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Eli Iwasa: prestígio internacional e a pluralidade artística em 20 anos na música

Em entrevista ao POPline.Biz, Eli Iwasa fala sobre suas inúmeras facetas como empresária, DJ, apresentadora, modelo e uma das maiores referências femininas da música eletrônica brasileira

Eli Iwasa prestígio internacional e a pluralidade artística em 20 anos na música
Eli Iwasa, artista, empresária, modelo e uma das principais fomentadoras da música eletrônica no Brasil. Foto: Renata Wajdowicz/Divulgação

“Ser DJ é uma arte”, destaca Eli Iwasa. A sua frase aponta o fio condutor de uma trajetória profissional que conta com mais de 20 anos e inúmeras facetas: empresária, cantora, apresentadora (Podcast PLAY), modelo na agência Ford Models e uma das maiores referências femininas da música eletrônica brasileira em escala nacional e internacional.

Em meio a uma agenda de apresentações aquecida, Iwasa levou o techno a grandes festivais tradicionais de música, como o Rock in Rio, e eventos especializados em dance music como DGTL, Photon, Gop Tun, Photon, Frecuencias no Chile e Baum na Colômbia. Graças a esse trabalho de consistência, ela ganhou um episódio na série “Quando elas tocam” do Canal Bis e foi indicada ao prêmio de “melhor DJ”, por três anos consecutivos (2019, 2020 e 2021) pelo Women’s Music Event Awards, maior premiação feminina do país, que também trouxe Eli como palestrante.

A empresária ainda administra três projetos no interior de São Paulo: o premiado Club 88, famoso na região de Campinas por permanecer há anos no prédio do Jockey Club; o Caos, que em quatro anos se tornou ponto de encontro de artistas internacionais e nacionais do meio e a recente Galerìa 1212, que abriga música, moda e lifestyle, com um espaço multiuso e compartilhado, fomentando os profissionais do interior paulista (tattoo, moda, música e gastronomia).

Eli Iwasa e os sócios da Galeria 1212 em SP
Eli Iwasa e os outros sócios da Galeria 1212 em São Paulo. Foto: Divulgação/Galerìa 1212

O POPline.Biz é Mundo da Música entrevistou Eli Iwasa, a profissional multifacetada que pretende fomentar o seu legado na música e a representatividade feminina em negócios do entretenimento, que contou mais sobre os seus projetos e carreira.

“Quando comecei, tinha pouco dinheiro e reconhecimento na cena (que tava começando no Brasil), e para muita gente, não pareceu uma boa escolha. Para mim, não havia outra a não ser música. Nunca fui uma pessoa de grandes estratégias ou planejamento, faço o que gosto, o que acredito, e tudo aconteceu de uma maneira natural. A grande diferença sempre foi fazer pelos motivos que me parecem certos, com ética de trabalho, sim, muita dedicação e determinação, porque nem sempre é fácil, os desafios são grandes, ainda mais para uma mulher”, revela Iwasa.

Para a artista, um dos principais nomes da música eletrônica brasileira em escala internacional, “o reconhecimento é consequência dessa construção de tantos anos. No fundo, sou a mesma menina de 20 anos atrás, que ama música, essa comunidade, o que ela proporciona e significa, que faz o trabalho da mesma maneira apaixonada do comecinho da minha carreira.”

Eli Iwasa, artista, empresária, modelo e uma das principais fomentadoras da música eletrônica no Brasil
Eli Iwasa, artista, empresária, modelo e uma das principais fomentadoras da música eletrônica no Brasil. Foto: Renata Wajdowicz/Divulgação

Indicação ao WME Awards e o equilíbrio nas diversas frentes da carreira

Em 2021, Eli Iwasa concorreu pela terceira vez consecutiva ao WME Awards, premiação que destaca as profissionais mulheres da música. A artista comentou o que significa ser listada tantas vezes como referência entre as DJs e como premiações como essa podem contribuir para impulsionar novas profissionais na indústria.

“O WME é muito mais que uma premiação individual – ele dá visibilidade a mulheres, entre artistas e profissionais nos bastidores, de uma maneira que inspira as transformações não só no mercado –  principalmente, na sociedade. Quantos curadores de festivais e clubs vão pensar em seus line-ups para que sejam mais diversos e inclusivos depois do WME? Muitos. Receber esse tipo de reconhecimento é maravilhoso, mas é sobre todas as minas incríveis que fazem o mercado de música acontecer, como dar espaço e criar oportunidades também”, diz Iwasa.

Com inúmeras atuações simultâneas, equilibrar a balança entre as atividades e a vida pessoal é um dos principais desafios. Questionamos Iwasa como ela divide seu tempo para que as várias facetas sejam trabalhadas de forma efetiva e de impacto a longo prazo. Para a empresária, “o maior desafio não é exatamente dividir meu tempo entre essas facetas, e sim, encontrar o equilíbrio entre o trabalho e minha vida pessoal.”

“Cada aspecto do meu trabalho está diretamente ligado a outro, e conto com pessoas maravilhosas ao meu lado – só assim é possível me dedicar a tantos projetos diferentes com entrega e consistência ao longo dos anos. Desde minha agência até meus sócios nos clubs. Formar um time de confiança é fundamental, e ele me ajuda muito na tomada de decisões. Hoje posso escolher fazer apenas o que gosto, e focar meu tempo naquilo que realmente me emociona”, afirma Iwasa.

Do Rock in Rio à inovação digital, a artista brasileira Eli Iwasa, reconhecida como uma das maiores DJs do país, segue se reinventando e surpreendendo, no mercado da música e do entretenimento
Do Rock in Rio à inovação digital, a artista brasileira Eli Iwasa, reconhecida como uma das maiores DJs do país, segue se reinventando e surpreendendo, no mercado da música e do entretenimento. Foto: Renata Wajdowicz/Divulgação

Mas, claro, que diante de uma personalidade inquieta, não foi uma surpresa quando Iwasa revelou que “a grande questão é que quero fazer muitas coisas (risos)“. A profissional da música acrescenta: “tenho um senso de urgência, de não deixar nada para trás, de fazer o que me dá vontade… e quando vejo, tô com uma dezena de projetos em andamento, entre gigs e a vida pessoal que sofre para caramba. Não é fácil achar o meio termo, mas preciso do meu tempo com família (sou muuuuuito família), amigos, bem quietinha, no meio dessa loucura toda. E não tem fórmula mirabolante: é bloquear a agenda mesmo para isso, e priorizar esse momentos”, analisa.

Destaque como DJ e novos projetos

Com uma visão muito clara do seu objetivo artístico, Eli Iwasa explica o porquê que seu perfil nas plataformas digitais como o Spotify, por exemplo, não possuem um volume de produção, apesar de ter trabalhos como cantora juntamente com o Bleeping Sauce.

Sou essencialmente uma DJ, e nunca quis parecer ser outra coisa. Sou muito honesta em relação a isso. Vou para o estúdio para gravar como Bleeping Sauce, mas o que me move mesmo é compartilhar música que amo, e ver uma pista dançar”, afirma Iwasa.

Ser DJ é uma arte, e não, não é qualquer um que vai ser um bom artista, leva muito tempo para uma pessoa amadurecer como DJ. Qualquer um pode tocar por 60 minutos, fazer umas mixagens simples, e fazer a pista explodir com uma sequência de hits, mas quantos DJs são capazes de contar uma história, passear por diversos estilos, te emocionar e surpreender por várias horas?”, analisa Eli Iwasa.

Eli Iwasa permanece ativa há mais de 20 anos com importantes marcos na música
Eli Iwasa permanece ativa há mais de 20 anos com importantes marcos na música. Foto: RECREIO Clubber/Divulgação

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No último dia 28 de dezembro, Eli Iwasa lançou no palco do Warung Beach Club o projeto audiovisual “Closer” junto de Bruna Isumavut e Priscila Prestes. O objetivo central de “Closer” é promover um profundo mergulho em seus universos musicais traduzidos através dos formatos de all night long e long sets. Além de buscar a “proximidade” tão desejada após quase dois anos em isolamento social, o projeto reúne o propósito de dividir espaços de forma igualitária e segura, fortalecer relações e criar pontes. 

O trabalho visual da light designer Bruna veio para fornecer a ambiência visual marcante e inovadora, prestando homenagem através de referências às pioneiras Mary Hallock-Greenwalt – conhecida como primeira mulher a manipular simultaneamente luz e som, há mais de 100 anos – e Loie Fuller, uma das primeiras iluminadoras da história.

Greenwalt afirmava que as luzes são ótimas ferramentas para expressar as emoções humanas, bem como aumentar a imersão na música e dança. Dessa forma, a imersão foi gerada a partir do uso estratégico de espelhos, projeções de conteúdo visual áudio-reativo, enquanto a composição de palco foi feita com equipamentos e técnicas analógicas — retiradas do espectro das artes cênicas — remetendo à iluminação clássica pretendida.

 

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“Cheguei em um momento da carreira em que muitas oportunidades me são dadas. Toco nos principais clubs e festivais do país… qual o sentido nisso tudo se não compartilhar esse espaço com outras pessoas? Numa cena que é predominantemente masculina, em que enfrento machismo e misoginia todo santo dia, quis dividir esse espaço com outras mulheres. Eu não tive isso e como foi difícil. Representatividade importa porque inspira outras meninas a correrem atrás de seus sonhos, a se sentirem livres e confiantes para serem elas mesmas, e se puder plantar uma sementinha em cada cidade que passar, sei que a Closer vai ter cumprido seu papel”, declara Iwasa.

Promovendo trocas criativas entre profissionais mulheres e um mergulho em seus universos musicais, o projeto audiovisual "Closer" inédito rodará o país
Da esquerda pra direita: Bruna Isumavut, Eli Iwasa e Priscila Prestes juntas no projeto “Closer”. Foto: Jorge Alexandre/Divulgação

Com direção musical por Eli Iwasa, “Closer” receberá uma artista convidada a cada apresentação, passando por diferentes regiões do país.

“Ao longo dessa jornada de duas décadas trabalhando com o que eu gosto, e vendo hoje o quão frutífera nossa cena nacional se tornou, posso dizer que nosso país me orgulha cada vez mais. É gratificante fazer parte do boom da música eletrônica no Brasil, como artista, empresária e mulher”, finaliza Eli Iwasa.