“As cabeças de onde nasceram o funk, o blues, o hip-hop, o samba, o rock, o pagode, desta vez, pensando para marcas”, é assim que a Gana se define. Trazendo um conceito de conversa com diversas línguas das periferias do Brasil, a agência, formada por uma equipe 100% preta, desponta no mercado e assina grandes projetos como o podcast mais ouvido do país, o Mano a Mano, original Spotify, a campanha da Kuat com o rapper mineiro Djonga e a recente do Facebook com a Feira Preta.
Fundada por Felipe Silva, Ary Nogueira e Angerson Vieira, a agência tem um argumento forte e potente de conhecer as estratégias para conversar com o público negro por ser desse público. “Somos maioria no país. Nossa cultura cria ideias que correm o mundo, quebram a internet, lotam os bailes, ganham chuvas de likes. Somos multiculturalidade e vivência”, destacam em seu portfólio de apresentação.
O POPline.Biz é Mundo da Música bateu um papo com Angerson Vieira, para aprofundar nos cases da agência e debater um pouco mais sobre a estreita relação da publicidade com a música. Para ele, “a criatividade preta é hit“.
“É consumida em todos os lugares do mundo. Blues, Samba, Funk, Hip Hop. O que o preto cria é sucesso nos bailes e nas timelines. Qual marca não quer toda essa potência trabalhando para ela? Somos sim, uma agência 100% preta. Mas não queremos falar só disso, porque temos capacidade de muito mais”, destaca Angerson.
E completa: “Queremos e podemos falar com a maior parte da população espalhada em cada canto desse país imenso. Gana é uma agência 100% preta e, justamente por isso, 100% do mainstream”.
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Confira os melhores momentos da entrevista:
Biz: A relação da música com a publicidade sempre teve um approach diferenciado, mas de uns tempos para cá percebemos um crescimento exponencial. Como vocês enxergam essa evolução, a que creditam o crescimento e como buscam posicionar a Gana nesse processo?
Angerson Vieira: Vamos ser sinceros: ninguém quer consumir propaganda. A gente dá skip no bumper ad. Vai pro Instagram no intervalo do telejornal. Num mundo com tantos estímulos, as pessoas são livres para escolher o conteúdo que vão consumir – e naturalmente, muitas dessas escolhas vão ser o entretenimento. O clipe do meu artista favorito. Aquela playlist que compila as melhores músicas daquele artista que tá no hype.
O que resta à propaganda? Se aproximar disso. Do conteúdo que entretém as pessoas. E a música é uma resposta para isso. A Gana nasce com esse pensamento e coloca isso em prática em todo job. Lançamos Kuat no Nordeste com uma música autoral, celebrando o São João em casa. A música foi parar no Spotify. Virou case em outra plataforma de streaming, o Sua Música. E rendeu à marca, em um mês, resultados de um ano.
Biz: Falando sobre música, e sobre os projetos recentes com Mano e Djonga, você acredita que o mercado publicitário está com um olhar mais atento aos artistas negros e o no potencial de influência que eles possuem?
Angerson Vieira: O mercado está sim, olhando para o preto. Mas que olhar é esse? Um olhar oportunista? Ou aquele olhar que usa o preto como um token para validar os movimentos da marca/agência? É preciso olhar para o preto por completo, para a sua capacidade criativa e estratégica.
É preciso olhar, mas principalmente, ouvir e escutar. Do contrário, ninguém evolui.
Biz: Fala um pouco sobre a construção das duas últimas campanhas que fizeram com a Kuat e a do Mano com Spotify? Como o briefing chegou e como vocês resolveram o job?
Angerson Vieira: Mano a Mano é uma resposta a uma necessidade do Brown de levar informação às pessoas. Não é à toa que o conteúdo é 100% gratuito – ele foi feito para chegar a todos e todas. Agora, uma voz que sempre foi referência às classes mais baixas está num novo lugar, aberta ao diálogo. Mas contundente como sempre.
Sobre Kuat, o desafio era lançar o refrigerante em MG se conectando com as regionalidades do lugar. Escolhemos um cara que leva o jeito e o sotaque mineiro para o mundo, mas que ao mesmo tempo tem os pés muito bem fincados na tradição, Djonga.
O encontro dele com a avó Dona Maria é doce, sensível e muito gostoso. Mas mais do que isso: representa o Brasil de verdade, que não dispensa um colo e uma comidinha de vó. Quando a gente fala de essências como essas, não tem quem não se identifique. E esse é o motivo do sucesso da campanha.