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Especial 2010-2019: Os bastidores da música nacional

Refletimos sobre como produtores, diretores e compositores ajudaram os artistas nesse crescimento da cena musical do Brasil na última década.

Neste nosso especial de começo de ano e década, refletimos sobre o crescimento do cenário musical brasileiro nos últimos dez anos. Amparado na ascensão do funk, na internacionalização da música, no soft Pop, nos inúmeros artistas femininos e masculinos de nossa música, de nossa nova música, e nas drag queens, que ganharam mais espaço e reconhecimento, o Pop no Brasil tomou ares de produções gringas.

Mas há vários profissionais criativos por trás de todos esses artistas. São produtores, compositores, diretores, maquiadores, coreográfos, assistentes, empresários, assessores… Enfim, um incontável contingente de profissionais que amparam os artistas para que eles desenvolvam a sua melhor arte. Afinal, ninguém faz nada sozinho.

Enquanto no exterior os nomes de produtores e compositores (e às vezes até dos dançarinos e stylists) são amplamente divulgados e conhecidos pelo público há anos, no Brasil, essa cultura vem crescendo assim como a música Pop cresce em nosso país.

Com a democratização da informação na era da internet, finalmente esses profissionais criativos vão ganhando espaço sob os holofotes e tendo reconhecimento amplo pelo público (e consequentemente maior desejo dos artistas de trabalharem com eles).

Pablo Bispo, Ruxell e Sérgio Santos: os Dogz. (Foto: Reprodução/Instagram)

“Fico muito feliz das coisas estarem acontecendo, não só comigo, mas com todo mundo, com meus amigos”, afirma Pablo Bispo, um dos integrantes do grupo de produtores e compositores conhecidos como Dogz. Além dele, Ruxell e Sérgio Santos também fazem parte do grupo, que tem sucessos com vários artistas nacionais, como IZA, Gloria Groove e Anitta.

Além dos Dogz, produtores como Hitmaker, diretores como Felipe Sassi e coreógrafos como Flavio Verne são alguns dos nomes mais famosos do cenário musical brasileiro da atualidade e já ganham status de celebridades para o público, que não deixa de observar nenhum dos passos de cada um deles.

“São profissionais jovens e revolucionários, que pensam fora da caixa assim como as drag queens. É muito bom sonhar e realizar junto de pessoas que também acreditam que somos gigantes e podemos ser ainda mais”, afirma Gloria Groove.

“Sempre tivemos gente muito talentosa no Brasil e graças a Deus, o trabalho dessas pessoas está sendo visto!”, afirma Ludmilla.

E esse crescimento da música Pop, que mistura vários ritmos para crescer ainda mais, e consequentemente do interesse do público nos produtores e compositores dos trabalhos amados de seus artistas, tem sim um “ponto de virada”.

“Acredito que algumas músicas abriram as portas pra cena pop: Anitta com “Bang”, Karol Conka com “Tombei” mostraram que era possível fugir do estilos que dominavam e acertar”, afirma os meninos do Tropkillaz.

“Bang”, de Anitta, é também o ponto divisor de águas da cena Pop brasileira para Pablo Bispo, dos Dogz. “Do ‘Bang’ adiante, o cenário do Pop no Brasil deu uma virada, né? A partir dali, a Anitta conseguiu dar uma cara nova ao Pop do Brasil, bem brasileira… E aí foi meio gradativo, veio a Pablo, a Gloria, a Aretuza, a cena drag.. Depois IZA, depois a Luísa, a Lexa se encontrando.. Foi tudo quando o ‘Bang’ deu o start, todo mundo se encontrando, se abrindo. E isso ajudou a dar uma forma ao Pop como nunca tínhamos visto antes”, afirmou Pablo.

Esse crescimento também pode ser avaliado no produto final. A produção das músicas cada vez com maior qualidade, os videoclipes cada vez mais bem feitos, bem pensados, bem executados, com coreografias elaboradas, figurinos exorbitantes.. A música Pop brasileira tá pra exportação porque ela tem qualidade de produção gringa.

“Vejo uma evolução natural de artistas que foram influenciados por uma geração repleta de material gringo, hoje colocando em prática toda essa referência. Com as estruturas do pop mais fortalecidas, o preciosismo cinematográfico fez seu caminho até o universo de videoclipes, e devo dizer que nós drag queens tivemos grande participação neste avanço”, afirma Gloria Groove, uma das artistas com uma das videografias mais queridas da nossa cena.

“Eu amo que hoje em dia os artistas e diretores estão pensando cada vez mais em trazer a coreografia e inserir isso na divulgação das músicas… antigamente a gente não via a coreografia e o trabalho com dança em evidência como vemos hoje e eu sou muito orgulhoso de estar fazendo parte desse movimento, isso é ótimo pro mercado da dança no geral e enriquece o nosso Pop brasileiro”, afirma Flavio Verne, um dos coreográfos mais cobiçados pelos artistas Pop nacionais.

Tudo isso, é claro, não seria possível sem um bom entrosamento entre o artista e seus diretores, produtores, compositores, etc. “Ter entrosamento com o diretor é essencial, afinal, ele também é um artista e também busca imprimir muito de si. O clipe ideal é aquele que tem harmonia entre artista, diretor, narrativa e mensagem final”, afirma Gloria Groove.

“Eu posso muito dizer que o diferencial que me atrai muito no trabalho deles [Dogz e Felipe Sassi], é a humanidade, é o respeito pelo artista, é saber ler exatamente o artista e respeitar o que o artista tem pra dizer, que o artista é o dono da obra e que aquilo é uma colaboração”, afirma IZA, que tem grandes trabalhos com os Dogz e com Felipe Sassi.

Ciara, Felipe Sassi e IZA. (Foto: Divulgação)

“Todo tipo de trabalho é feito em equipe… este relacionamento é super necessário, é sempre uma grande troca. Eu falo o que acho, ouço diretor e sempre fechamos tudo juntos”, explica Ludmilla.

Para o futuro, os próximos dez anos são mais do que promissores, não só para os artistas da cena Pop brasileira, mas para os produtores. Nomes como Tropkillaz e os próprios Dogz já colaboraram com produtores gringos, como o Major Lazer e Diplo. Mas o crescimento deverá ser ainda maior.

“Sinto que o âmbito pop brasileiro tem se moldado a partir de uma tendência de artistas com extrema autenticidade, recorte social/político e provocação visual. Muito dificilmente tem conseguido se estabelecer algum artista com discurso antigo, vão e repetitivo. Isso eu acho que é uma característica do futuro do pop brasileiro”, afirma Gloria Groove.

“A gente ainda tá muito no começo pra ter uma cena diversificada assim como tá lá na gringa. O Pop é algo muito aberto, o rap faz parte do Pop, o funk faz parte do Pop aqui no Brasil… Ainda dá pra gente descobrir muita coisa. E a gente tem muita gente boa aqui, sabe?”, afirma Pablo Bispo.

E que nesse futuro, a música Pop brasileira ganhe ainda mais espaço, mais reconhecimento e que o mundo inteiro possa curtir um trabalho artístico brasileiro de qualidade. Nas palavras de Gloria Groove, “Não sabemos do que é capaz a próxima geração de artistas, cantores, drags, produtores, videomakers… e eu é que não vou subestimar o poder do futuro!”.

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