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Pride POPline: Frimes fala sobre a abertura do mercado para a arte drag e a polêmica de “Fadinha”


Sim, o nome dela é Frimes. E com esse nome fica mais do que clara a influência da cantora canadense Grimes em sua carreira, mas essa drag queen do Maranhão está traçando o seu próprio caminho no cenário da música LGBTQ+ no Brasil.

Entusiasta da PC Music, ela acredita ser o “futuro da música Pop” (alô Charli XCX!). Frimes produz tudo de sua música, desde a composição até a masterização, passando, inclusive, pelas batidas. Tudo é pensado e produzido por ela.

O seu estilo visual também bebe de muitas fontes, incluindo da cultura Kawaii, que também aparece no título de seu primeiro EP, o “Kawaii Dildo”. No EP, o destaque fica para a faixa “Fadinha”, música que ganhou um clipe super produzido e que, assim como tantos outros trabalhos de artistas LGBTQ+, sofreu com censura do YouTube, sendo excluído da plataforma. A polêmica não impediu Frimes de iniciar uma segunda versão do clipe de “Fadinha”, com elementos censurados e um vídeo-prólogo de crítica ao YouTube.

E sob a luz dessa polêmica, conversamos com Frimes sobre sua carreira, influências, arte drag e, é claro, possíveis parcerias com outras artistas do gênero.

Oi Frimes! A gente sempre começa a série da Pride POPline apresentando o entrevistado para o público! Então conta mais sobre você e como surgiu a drag queen Frimes.
Hello meu nome é Friiiiiiiiiiiimeeeeesssss!!! Eu nasci na ilha do amor, São Luís do Maranhão! Terra do reggae, do bumba-meu-boi, de praias e um povo muito acolhedor totalmente sedento por cultura. Em meio a tudo isso, em um casulo pouco usual alimentado por cultura pop e arte, era gerado o menino Rafael Paz, que daria vida a Drag Queen Frimes. Sinto que de certa forma passei minha vida inteira me preparando para o que tenho feito agora: comecei a fazer Ginástica Artística muito cedo, uma poczinha doida pra fazer espacates e voar pra trás. Depois entrei pro teatro (e até cheguei a entrar na faculdade na área anos depois, mas não deu muito certo e fui Jubilado haha). A ginástica me ajudou muito com a expressão corporal, eu já não tinha vergonha alguma de estar nos palcos. Com 14 anos comecei a compor minhas primeiras canções – meu pai era músico e isso me influenciou em 200%. Passei a adolescência todinha querendo montar uma banda, mostrava minhas letras e os caras achavam engraçado o jeito Amy Lee que eu cantava (me achava a cantora lírica gótica), mas que amava Britney e RBD (tem que ser eclética né mores?). Sempre fui muito curiosa, em 2012 descobri um software de criação musical e foi então que a música realmente começou a sair do papel. Na mesma época conheci a Grimes, amo a forma como ela cria tudo sozinha e de forma muito DIY, aquilo me mostrou que eu também poderia fazer meu próprio som. Ficava horas olhando tutoriais de criação de beats, gravando minha voz no celular e usando loop com muito rever e delay, criando uma sonoridade bem experimental. Meu primeiro projeto tem total conexão a minha primeira canção oficial como Frimes, o projeto se chama “Pornografairy” (A fada do pornô) hahahaha Oops… I did it Again! Eu produzia Witch House, um gênero bem underground de subculturas, que tem como base o darkwave e essas coisas mais góticas rs. Mas eu sempre tentei deixar com um ar mais de “fadinha”, com sinos e vocais beeeeeem no estilo Grimes e Enya. Esse projeto deu muito certo por um tempo e tive até canções em coletâneas internacionais e coisa do tipo.

Frimes tem um visual e estilo musical bem únicos… Como foi o processo de criação de sua drag e sua música para chegar até aqui?
Os primeiros traços da Frimes nasceram dentro da universidade, quando cursava Teatro, nas disciplinas de caracterização e maquiagem. Eu tinha acabado de terminar um relacionamento abusivo e meio tóxico, que me deixou bem deprê (o que me levou até a abandonar a universidade, NÃO RECOMENDO!) e nos dias de tristeza eu ficava horas vendo séries na Netflix e foi assim que achei a luz do “RuPaul’s Drag Race” que praticamente me salvou da depressão e me fez de fato querer me montar – assim como todas as novas manas da atualidade, né?. Me monto a mais ou menos um ano e meio. E fui só juntando uma coisa na outra: música, dança, teatro… DRAG! Eu consumo muita música, é de fato o que me move! Posso ficar dias sem uma TV, mas não fico sem um rádio. E modéstia parte eu sou bem eclética, vou de Enya pra Marilyn Manson, de Marilyn Manson pra Kyary Pamyu Pamyu em uma mesma playlist. Os extremos sempre me agradaram, gemianoooooos! rs. Eu gosto muito dessa brincadeira de ser duas coisas e acho que esse é o conceito central de todo meu trabalho, tanto sonoro quanto visual.

Eu amo ser uma linda garota e ser um boyzinho também. A Kerli Kõiv diz uma frase que acho que me define muito bem “Eu sinto que todos tem dois lados, luz e escuridão: eu gosto de andar na linha entre os dois”. E pra chegar até aqui foi algo muito orgânico, nunca pensei muito sobre, apenas foi acontecendo… Sagrado e profano, luz e sombras, doce e amargo, passado e presente… Só sai colocando tudo que gosto dentro do liquidificador e deu no que deu. Eu comecei a fazer drag com barba! Justamente para brincar com isso da mistura. Isso reflete muito na minha música também, em “Fadinha” tem muito disso. Passei os últimos meses viciada em PC Music que pra mim é o futuro do POP! A Charli XCX tem deixado isso mais mainstream, e tem uns produtores que eu amo demais como a Sophie, uma mina trans babadeira britânica que tem trabalhado muito com a Charli, assim como o A.G Cook e o Danny L Harle, eles tem uma sonoridade meio plástica, euro dance 90’s, pop chiclete… E eu misturei tudo isso ao nosso tão queridinho FUNK. Viu como sou viciada em misturar coisas? Ave Maria! Hahaha.

Quais as suas maiores influências para a identidade visual de Frimes?
Nossaaaaaaaa, eu sou muito preocupada com o visual – apesar de nem sempre sair como gostaria haha. Mas tem muitos grandes artistas que me influenciam, e de todas as áreas! Me inspiro muito no genial Alexander Mcqueen, óbvio! Acho que todas as drags adorariam usar uma peça dele, né? Tem o Mark Ryden, que é um pintor de obras maravilhosas surrealistas bem pop, bizarras mas com tons pasteis que eu amo de paixão. Tim Burton, que cria aquela atmosfera sombria como ninguém (inclusive usamos uma cena de Bartman: O Retorno como referência pro vídeo clipe de Fadinha!). Kerli Kõiv, uma cantora da Estônia que criou o estilo BubbleGoth, o qual eu amo e tem muito haver com meu trabalho, acho ela genial, sou muito fã mesmo! Creeoy Yeha, uma loja do instagram que produz e faz peças a mão que mesclam o BDSM com cores fofinhas… Também me inspiro em animes como SailorMoon, Sakura CardCaptor,Strippers, seres elementais, cores… Tudo acaba me influenciando de certa forma, basta eu estar aberto e atento ao meu redor, porque sempre tem algo interessante pra construção de uma montação.

E em sua música, quais os artistas que mais influenciam o seu trabalho?
Tenho uma lista infinita de nomes, de verdade! Björk, Grimes, Kerli, Enya, Robyn, Britney Spears, Sandy e Junior, Lily Allen, Alanis Morissette, Purity Ring, ARCA, Pabllo Vittar, MC KAROL, Princess Chelsea, The Birthday Massacre, Charli XCX, SOPHIE, DANNY L HARLE, AQUA, Lasgo, Evanescence, SILVA, JALOO… Tantos! Acredito que quando se produz música você tem que ouvir música, e diferentes tipos e gêneros de música, isso acaba enriquecendo o ouvido, até mesmo pra nos desafiarmos a fazer algo de um jeito novo. Cada um dos artistas que citei tem um jeito muito único de criar sua música! E isso é o que mais me encanta. Esse universo sonoro que possuímos dentro de nós mesmos.

Você é do Maranhão, assim como a Butantan. Quais as dificuldades que você enfrentou em sua arte drag como alguém do Nordeste?
Viver de arte por si só já é muito complicado, principalmente um artista independente LGBTQ+ nordestino. A gente ainda sente muito o impacto! São Luís é linda mas ainda é muito arcaica, mas aos poucos temos adentrado as TVs, as rádios, as peças de teatro, tentando mudar a visão um pouco leiga dos mais velhos. Felizmente nunca me aconteceu de sofrer preconceito por ser drag aqui na minha cidade, infelizmente sei que acontece e esse é um dos maiores medos da minha mãe, por exemplo. Além das questões enfrentadas por todas as irmãs que estão começando: Drag é uma arte cara e pouco valorizada. A única forma de conseguir algum dinheiro é sendo DJ (e o cachê mal dá pro uber de ida e vinda) aqui não temos boates fixas para trabalharmos de hostess, ou performar. Porque de fato não é visto como profissão pelos contratantes, quero muito continuar levando a arte drag como profissão e conseguir me sustentar com isso, mas até o momento eu é que tenho sustentado minha arte.

Você é responsável por toda a produção das suas músicas, desde a composição chegando até a masterização. Pra você, ter o total controle de seu trabalho é algo natural?
Sim! Soa muito orgânico. Eu já desenvolvi meu próprio processo criativo: produzo os beats, crio uma melodia com vocais, depois construo a melodia e harmonia, back vocals, e enfim o processo de mix e master (o que confesso que não sou tão boa ainda, porque meu computador não aguenta o pipoco de todos os canais hahaha) mas eu faço o que posso. Inclusive adoraria começar a produzir para outras pessoas, me explorar mais como produtora – porque nem acho que eu cante bem, rs. O fato é que eu gosto de estar dentro de todo o processo, ver as coisas andarem. E eu tenho ideias muito específicas… Tipo, uma risada de uma garotinha entre os beats, sabe? Eu acabo viajando no meu próprio universo e como sempre fiz mais sozinha é mais fácil. MAS QUERO MUITO PRODUZIR COM OUTRAS PESSOAS, de verdade. Trocar! É legal. Tenho falado muito com o Rico Bueno sobre isso…

E se você pudesse escolher uma outra drag queen, nacional ou internacional, para fazer uma parceria.. Quem seria e por que?
OMG! Definitivamente Jeffree Star (e eu to escrevendo agora toda empolgada, juro!) Ela foi minha primeira referência de drag, ever! Eu a achava fenomenal como cantora, a voz robótica, os temas agressivos… E a maquiagem, yas queen!! Uau, eu adoro. Inclusive saudades das músicas da Jeffree. Na adolescência ouvia muito “Blush”, é minha favorita. Nacional é claro que a neném Vittar! A Pabllo é um ser muito iluminado, e eu tô apaixonado por ela (e falo de contato físico, língua e essas coisas rsrs, brincadeira). Sério, adoro a versatilidade e o carisma. E a voz né meu amor? O que foi a Pabllo cantando SummerTime Sadness?! Deus! Quando vi que ela estaria na mixtape da Charli XCX eu apenas gritei muito, fiz até um remix só com a parte dela. I’m obsessed. Também nacional tem a minha conterrânea Butantan, a gente tem material novo agora de um projeto, pra Junho. E tá muito delícia! <3

A gente vem acompanhando uma abertura maior do grande público para a arte LGBTQ com vários nomes, que você já citou em outras entrevistas como a Pabllo Vittar, mas ainda há muito a fazer para penetrar ainda mais e exigir o respeito que qualquer artista deve receber sobre a sua obra. Como você encara essa mudança no cenário e o que você acha que ainda falta a ser conquistado?
Nós ainda estamos engatinhando, infelizmente. Parece que a sociedade está o tempo toda bêbada, nós damos 4 passos para frente, e se regrede 3. Fico abismada! Mas a gente tem incomodado muito, e mostrado que talento é natural do ser humano e não uma exclusividade hétero normativa vendida nas mídias em massa. Fico muito feliz que agora deixamos de ser seres noturnos, tem manas ocupando o espaço de manhã cedo no programa da Fátima, tem mana nas novelas das 20h, tem manas na programação do rádio, e estrelando campanhas, e metendo a cara… porque as que estão na linha de frente levam os tiros primeiro, mas estão abrindo caminhos para as mais novas como eu. ARTE não tem gênero, não tem raça, não partido político. Arte é arte e pronto.

Fico muito irritada com os pseudo entendedores que se acham os críticos de música da Billboard, por exemplo: não tá feliz com a programação da TV? Desliga, vai ler um livro. Não gosta da música feita por mim e por minhas manas? A internet tem um acervo infinito de coisas que podem ser ouvidas, vá apoiar o seu artista favorito! Fico impressionada com o número de gente que se presta a perder um tempo da vida para comentar algo homofóbico, racista, e preconceito nas redes sociais, para propagar o ódio gratuito on-line. Acredito que falta princípios básicos de humanidade mesmo como empatia. As pessoas se acham as donas da verdade, se acham no direito de fazer pré julgamentos e crucifixarem alguém pelo que é, ou faz. É ridículo, é triste. Mas a gente não vai abaixar a cabeça, e como digo na introdução do meu vídeo “a revolução está apenas começando!”

Como está a cabeça depois da polêmica com o clipe de “Fadinha”? 
Agora eu estou mais tranquila! No instante que recebi a notícia fiquei abalada, não sabia o que fazer. Parecia que um caminhão passou por cima de mim. Eu vi um filme, todo o esforço, todo o sonho, tudo ali deletado em fração de segundos. Estava agradecendo as mensagens e quando vi uma em específico descendo escrito “o que houve? Seu vídeo foi removido!” logo então muitas mensagens iguais foram chegando, eu corri pro vídeo mas ainda abriu pra mim, cheguei a dizer pra uma pessoa “tá normal aqui!”. E quando atualizei a página havia o informe que havia sido removido, corri no privado do Lucas Sá – diretor do clipe e contei o que houve, e foi então que percebi o que de fato tinha acontecido e comecei a chorar. Chorei de medo, de frustração, me senti derrotado de alguma forma, pequeno… Escolhemos uma data muito significativa para o lançamento, 17 de Maio dia de luta contra a LGBTQfobia, e dia seguinte me acontecendo isso. Peguei o celular e no impulso fiz uns stories chorando contando o que havia acontecido. A equipe do clipe ficou chocada tanto quanto eu, porque não víamos nada que pudesse de fato ter causado a remoção do clipe… As hipóteses foram surgindo, mas nada justificava! Chegamos a conclusão de que o vídeo possa ter caído em algum grupo mal intencionado que se organizou e ficaram denunciando, assim como aconteceu com a Lia Clark. Tentamos entrar em contato com o Youtube para que houvesse um revisão dentro das diretrizes deles, mas infelizmente não obtivemos respostas. Tentamos entrar em contato com o maior número de pessoas que poderíamos, artistas, amigos, portais, jornais… E felizmente tivemos apoio da maioria de não de todos: Pabllo Vittar, Mulher Pepita, Aretuza Lovi, Mateus Carrilho, Jaloo, Jade Baralto, Candy Mel, Mc Trans, todos me apoiaram e mandaram mensagem de conforto ou divulgaram em suas redes o ocorrido, o que causou de fato uma maior comoção. Inclusive muito obrigado a todos vocês <3 Me senti muito amada, e parte de algo pela primeira vez na vida. Acredito que tudo acontece por uma razão, e essa foi a melhor coisa que já me aconteceu.

“Acho louco perceber nos comentários que o pessoal fala que tem medo ou tá assustado com o clipe, eu fico bem feliz com esses comentários porque é muito natural essa certa agressividade e esse clima tenebroso que o videoclipe tem, já que basicamente todos os meus filmes tão ali no gênero do suspense e terror! Eu não tava me dando conta de que o clipe estava ficando muito dark ou amedrontador, mas no resultado final e vendo os comentários surgiu essa questão do “medo” e eu fico super feliz mesmo, porque é um público bem distinto e diverso, sendo que desde sempre a ideia do clipe era causar esse impacto visual e de desconforto a quem assiste”, explicou Lucas Sá, Diretor do videoclipe de “Fadinha”.

Acabou que você resolveu regravar o vídeo e inseriu uma mensagem muito clara logo na abertura. Como foi refazer o clipe e como foi a decisão sua e de sua equipe de inserir esse novo pedaço?
Na madrugada do sábado (19.05) Lucas Sá – diretor do clipe, a equipe e eu tivemos a ideia de gravar a introdução. Não sabíamos ao certo o que fazer, mas tínhamos que fazer alguma coisa. Não era certo apenas reeditar o vídeo e deixar por isso mesmo. Somos seres pensantes e toda ação tem uma reação. Transformamos os limões em limonadas! Ficamos até cerca de 3h da manhã arquitetando o que faríamos, e na manhã do domingo uma equipe reduzida foi pra casa do Lucas. Não tínhamos mais nenhum dos equipamentos que foi usado no clipe, pois tudo foi emprestado. Usamos a câmera do Gleno Rodriguês – 1 assistente de direção, um tripé, um pano que tinha em casa para o fundo do cenário e duas luzes adaptadas. Me maquiei e ao mesmo tempo meus amigos Ruan Paz e Jacksciene Guedes escreveram o texto, falando de forma lúdica em um contexto voltado para ficção científica mas utilizando de fatos reais que já nos aconteceu, que é o caso do AI-5 – o decreto institucional na época do regime militar, em 64. Além de anagramas com o nome dos “vilões”, Youtube e Temer. Gravamos tudo em uma tarde, e os meninos ficaram a noite inteira editando, estávamos estressados e cansado. Psicologicamente abalados, mas com sangue nos olhos. Lembro de ter lido um comentário “para de se vitimizar e faz alguma coisa!”… E as gays não faziam ideia do que estávamos fazendo. Criamos em uma tarde, sem estrutura nenhuma e sem recurso, o que seria a melhor parte do vídeo clipe inteiro. A introdução fez toda a diferença, deu um ar mais sério pro que era unicamente estético. E possibilitou que eu me  mostrar-se mais do que apenas um visual diferentinho. Pude mostrar meu lado mais humano, crítico e político, que é o que a arte deve ser afinal.

Ps: o vídeo original só não tem as tarjas ironicamente aplicadas na cena das cordas, e a introdução. De resto a estrutura é a mesma, não mudamos NA-DA!

“Foi uma união e turbilhão de ideias que deram certo! A equipe tava bem em sintonia e conseguimos criar uma das cenas mais legais do clipe em meio a um caos total, lançamos tudo pronto logo no dia seguinte, em menos de 24h gravamos, editamos e finalizamos. Não tiramos nenhuma cena do clipe, pelo contrário, encaixamos mais cenas e só colocamos a barrinha de censurado em uma das cenas como deboche a toda essa situação chata. Assim surge a versão 2.0, do terror completo conseguimos nos reinventar”, completou Lucas Sá.

E a resposta da nova versão surpreendeu! Você recebeu muitas mensagens de apoio. Como você encarou esse feedback do pessoal?
Obrigada <3. Eu fiquei muito surpresa, desde o acontecimento. Não imaginei que conseguiria mobilizar tantas pessoas, e até grandes nomes. Me senti mais confiante e isso me ajudou a reverter a situação, até em meu estado de espírito também. Não estava sozinha! Tinha pessoas que acreditaram em mim antes, e agora tinha mais pessoas dispostas a ajudar. Só soube sentir gratidão, sabe aquela florzinha do site faces? Eu tava só ela! O número de pessoas que começaram a me seguir nas redes sociais triplicou, nunca havia recebido tanta mensagem antes. Isso só me mostrou a força da união da comunidade LGBTQ+, juntas fomos mais fortes! Devemos parar de criar guerras entre nós mesmas, afeminado, boy magia, gay, lésbica, bi, trans, normativa fora do meio… Apesar dos pesares somos todas MINORIA, estamos todos no mesmo barco, e minoria deve apoiar minoria. O quadro pode ser diferente mas a moldura é a mesma, todos sofremos. E sabe, esse discurso foi realmente muito forte nesse momento da minha vida, ele aconteceu pra mim… E ele precisa acontecer sempre para outras manas também, para que elas vejam que não estão sozinhas. Mais uma vez o amor venceu!

O que você acha que mudou em sua vida após o lançamento de “Fadinha”?
POP LINE EU GANHEI FÃ CLUBE MULHER, os #FRIMERS, haha. Pessoas me desenhando com os looks do clipe, isso pra mim é muito importante, muito bonito e sincero. Eu costumava ser o menino que desenhava os artistas, sei o trabalho que dá. Ficava horas no orkut procurando novidades nas comunidades, procurando aquelas músicas vazadas básicas haha. E hoje tem grupos no Whatsapp ali falando sobre o que tenho feito. Nossa, eu fico muito feliz! E não canso de agradecer. Cada react que eu recebo sobre o vídeo clipe, cada resenha, cada demonstração de carinho eu fico me sentindo nas nuvens. Bom, não houve grandes mudanças além da vida on-line, as pessoas sabem agora quem é a Frimes (se não,olá,prazer,eu sou a Frimes! Haha). Ainda sou a mesma pessoa, ainda moro no bairro humilde de São Luís, ainda tenho um computador fodido que pisca a tela e tô respondendo as perguntas por ele, rs. Mas dentro de mim as coisas mudaram, o que pra mim é ainda mais significativo e enriquecedor: a confiança em mim mesmo, no meu trabalho, nos meus amigos, e nessas pessoas que conquistei. Pra mim isso é muito mais valido! Obrigada gente, do fundo do meu coraçãozinho.

Ano passado você lançou um EP com três faixas e agora este ano “Fadinha”. Há planos de um outro EP, mais músicas? Conta pra gente os planos daqui pra frente!
Eu estou produzindo meu novo EP (que ainda estou escolhendo o título) e ‘Fadinha’ faz parte dele. Eu já tenho todo o conceito elaborado e está em processo de finalização, estou muito feliz com o resultado da sonoridade, peguei umas criticas construtivas a respeito de Fadinha e estou aplicando nessas novas, vão ter de 4 a 5 canções novas. Espero realmente que todos gostem! Tô trabalhando duro.  E por agora, dia 21 de Junho, tem música nova do projeto o qual faço parte também, ao lado de Butantan, Only Fuego, Enme, e Alladin. A música se chama “Queer”. E deve estar nas plataformas entre até o final de Junho.

Dá uma apreensão sobre essa questão de censura novamente para os novos lançamentos?
Pra ser bem sincera? Nem um pouquinho! Acho que aprendi a lição. Não tem porque se desesperar. Quando tentam nos calar o grito sai ainda mais forte, e com muitas outras vozes de coro, um coral inteiro de pocs. Não vou me limitar, não irei me podar! Continuarei fazendo minha arte, minha música, com os conceitos e temas que acredito. E se aparecer algo de censura daqui pra frente, será unicamente de forma irônica e sarcástica. Fiz escola com as fadas do deboche, e só tirava 10/10.

Para encerrar, a gente vem perguntando para todos os entrevistados: qual nome ainda não tão conhecido pelo público que você acha que vai se destacar ou que as pessoas precisam ouvir em 2018?
Gostaria de indicar uma drag maravilhosa Svetelana, que também produz o próprio som como LVK, e o mais massa é que é uma mulher cis ♡ maravilinda. Posso indicar também a Nininha Problematica, primeira drag do pagode ds Bahia! Além das minhas irmãs Butantan e Enme! Rappers que mandam vem, escrevem com a alma sobre nossa realidade. Tem a Dominica, que acabou de lançar música nova “Mais Que Danada!” E já é um hit ♡ recomendo muito. Todas essas manas são nordestinas e estão dando o nome, fazendo a cena acontecer mesmo com a make derretendo de tanto calor!!! As manas colocam mesmo a cara no sol.