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Pride POPline: Sabrina Sister estreia nova música e fala sobre a importância do entretenimento para a conscientização


Em mais um Pride POPline, hora de chamar Sabrina Sister para a conversa. A paulista é mais uma artista que procura seu lugar ao sol no mundo do entretenimento e que, além de ter que transpor as habituais barreiras dadas a qualquer iniciante, também tem que enfrentar questionamentos ao trilhar a arte drag queen.

Amiga de nomes que despontam no cenário, Sabrina é outra personagem que insiste que fazer alianças é a melhor maneira de se fortalecer e passar a mensagem da liberdade de expressão. E além do pop, surpresa para aqueles que a seguem: a gente estreia música nova!

Olá, Sabrina! Que tal começar se apresentando para os leitores do POPline?
Queria usar uma frase cult, mas o máximo que vem na minha cabeça é “quem se descreve se limita”. (risos) Sou Kyn Marques, um garoto de 24 anos da Zona Leste de São Paulo, mais precisamente da Penha, como minha própria música diz. Sou formada em Rádio e TV e “fãzoca” da Britney Spears.

Como a cultura drag e a “Sabrina” entraram na sua vida?
Eu já tinha ouvido falar de drag na minha adolescência, mas, como muita gente, essa arte se tornou acessível a mim com o boom de “RuPaul’s Drag Race”. Porque decidi me montar? Eu sempre trabalhei com entretenimento, fiz várias peças de teatro, eventos e afins… Cheguei a participar de um concurso na TV para montar uma boyband que prefiro deixar pra lá esse fato… Cheguei a aparecer na revista Capricho e sempre com aquela identidade de garoto do momento, o que não me permitia entreter o público da forma que eu queria. Queria ser “entertainer”! Queria ser uma Britney, sei lá! Mas como menino, eu tinha que assumir algumas posturas que não faziam parte da minha realidade e quando conheci a arte drag, eu vi que eu poderia acessar o universo feminino e fazer o que eu tinha vontade. E foi assim que surgiu a Sabrina!

Além do RuPaul e Britney, quais são suas outras inspirações?
Fui me inspirando em várias artistas que eu sentia conexão, acho que nem preciso falar que Britney é uma né? Mas óbvio que me inspiro no cenário nacional, como Anitta, Ludmilla, Lexa, Valesca.. a Lia [Clark], Aretuza [Lovi], Kaya [Conky], Pepita, Pabllo [Vittar], Banda Uó! Falar que a Gloria [Groove] também é, vocês vão achar complô? (risos) Amo muito e escuto muita coisa e tudo pra mim é referência: Kevinho, WM, Luan Santana, Simone e Simaria, Kelly Key, Belo, Pixote, Turma do Pagode. Sim. Sou bem pagodeira também! Um churras na minha laje sempre tem uma bomba playlist de funk e pagode! Obviamente que as mulheres a minha volta me inspiram! Minhas tias, minha mãe e primeiramente a minha avó, que ama a cor vermelha, principalmente batom. Herdei dela isso!

E quando foi que você resolveu se arriscar na música?
Cantar pra mim é parte do entretenimento! Quero entreter com algo que seja meu e me represente. Foi assim que quis fazer minha própria música.

“Só pelo fato de eu ser um homem que sai de casa de peruca e salto pra trabalhar já é militância. Quero que as coisas sejam mais fáceis para as próximas gerações.”

E como a música “Baile da Sabrina” chegou até você?
Eu escrevi uma primeira letra e fui conversar com o Jay e o Cita, da OQ Produções, responsáveis pela minha faixa e pelo clipe. Eu já conhecia o trabalho deles (inclusive fez parte da minha vida com o hit “Ah os muleque é liso” do MC Rodolfinho) e fui apresentar a ideia. Eles nunca tinham trabalhado com o drag ou algo relacionado, mas abraçaram a causa porque arte é arte e música é música. A letra foi se adaptando no processo e assim chegamos ao que vocês podem ouvir!

A letra é bem pessoal…
A letra fala muito sobre mim, sobre o que eu gosto. A coreografia tinha tem que eu adoro, a Flavia e a Camila foram impecáveis e as dançarinas, sensacionais. Foi tudo gravado na Penha, na minha casa, com meus amigos ali… Só não era meu aniversário! (risos) O dia foi tenso, choveu a semana inteira. Mudamos a segunda parte do clipe no dia, na hora e no fim deu tudo certo e ficou lindo. Tenho orgulho do corre que foi e do resultado, principalmente sendo meu primeiro trabalho e num nível bacana de produção. Tava todo mundo empenhado, uma energia incrível. O Caio, meu produtor e braço direito (e esquerdo), tava junto com a minha família inteira no maior suporte durante as 13h de set. Até o diretor de arte, Pedro Lopes, acabou fazendo parte do elenco. E eu maluca, tentando não assumir a posição de produtora do clipe e fazer tudo! Eu tinha tudo na minha cabeça, quase fiquei louca esse dia.

Como está sendo para você a repercussão de “Baile da Sabrina”?
Na minha opinião, deu certo! As pessoas que escutam gostam da música e ficam com ela na cabeça. Isso pra mim é missão cumprida! Fico sempre muito feliz quando recebo uma mensagem com um feedback novo, falando que gostaram… Quero que cada vez mais pessoas ouçam o ‘Baile’ e entendam a vibe, a mensagem que tem ali! Toca no fervo, toca na laje. É pra todo mundo ouvir, em qualquer lugar. Principalmente fazendo a mãozinha do “assim, assim” (risos).

“Pra mim, não há concorrência ou porque segregar. Somos mais forte juntas. E quanto mais fortes, melhor pra todo mundo.”

Você tem uma relação de amizade com a Gloria Groove muito legal! Como é esse apoio entre as artistas?
Relação de amizade é pouco! Somos amigas antes do drag chegar na nossa vida… Ninguém me conhece como ela. Tenho certeza que o cabelo dela é volumoso de tanto segredo que ela guarda meu ali! (risos) Ela me apoia muito, me ajudou muito com o ‘Baile’, desde a letra, até o clipe! Não só ela, mas a Aretuza também é uma super amiga e sempre que acabo conhecendo outra artista, sempre rola um apoio. Pra mim, não há concorrência ou porque segregar. Somos mais forte juntas. E quanto mais fortes, melhor pra todo mundo.

No últimos dois anos a gente viu uma abertura maior da massa brasileira para a cena LGBTQ com personagens expoentes na música, no teatro, nas artes em geral. Como você vê essa expansão mesmo que tímida?
Necessária e não pode morrer! Por isso acho tão importante cada vez mais nos esforçarmos e ir se consolidando no mercado. Artista é artista. O caminho está sendo traçado e ele precisa ser movimentado. É como uma rua: se não há movimento, vira uma rua particular, uma viela. Se as pessoas não saem dali e o movimento não para, logo se torna uma avenida e se torna uma via importante pra população.

Você acredita que a música pode ser ou já está sendo um dos maiores canais de discussão sobre esse assunto?
Sim! Desde sempre a música foi utilizada para passar mensagens, gerar discussões e afins. Arte gera questionamento. E quando as coisas se tornam mais populares, possibilita gerar informações e quebrar barreiras de preconceito. Amo o poder a música.

Você enxerga que tem um papel nessa “militância” ou não encara com tanta seriedade assim?
Pra mim, só pelo fato de eu ser um homem que sai de casa de peruca e salto pra trabalhar já é militância. Sempre que possível converso sim com as pessoas e tento abrir a mente delas. Me posiciono. Questiono. Quero que as coisas sejam mais fáceis para as próximas gerações.

Estamos sabendo que tem novidade para os seus  fãs e para os leitores do POPline! Conta o que é!
O ‘Halloween da Sabrina’! A música é bem diferente, até porque eu sou o terror do baile (risos)… essa é ideia da minha nova música “Feitiço”, que estou estreando agora com vocês. Aproveitando a associação de “Aprendiz de Feiticeira” e trazendo uma pegada mais funk do que pop, minha nova música tem vários trocadilhos entre bruxaria e sexualidade. Espero que as pessoas dancem muito e se divirtam. O clipe vai sair em breve e prometo que será divertido também!

A gente está em um site de pop então a gente tem que perguntar: você é super fã de funk que a gente sabe, mas o que mais te inspira musicalmente?
Eu sou bem viciada em música “antiga”! Sempre estou ouvindo uma faixa de 2005. Tô ouvindo agora Cobra Starship, “Good Girls Go Bad”! Lembra desse hino? Ouço música o tempo todo e estou sempre atenta ao que está rolando e o que as pessoas tem gostado de ouvir. Óbvio que só absorvo o que me agrada.

A gente está perguntando para todos os entrevistados: para dar uma continuidade nessa corrente positiva de novas drag queens, trans cantoras no Brasil, qual nome ainda não tão conhecido pelo público que você acha que vai se destacar em 2018?
Kelly Caramelo lançou uma faixa chamada “Adoro Converter”. Eu amooooo! Acho que todo mundo tinha que ouvir!

Qual é seu conselho para outros meninos que, assim como você, viu em drags uma inspiração?
Seja você, confie no que você quer e nunca se conforme! Procure sempre ser mais! E procure isso por você.