A profissão artística e o significado de sucesso, que é pessoal e não necessariamente correlacionado aos holofotes e números milionários na plataformas e redes sociais, geram sempre boas discussões em relação às expectativas que são criadas, principalmente, aos novos artistas. O cantor, compositor e também vocalista do Barão Vermelho, Rodrigo Suricato, refletiu sobre esse cenário em uma publicação feita ontem (30) em suas redes sociais.
O artista fez uma resenha comparativa entre a série documental “The Beatles: Get Back” disponível no Disney+ e o documentário da Banda Queen. Para o artista, o documentário dos Beatles foca nas relações humanas que entrelaçam a banda, enquanto a sua produção musical permanece muito boa; já o do Queen na “disneylização da carreira artística”, em uma espécie de fábula sobre os desafios de uma carreira na música.
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“Normalmente a gente começa a nossa carreira artística acreditando em histórias como a do Queen, que é um grande conto de fadas, onde realmente existem dificuldades, mas, que vale a pena para estar naquele estádio. Mas, aquilo tudo é uma grande exceção e é uma história contada de uma forma bem blockbuster”, diz o músico.
“Eu acho que a gente precisa parar, de uma vez por todas, de glamourizar a nossa profissão, principalmente entre a nossa classe, para as pessoas que estão vindo. Para eles, você mostra duas situações: a dos Beatles, na qual você precisa negociar o tempo todo seu ponto de vista, você ser mal interpretado durante esse tempo todo, pessoas querendo dinheiro (…) enfim, as relações humanas, é quase uma proporção de 80×20, 80% de coisas que a gente não está muito a fim de fazer; para 20% de coisas que são interessantíssimas“, analisa Suricato.
De acordo com o cantor e compositor, a profissão artística “é um trabalho como qualquer outro e a gente precisa dizer isso para as pessoas que estão chegando“. O músico afirma que adoraria saber quando estava iniciando a sua carreira que não seria dessa forma “fantasiosa Queen de ser”. Para Suricato, é necessário ter essa responsabilidade com os novos artistas, que não podem ser iludidos sobre o que encontrarão na carreira artística.
“A gente ficar jogando confete em nós mesmos, sobre conquistas que acabam passando pelas nossas mãos e na semana seguinte, ninguém lembra disso, nem você. Então, a gente precisa ter um pouquinho desse cuidado, precisamos falar mais sobre isso, porque isso afeta diretamente a saúde mental dos seus criadores. Eu acho que a saúde mental dos artistas, criadores, ela precisa entrar na pauta de qualquer empresa, na agenda de debates, nossa da classe artística e em qualquer lugar que nos promova”, reflete Suricato.
O músico segue com a sua reflexão e questiona: “será que a gente escolheria realmente a profissão de artista, se tivéssemos um panorama um pouco mais justo da proporção entre fantasia e realidade?”.
“Mas, existe uma parte que é maravilhosa e valiosíssima e é sobre ela que a gente precisa falar. Como é que a gente curte o processo? Como é que a gente curte o caminho? Isso é importante da gente falar e incentivar o coleguinha nessa busca, do processo, da labuta diária, da lapidação do próprio eu e não sobre o ‘gostar da sua profissão acima de todas as coisas’ e achar que isso é um conto de fadas, uma fantasia e na verdade, não é. A proporção é muito injusta, a gente precisa equalizar um pouquinho essa balança”, finaliza Suricato.
Em sua publicação, o artista recebeu o apoio do grupo O Teatro Mágico, que disse: “Disse tudo, camarada! Papo reto e real… a caminhada é árdua! Por que e pra quê fazemos o que fazemos? Tô contigo nesse debate”. Outros artistas e profissionais do entretenimento reagiram na publicação do Rodrigo Suricato e refletiram sobre as expectativas e a realidade da indústria do entretenimento.