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Briga entre fandoms e “haters” na internet afeta vida de artistas: “me fez querer deixar de cantar”, diz Mel (ex-Banda Uó)

Anitta, Ludmilla, Luisa Sonza, Aretuza Lovi e outras cantoras também já sofreram com ataques virtuais

As redes sociais muitas vezes se transformam em um poço de ódio. São ofensas gratuitas, criticas e grosserias para todo lado. Nem os artistas escapam dos chamados “haters”, aquelas pessoas que disseminam ódio a tudo e todos na internet. Alguns famosos perdem a paciência e respondem os comentários. Outros ficam chateados, preocupados ou, em casos extremos, apagam seus perfis e até cogitam tirar a própria vida.

Basta ser uma pessoa pública e ter alguma relevância na mídia para rapidamente se tornar alvo de comentários maldosos nas redes sociais ou virar motivo de piada.

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Recentemente, MC Loma postou uma foto de biquini no Instagram e recebeu milhares de críticas. “Você é muito gorda e feia, por que não se mata?”, dizia um dos inúmeros comentários. Triste com a repercussão, a jovem cantora gravou um vídeo para alertar aos seus mais de 6 milhões seguidores o que deveria ser óbvio: “infelizmente eu sou humana e isso mexe muito comigo”.

Quem também viveu momentos de dor por causa de comentários de ódio na internet foi a cantora Mel, ex-vocalista da Banda Uó“Já fiquei alguns dias me sentindo um lixo. Isso me gerou pensamentos negativos e me fez querer deixar de cantar. Esse tipo de mesquinharia da internet mata muitas pessoas e muitos sonhos”, disse.

Alvo frequente de ataques, Mel disse que isso já gerou pensamentos negativos (Foto: Divulgação)

Mel recorda que durante toda sua carreira enfrentou diversos ataques gratuitos.

“Não tenho uma lembrança só. Tive durante minha carreira várias pessoas e vários comentários desnecessários que me causaram muita dor até que eu compreendesse o vazio de algumas pessoas. Muitas delas só querem a maldade e como estão cheias disso fazem ataques deliberados”, conta.

A drag queen Aretuza Lovi é outra vítima frequente dos “haters” na internet. “Essas pessoas são ruins e é só isso que elas têm a oferecer. São pessoas desrespeitosas, vazias e frustradas. A gente só entrega para as pessoas o que o nosso coração está cheio e se você vai na internet ou em qualquer lugar e despeja ódio é porque o seu coração está cheio de ódio”, acredita.

Aretuza Lovi acredita que amor e respeito deveriam ser prioridades (Foto: Divulgação)

Para ela, o amor e respeito deveriam ser prioridade, mas isso, na sua visão, não é levado a sério, muito menos nas redes sociais.

“Eles deveriam parar para pensar que além do artista existe um ser humano, uma história, uma família e que quando eles atacam o meu trabalho, eles atacam não só a mim, mas toda uma equipe que trabalha para manter aquilo funcionando”, complementa.

Briga entre fandoms

Os artistas do mundo da música são alvos frequentes de agressões nas redes sociais. Boa parte delas é motivada por disputas entre os fã-clubes. Os fandoms, como são conhecidos, costumam comprar briga por melhores posições em rankings musicais e até mesmo para defender a reputação ou trabalho de seu ídolo.

Há menos de um mês, por exemplo, a funkeira Ludmilla sofreu ataques racistas de supostos fãs de Anitta depois de anunciar o lançamento do single “Cobra Venenosa”. “Não vai ser a primeira e, infelizmente, nem a última vez que terei que lidar com comentários racistas e respondê-los. E para quem insiste em me atacar desta forma, só tenho uma coisa a dizer: não vou me esconder”, declarou a cantora, na época.

Anitta, que condenou as agressões, também viu suas fotos publicadas nas redes sociais serem infestadas de comentários depreciativos após o caso.

Ludmilla, Luisa Sonza e Anitta também sofreram criticas ou ações de haters na internet (Fotos: Divulgação)

Mais um alvo recente dos “haters” foi Luisa Sonza. Seu clipe de “Flores” recebeu chuva de “dislikes” de supostos fãs de Whindersson Nunes depois que ela simulou um affair com Vitão numa estratégia de marketing para promover a música no lançamento. “Eu quero que vejam como as mulheres são tratadas até quando só estão fazendo o seu trabalho nesse país”, disse a cantora na ocasião.

O psicólogo Eugênio Engelhardt explica esse comportamento. Segundo ele, uma vez que o fã se identifica com um artista, ele desenvolve um sentimento de proteção. Quando ele sente que esta pessoa é ameaçada, reage. “O ódio e a raiva, nesses casos, geralmente surgem desse movimento de proteção. Tudo que nos soa diferente ou nos ameaça, causa medo ou estranhamento”, diz.

Além disso, ele crê que esse tipo de ataque, muitas vezes, é sugestionado.

“Quando eu faço parte de um fandom, encontro meus iguais ou pessoas que pensam como eu. Com isso, o grupo acaba me dando voz. Uma vez que  estamos em grupo podemos ser sugestionados. Em casos de ataques de ódio, por exemplo, o pensamento pode ser: ‘se eu não brinco e não faço nada, estou perdendo algo. Isso mexe com a sensação de pertencimento”, justifica.

Visão multi

A psicóloga e pesquisadora Andrea Jotta, do Laboratório de Pesquisa da Psicologia em Tecnologia Informação e Comunicação da PUC de São Paulo estuda o impacto da internet na vida das pessoas.

Ela explica que os “haters” costumam ter uma visão mais dualista – e que sempre exisitiu – onde quando se tem um a favor  o outro é contra.

Mas, segundo ela, estamos vivendo em um mundo onde as tecnologias e as inteligências artificais estão crescendo exponencialmente e precisaremos ser múltiplos. Com isso, acredita, a especificidade vai se perder com o tempo.

“A visão saudável do ponto de vista psiquíco é a visão multi. Isso significa que o fato de eu não gostar de sertanejo, não precisa me fazer ser agressivo com aquilo. Eu simplesmente identifico que não é o que o gosto e está tudo bem. Ninguém é obrigado a nada. Em um mundo onde tedemos a sobreviver numa colaboração, essa visão de que o outro está errado e você está certo só vai te fazer sofrer, se isolar e ficar em paredes entre iguais”, afirma.

Para chegar lá, contudo, ainda é preciso um trabalho fundamental de educação digital, assunto que ainda é muito pouco discutido.

“Os smartphones tiraram o computador de casa e ele passou a ser portátil. Hoje, cada pessoa tem um celular conectado à internet. O ser humano cresce e vai aprendendo ao longo da vida o que é legal ou não. No caso da internet, como é novo, não fomos educados. Não tem uma tem lei, por exemplo, que diga que ele não pode xingar alguém na rede social”, conclui.

Boicote ao discurso de ódio

Um movimento de boicote ao Facebook, Instagram e outras redes sociais foi feito por anunciantes por causa do discurso de ódio na internet. Há meses, algumas empresas como Coca-Cola, Heineken, Adidas, Starbukcs, Unilever, entre outros estão cancelando campanhas publicitárias na rede social.

As companhias cobram da plataforma providências contra a propagação de conteúdo racista e demais considerados como discurso de ódio e, inclusive, pedem de volta o dinheiro investido em propaganda no serviço.  Mais de 900 empresas aderiram à ação.

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