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Coluna do Leonardo Torres: Posso falar a verdade sobre a nova da Christina Aguilera?


Quero escrever esse texto com muito respeito aos fãs de Christina Aguilera. Eu conheço vários, e pude acompanhar a expectativa, a ansiedade e a enrolação às quais foram submetidos até a chegada de “Accelerate”. Depois de cinco anos sem músicas novas, a popstar americana entregou esse single na última quinta (3/5). É a primeira amostra de seu álbum novo, “Liberation”, que sairá em junho. Seu primeiro disco em seis anos. Ouvi a música assim que pude e de cara estranhei. Antes de chegar à metade, eu já havia me distraído e lembro de pensar “ih, ainda está tocando”. Tentei outra vez, tentei me concentrar por mais que convidasse à distração. Vi o clipe. De novo. E mais uma vez. Enfim, não deu. É pra fingir? Sei que o combinado é esse, mas minha língua está coçando para falar.

Como single de retorno, “Accelerate” é muito fraco. Chamou-me atenção que, depois de tanto tempo, os fãs ainda tiveram que ouvir a voz de um rapper antes de finalmente Christina “aparecer”. A música começa com os vocais tenebrosos de Ty Dolla $ign. Além dele, Christina ainda divide a música com 2 Chainz. Conclusão: ouve-se muito pouco da cantora no single de retorno dela. A faixa, co-produzida por Kanye West, que não está exatamente em um bom momento de sua vida, desperdiça as maiores qualidades de Christina Aguilera como intérprete: seu timbre e sua potência vocal. Ofusca a primeira com outras vozes muito meia-boca (eu fico constrangido com a parte do “Another shot, you comin’ home with me”: o Ty Dolla $ign estava com dor de garganta quando gravou?) e descarta a segunda com uma progressão relativamente estável, que pouco exige da artista. “Accelerate” é hip-hop e parece que Christina é quem faz “feat.” ali.

Não parece uma música dela. Isso é bom, porque significa que pode vir QUALQUER COISA nesse álbum (ela promete mais soul, além dos elementos de R&B e hip-hop). Christina está disposta a arriscar, de novo. Mas isso também é ruim, porque o resultado ficou abaixo do padrão de qualidade da artista, sobretudo quando se trata dos primeiros singles de seus álbuns. Acho que todos concordamos que “Accelerate” é inferior a “Gennie In a Bottle” (1999), “Dirrty” (2002), “Ain’t No Other Man” (2006), “Not Myself Tonight” (2010) e “Your Body” (2012). A música não pega de primeira, nem de segunda. Todas as vezes que parei para ouvi-la, me desconcentrei antes do término. Simplesmente não funciona. Minha impressão é que Christina, 2 Chainz e Ty Dolla $ign estão só bebendo e jogando umas palavras no ar. Isto é outro ponto: a letra é genérica, não fala nada com nada, como se fosse a junção de um monte de versos perdidos. A melodia não é muito diferente, como se tivessem juntado duas ou três demos sem cuidado de criar pontes convincentes. Incrivelmente, essa letra exigiu o trabalho de 13 compositores! Eu não disse três, nem quatro, nem cinco. Eu disse TREZE. A maior galera é creditada nesta composição completamente oca. Sem necessidade.

Vamos falar sobre o clipe? Prefiro que não. Vou dizer só: “Dooo It!”, Miley Cyrus, 2015.

Mentira: vou fazer mais um comentariozinho. Ao contrário de bons clipes, esse não ajuda a tornar a música melhor ou ao menos mais palatável. Não colabora em nada na comunicação de qualquer mensagem ou conceito (pelo menos, não para mim. Se alguém captou algo, comente aí embaixo). A direção é de Zoey Grossman, uma fotógrafa de moda. O vídeo não parece exatamente isso? O “behind the scenes” de uma sessão de fotos? Grossman, aliás, fotografou Christina para a capa da revista Paper neste ano. Aquelas fotos > esse clipe.

É isso. Não gostei.

Eu ouvi dizer que Christina lançará outras faixas antes do álbum. A gente não tem acesso ao que a artista e sua equipe pensam, mas “Accelerate” pode ser só uma introdução da nova era. Acho que como introdução funciona. Tipo… a música seguinte é a música “de verdade”. Como o prólogo de um livro: você nem lembra dele quando chega à última página. A gente encara essa faixa como “o single de retorno”, mas não tenho certeza se Christina vê assim. Para ela, pode ser mesmo uma intro. Okay, uma intro de quatro minutos, mas uma intro. Aquilo que gostam de chamar de “single promocional”. Fiquemos atentos à próxima semana. No aguardo de melhores sons. Digo, notícias.