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Entrevista: “Um complementa o outro”, revela Lucas Silva, empresário e irmão do cantor Silva

O empresário contou sobre os desafios do mercado musical e, também, como é a dinâmica de trabalhar com o seu irmão mais novo
Lucas Silva. Foto: Manoella Mariano

Com 20 anos de carreira no mercado musical, Lucas Silva, que começou em cima dos palcos como cantor e músico, construiu uma sólida parceria nos bastidores como compositor e empresário de Silva.

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Lucas Silva. Foto: Manoella Mariano

Em entrevista para o POPline.Biz é Mundo da Música, o empresário contou sobre a sua jornada no mercado, as estratégias usadas na carreira do músico, as parcerias de Silva com as marcas e com artistas, os desafios e, também, como é a dinâmica de trabalhar com o seu irmão mais novo.

Nascido em uma família musical, Lucas teve na sua formação como músico a contribuição de Letir, sua mãe, que é professora de flauta doce, piano e musicalização infantil. O começo da carreira foi como cantor e instrumentista na Igreja Evangélica, onde seu pai e avô eram pastores. Dez anos depois, firmou a parceria com Silva, o seu irmão mais novo, que estava dando os primeiros passos no mundo da música.

“O começo da minha carreira como cantor foi tocando em eventos de jovens da igreja, conferências que aconteciam no Brasil todo, em 2002. Gravei meu primeiro disco em 2004 e a coisa foi seguindo seu rumo natural. Em 2012, eu já não queria mais nem estar à frente de um palco nem fazer parte da religião evangélica. Nessa altura, Silva estava iniciando a carreira e desde o início passei a colaborar em tudo. A virada começou aí: eu parando de cantar e indo cuidar das coisas dele.”

 

 

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O recomeço de um foi o começo do outro

A composição entrou na vida de Lucas Silva, em 2002, quando em uma noite junto a Silva, começaram a escrever canções ao piano. Depois de dez anos de experiência cuidando da própria carreira, de forma independente, passou a assumir todas as frentes da trajetória do irmão.

“Foi como se sempre tivesse sido. Ele precisava de alguém e eu também precisava de um recomeço, e me joguei de cabeça. E lá fui eu negociar com as gravadoras, fechar os shows que começavam a aparecer e organizar logística. Deu tudo certo, mas quem apostaria?”

 

 

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“Um completa o outro”

O empresário garante que a parceria entre os irmãos funciona porque um complementa o outro.

“Muita gente fica surpresa com a nossa relação, porque pelo que ouço geralmente não é muito simples essa coisa de trabalhar em família. Para você ter uma ideia, fazem quatro meses que decidimos morar juntos, justamente para ficarmos mais produtivos e estarmos sempre por perto um do outro. Estamos os dois querendo muito trabalhar e fazer coisas novas, então melhor momento não poderia existir. Talvez a gente nem tenha outra oportunidade assim no futuro. É uma parceria muito do bem. Um complementa o outro.”

 

Silva e o mainstream: uma parceria orgânica

A versatilidade, a pluralidade em estéticas e instrumentos aumentam a opção de caminhos para a carreira de Silva. Lucas acredita que, para além disso, não estar preso em uma fórmula é fundamental para que a fluidez musical do cantor alcance outros públicos e explore novas linguagens.

“Nós não planejamos muito essa chegada ao mainstream. A gente sempre quis acertar, mas algumas músicas virarem hit foi algo bem orgânico. Claro, ter a Anitta no disco super ajudou, mas algumas canções também aconteceram de forma muito espontânea.”

Questionado sobre Silva ter alcançado uma linguagem mais Pop com os últimos álbuns, o empresário discorda. Para ele, Júpiter (2015) é o que mais se aproxima dessa estética musical.

“Acho que o álbum mais Pop de Silva é o Júpiter. Só que ele estava à frente do que estava acontecendo no Brasil naquela altura. A gente até brincava que esse álbum tivesse sido lançado alguns anos depois seria um enorme sucesso. O importante ao meu ver, mais do que agradar ao mercado, é o artista estar feliz com o que está fazendo. Tem que ser natural.

E como se deu as parcerias de Silva com artistas “mais Pops”?

O compositor revela que as parcerias não estavam muito em mente em um primeiro momento. De acordo com ele, inicialmente não foram pensadas participações no álbum Brasileiro (2018). No entanto, naquela altura, ter um ‘featuring’ era algo praticamente obrigatório na indústria.

“Paramos para decidir quais seriam nossos singles e entendemos que a Anitta caberia muito cantando em ‘Fica Tudo Bem’. No início de 2018, ela já era a maior cantora do Brasil. Mandamos a demo achando que ela não toparia. Olha que autoestima baixa! Na mesma hora ela topou e mandou mensagem para Silva dizendo: ‘Hey, fica tudo ótimo! Eu amei a música. Vamos pensar num clipe?’. A gente quase caiu para trás e a coisa toda aconteceu.”

Silva e Anitta. Foto: Divulgação

Ainda de acordo com Lucas, a participação de Anitta no disco chamou muita atenção do público. No entanto, como não era um projeto de uma música só, a “coisa explodiu”.

“Outros singles vieram naturalmente. Não consigo imaginar ‘Um Pôr do Sol Na Praia’ tendo feat com outra pessoa que não seja Ludmilla. Tanto que ela adotou a música para o repertório dela. Cada música tem uma história e pede um caminho. Em nosso caso, a grande maioria das escolhas são por questões estéticas. Entender o que combina de verdade com cada uma delas. Depois, o próximo passo é fazer acontecer.”

Ludmilla e Silva. Foto: Divulgação

O mercado musical e o seus desafios

Segundo Lucas, o mercado musical é viciado em fórmulas. Mas, para ele, música é arte e, para existir de fato, precisa de uma assinatura. Portanto, para além de furar a bolha, o maior desafio é fazer com que as pessoas percebam e de fato escutem o que está sendo feito.

“Às vezes o grande público me dá a impressão de ser essa criança viciada em tecnologia e distraída. O mais difícil é conseguir essa atenção pelo caminho que realmente importa, que é o caminho da emoção. Então, quem for mais competente em fazer tudo isso junto, vai conseguir permanecer fora da bolha. Eu só insisto que tem que ser natural e dentro do limite de cada um. Música não pode ser um supositório. O ideal é que seja como um copo de Cola-Cola muito gelado no calor de 40 graus.”

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“Diversificar a receita é uma conquista de muito trabalho”

Silva tem uma postura editorial nas redes sociais com uma assinatura muito própria. Muito mais para o menos do que para o mais. É o jeito dele e eu sempre respeitei. Por um período eu achava que ele deveria postar mais como todo mundo, que não precisava ser tão criterioso. Mas não tem jeito, meu irmão tem muita personalidade e um gênio indomável (risos). Isso tem que ser respeitado. As marcas sempre procuravam a gente, mas não fechávamos nada. Batia na trave”, conta.

‘Não desenvolvemos nenhum projeto por ser hype ou cool’, revela Amanda Gomes do Grupo MAP

Segundo Lucas, Amanda Gomes, uma das sócias à frente da MAP Brasil, é peça-chave na carreira de Silva em relação às marcas. A empresária entendeu o posicionamento do cantor e as marcas que queriam estar alinhadas a ele.

“Apesar da nossa fonte de receitas principal ainda serem os shows, a publicidade vem logo atrás, seguido de perto pelos direitos autorais e licenciamento das músicas. Faz alguns anos que paramos de investir em nossos próprios produtos de merchandising, mas pretendemos voltar com tudo em breve. Os fãs me pedem o tempo todo.”

Amanda Gomes, sócia do Grupo MAP | Foto: Divulgação

“Algoritmos: Um grande laboratório”

Para o empresário, o minimalismo digital é um assunto que precisa ser discutido.

“Não dá para ficar refém de formatos e muito menos de algoritmos. A gente faz concessões aqui e ali, mas não dá para viver em função disso. Vira uma escravidão e um engessamento que não colaboram em nada com a arte de ninguém. A briga por views, por likes, por números faz parte? Faz. Mas se o artista não se atentar, facilmente, ele vira um rato de laboratório. Algoritmo ao meu ver é isso. Um grande laboratório”, analisa.

“Bloco do Silva” e “Silva Canta Marina”: os produtos abraçadas pelo mercado e público

Foto: Divulgação

Ainda de acordo com o Lucas, o “Bloco do Silva” foi pensado para um show específico e  tomou uma outra proporção por conta da receptividade do público e do mercado. Assim como “Silva Canta Marisa”, que inicialmente era um especial para o Canal Bis e se tornou um show, depois foi lançado como DVD, dando origem a duas turnês pelo Brasil e Portugal.

“O público e o mercado abraçaram completamente o “Bloco do Silva”. Tanto que hoje não é um show vendido. São sete, oito eventos que fazemos no verão, que são próprios. A pandemia bagunçou esse planejamento, mas a ideia é essa. Graças a Deus as nossas labels sempre deram muito certo e todas começaram parecidas. Mas, literalmente, tanto o Bloco quanto “Silva Canta Marisa”, a gente deixou acontecer naturalmente. Então se houverem desdobramentos para o futuro, vai ser também da mesma maneira”.

parceria MBP

Silva e Marisa Monte. Foto: Instagram @silva

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O que esperar dos próximos passos?

 

Quanto aos próximos passos, Lucas conta que quer se dedicar à carreira de escritor. Já com alguns projetos em curso, o empresário pretende mergulhar de cabeça nos textos. Além de estar começando a compor com outros artistas. No entanto, ele revela que ainda não pensa agenciar outros nomes.

“Compor música é algo que amo fazer e quero fazer cada vez mais. Em relação a Silva, temos alguns projetos para esse ano sim, mas estamos já com a cabeça em 2023/2024. Tem muita coisa para acontecer! Agenciar outros artistas? Às vezes penso nisso, mas acho um tanto complicado ainda. Teria que ser o match perfeito, e que aceitasse a minha colaboração em tudo, assim como é com meu irmão. Não faria pelo dinheiro não. Teria que ser algo que a arte vencesse primeiro, e aí depois a gente briga pela grana, como foi com Silva. Se for pra acontecer, vai acontecer”, conclui.

Lucas Silva. Foto: Manoella Mariano

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