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Amanda Faia: está na hora de quem reluta admitir que o legado Rihanna vai além da música


Caiu para mim a missão de ler, ver fotos, vídeos e produzir o material aqui para o POPline dos dois eventos da Rihanna esta semana. Na terça-feira ela movimentou a imprensa internacional com o desfile da nova coleção da linha de lingerie, a Savage x Fenty, e nesta quinta, certamente arrecadou milhões com a quinta edição do evento beneficente Diamond Ball. Em ambos, a oportunidade de perguntar sobre o nono álbum da carreira da cantora, parcerias musicais e até Super Bowl foi aproveitada e a resposta veio debochada “estilo Rihanna”.

Rihanna no Annual Diamond Ball / Foto: Getty Images (uso autorizado POPline)

Entendo as cobranças de alguns fãs. Rihanna completa em janeiro de 2020 um intervalo de quatro anos sem álbum, mas, sinceramente? Há períodos “entre álbuns” maiores. E não é que a gente ficou órfão da cantora. Músicas dos oito discos lançados em 14 anos de carreira ainda tocam incessantemente nas rádios e do “ANTI” pra cá, foram lançadas ainda parcerias com o N.E.R.D. (grupo do Pharrell), Drake, Future, Calvin Harris, DJ Khaled e Kendrick Lamar.

Será que não está (finalmente) na hora de, quem ainda não conseguiu ver, enxergar Rihanna além da música? E perceber que o legado da cantora/empresária vai além do que está nas plataformas de streaming e lojas? O papel de Rihanna como empresária é muito maior do que colocar seu nome atrelado a uma linha do que quer que seja. O legado é reflexão e o mais importante… INCLUSÃO.

Desde que virou manchete no mundo dos negócios com a Fenty Beauty, Rihanna colocou um holofote na necessidade de um potencial consumidor que não era visto e obrigou grandes marcas do varejo de cosméticos a correrem atrás. De uma vez só 40 tons de bases para o rosto foram lançadas, outras 10 chegaram ao mercado tempos depois. Um lançamento que ganhou da revista TIME o título de “melhor invenção de 2017”. De uma hora pra outra, marcas agora concorrentes foram questionadas e obrigadas a reconhecer que, principalmente para possíveis clientes negras, elas deixavam a desejar. Na verdade, muitas mulheres negras e de pele mista eram totalmente invisíveis perante a indústria. O resultado veio em milhões. Em um mês, a Fenty Beauty já valia US$ 72 milhões. Este ano, 50 tons diferentes de corretivos também foram lançados – uma forma de entregar às interessadas um “duo” de base-corretivo apropriado – e a Forbes decretou Rihanna a nova celebridade bilionária do mercado.

Com Rihanna, o discurso inclusivo não é para a mídia, se mostrar uma mulher consciente e transformar isso em cifras. Para as suas empresas, ela seleciona a dedo modelos de corpos diferentes, tamanhos, idades, cores e com ditas imperfeições pela predadora indústria da moda. Quem não se recorda da modelo grávida que desfilou para a Saxage x Fenty ano passado, surpresa por não ter sido demitida e a fala da empresária: “esse desfile é para celebrar a mulher em geral e nenhuma deveria ser deixada de fora, nunca definitivamente porque ela está prestes a dar a luz“? Ou as fotos cruas, não retocadas no Photoshop para divulgação da linha de luxo Fenty? Linha, aliás, que deu à Rihanna título de primeira negra à frente de uma loja de luxo em Paris. Ou em um patrocínio para um concurso de beleza negra LGBTQ?

Nem todo artista consegue ser plural. Ou sabe usar a sua voz para comandar uma revolução, para fazer refletir sobre um assunto importante. Rihanna pode. E de quebra ainda lucra milhões.

O “R9” vai sair e eu acredito que, assim como “ANTI”, ele não vai vir simplesmente por vir. Não vai ser lançado apenas para que as cobranças recorrentes nas redes sociais cessem. Rihanna amadureceu e tem algo a dizer em todos os aspectos artísticos de sua carreira – você reclame ou não.