direito a uso do telão e limitação no palco para abrir para uma cantora americana que não está em sua melhor fase. Quase um stand up constrangedor. Com Taylor na “REP” é diferente: Charli XCX e Camila Cabello fazem parte do temido squad e são muito mais que atos de abertura. Taylor convida as estrelas em ascensão de volta ao palco para o número de “Shake It Off”. O público vibra e entende que ali não há concorrência e que é interessante estar aberto às novas possibilidades.

Outro ato nobre da Taylor Swift é saber aproveitar cada canto do estádio. Todo mundo tem um momento cara a cara com a Taylor: seja os fãs que pagaram mais caro no “sneak pit” ou quem está nas arquibancadas. No segundo bloco do show, ela começa a sobrevoar os fãs, enquanto canta o recente single “Delicate”. Em seguida, ela ancora num mini-palco com uma cobra gigante no fundo do estádio. Após duas músicas, ela atravessa o público para outro mini-palco com outra cobra gigante ainda no fundo do estádio. Após cantar “I Knew You Were Trouble”, ela sobrevoa novamente os fãs – agora os que estão do lado direito. Era o meu momento. Taylor atravessou de volta para o palco principal passando por cima de mim. Um dos melhores vídeos que fiz na vida:

O verão europeu ainda não começou oficialmente, mas o dia em Manchester foi longo. Anoiteceu por volta das 22h, então pouco mais da metade da apresentação foi à luz do dia. Quando a noite finalmente caiu, a exuberância do palco gigantesco ficou nítida. E ali minha ficha caiu: infelizmente, essa estrutura não tem como vir para o Brasil. A conta não deve fechar.

Dois dias antes fui à estreia da “On The Run II”, da Beyoncé com JAY-Z. E, agora, após a Taylor, a sensação que tenho é que existe uma competição de quem faz o show mais megalomaníaco. Parece que não há limites no orçamento de tecnologia, pirotecnia, luzes e até cinematografia dessas turnês. Isso faz com que as possibilidades de países emergentes, como o Brasil, dificilmente consiga entrar na rota, por questões logísticas, estratégicas e, obviamente, financeiras. Essa é a parte mais triste.

A parte mais emocionante foi quando Taylor não ignorou o atentado que aconteceu um ano atrás aos arredores do show da Ariana Grande em Manchester. Com muito cuidado, ela mencionou o acontecimento: “show é um lugar para a inocência, alegria e animação. O que aconteceu há pouco mais de um ano nesta cidade foi uma tentativa de roubar essa inocência. Desde então, vocês mostraram tanta força… vocês têm uma resiliência incrível para continuar dançando, manter a inocência e manter a alegria.”

A experiência da “Reputation Stadium Tour”, da Taylor Swift, é um apanhado de variáveis que transformaram a caipira americana em uma das maiores referências para essa geração. Ouviremos ainda muito sobre Taylor e, agora que conquistou o mundo de ponta a ponta, o veneno dessa cobra será fatal para quem não se curvar.