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Coluna do Leonardo Torres: Christina Aguilera e Demi Lovato merecem um Grammy por “Fall In Line”


Depois de ter expressado aqui minha decepção com “Accelerate”, me senti na obrigação de vir dizer que ESTOU VICIADO EM “FALL IN LINE”. É a música pop que mais me empolgou nos últimos anos. De verdade. Eu não lembro de deixar uma canção no repeat assim há muito tempo. Simplesmente não canso de ouvir. É #1 no iTunes americano e na minha casa também. Às vezes eu preciso dar pause na música porque os vocais da Christina Aguilera e da Demi Lovato* juntos não deixam eu me concentrar em meus afazeres. Elas meio que exigem minha atenção. Isso é forte. Eu acredito que merece e vai dar Grammy na certa. Pelo menos, uma indicação. Pode escrever.

*Caso você tenha andado offline nesta semana, “Fall In Line” é o novo single da Christina Aguilera, com participação de Demi Lovato. Eu já disse que é incrível? Ouça:

Christina Aguilera já recebeu dois Grammys de melhor colaboração pop (em 2002 por “Lady Marmalade” e em 2015 por “Say Something”), tendo sido indicada nesta categoria um total de oito vezes. É uma veterana no quesito. As outras nomeações foram por “Nobody Wants To Be Lonely” (com Ricky Martin, 2002), “Dirrty” (com Redman, 2003), “Can’t Hold Us Down” (com Lil’ Kim, 2004), “A Song For You” (com Herbie Hancock, 2006), “Steppin’ Out” (com Tony Bennet, 2008) e “Moves Likes Jagger” (com Maroon 5, 2012). Eu me arrisco a adicionar “Fall In Line” a essa lista antecipadamente.

Christina e Demi vão mostrar o dueto ao vivo no Billboard Music Awards neste domingo (20/5), o que significa se apresentar diante dos figurões da indústria – e muitos dos membros da Academia também. É a primeira performance da Aguilera na premiação em cinco anos, e tem tudo para ser memorável. Quanto maior for esse momento, maiores são as chances da música vingar (ela tem se segurado no Top 10 do iTunes nos Estados Unidos) e se qualificar de verdade na corrida pelo Grammy. Infelizmente, o desempenho comercial acaba pesando na hora da Academia votar: a galera vota no que lembra, no que ouviu, e para isso a música tem que tocar. Qualidade, o single tem, sem dúvidas. Agora ele tem que “acontecer”.

Vamos lembrar que, no Grammy deste ano, mulheres e homens cruzaram o tapete vermelho com uma flor branca que simbolizava o movimento “Time’s Up”, criado por personalidades de Hollywood para combater a violência sexual e a discriminação de gênero no local de trabalho. Em paralelo, uma das grandes críticas à premiação foi a ausência de troféus relevantes para mulheres, e o presidente da Academia, Neil Portnow, acabou falando mer** quando se pronunciou sobre o assunto. Todo mundo caiu matando em cima dele – com razão. Uma carta assinada por 38 homens da indústria foi enviada à Academia pedindo reparos à disparidade entre gêneros. Conclusão: a Academia, que tirou 2017 para corrigir a disparidade racial, prometeu ficar atento também à representatividade das mulheres. Premiar “Fall In Line” coroaria a movimentação feminina – não que a música precise disso para ser enaltecida – mas o contexto nunca foi tão favorável.

Escrita por Christina Aguilera com parceiros, entre eles a cantora Audra Mae, “Fall In Line” trata justamente da situação das mulheres em um mundo machista e patriarcal. Ela dá um recado às meninas, alertando da opressão que será vivida, e incentivando a se rebelar contra isso: “It’s just the way it is / and maybe it’s never gonna change / But I got a mind to show my strength / And i got a right to speak my mind / And I’m gonna pay for this / They’re gonna burn me at the stake / But I got a fire in my veins / I wasn’t made to fall in line”. Em determinada parte da música, ainda aparece uma voz masculina misteriosa que diz: “quem te disse que você tem permissão para pensar?” (who told you you’re allowed to think?). Desculpa, mas é o tipo de mensagem que Neil Portnow merece ouvir depois de ter sido tão infeliz. E, se eu fosse membro da Academia, acreditaria que não existe música melhor (até agora) para ganhar um prêmio e fazer a mea-culpa.

Mas vamos supor que nada disso importe no início do ano que vem. “Fall In Line” tem méritos próprios. A maneira como Aguilera imposta a voz em um crescente até o refrão é de arrepiar. E aí, depois de ela arrasar, aparece Demi Lovato – exatamente a voz da nova geração à qual se direciona a letra. Para. É incrível. E, quando as duas se juntam, criam uma força invejável. Casou perfeitamente. É como se as carreiras de ambas tivessem culminado neste dueto. Seus caminhos confluíram nesses versos e nessa melodia, que me parece uma redenção para ambas. Os vocais potentes das duas fizeram muito sentido unidos. Eu não mudaria nada neste single**. Ele não perde a vitalidade ao longo de seus quatro minutos. O refrão é cantado três vezes e todas elas são uma delícia. Eu realmente estou ansioso para ouvir isso ao vivo no Billboard Music Awards. No “Carpool Karaoke”, só com a Christina, já foi impressionante.

**Ah! Como eu tinha intuído, “Accelerate” não era mesmo o “single de retorno”. Amém. Nem lembro mais que existe.

Obrigado por isso, Christina.