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Entrevista: Spotify Brasil aponta que 70% das receitas foram de artistas ou selos independentes em 2023

Em entrevista ao POPline.Biz, Carolina Alzuguir, Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Brasil, analisa os resultados do relatório Loud & Clear com foco no mercado brasileiro
Carolina Alzuguir, Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Brasil do Spotify, comenta os resultados do relatório Loud & Clear de 2023
Carolina Alzuguir, Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Brasil do Spotify, comenta os resultados do relatório Loud & Clear de 2023. Foto: Adima Macena/Divulgação Spotify

O relatório Loud & Clear do Spotify, que aponta os resultados do último ano sobre os pagamentos de royalties da plataforma e detalha o impacto na economia global de streaming, revelou os dados com base no mercado brasileiro. Em março, a plataforma divulgou com anúncio recorde do pagamento de US$9 bilhões em 2023 (cerca de R$45 bilhões) em royalties de streaming para gravadoras, distribuidoras e demais instituições de arrecadação de royalties em todo o mundo, nos últimos doze meses.

No Brasil, os resultados também são positivos e apontam o protagonismo do segmento independente, com artistas e selos sendo responsáveis por 70% das receitas que foram distribuídas pelo Spotify em 2023 no país. No cenário global, por exemplo, os independentes geraram cerca de US$4,5 bilhões no Spotify. Este marco representa o primeiro ano em que os independentes responderam por cerca de metade do que toda a indústria gerou no Spotify.

Em 2023, as receitas geradas por artistas brasileiros somente no Spotify atingiram o total de R$1.2 bilhão, 4 vezes mais desde 2018. Para comentar esses e outros dados do relatório sob a ótica do mercado brasileiro, o POPline.Biz é Mundo da Música entrevistou Carolina Alzuguir, Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Brasil, que analisou os dados da plataforma e o impacto do streaming na indústria musical brasileira.

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Comparado a 2022, as receitas geradas por artistas brasileiros somente no Spotify cresceram 27%, ultrapassando o crescimento de 13% de receitas da indústria da música no País, segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI).

De acordo com dados do relatório Loud & Clear, as receitas geradas por artistas brasileiros somente no Spotify cresceram mais de 600% desde 2017. Para Carolina Alzuguir, a receita está cada vez mais pulverizada, com artistas de diferentes perfis e níveis de carreira, sendo contemplados.

“Tem algumas coisas [no relatório Loud & Clear] que nos dão muito orgulho de compartilhar! Vale dizer que esse crescimento de receita, sendo gerada pelos artistas e pagas aos detentores de direitos, ele acontece ‘em todos os níveis de carreiras’. Nós fizemos essa análise considerando vários patamares diferentes, justamente para entender a contribuição do Spotify na receita desses artistas. E nós não nos orgulharíamos se os resultados positivos fossem concentrados apenas em artistas muito mainstream ou que estavam entrando nos charts do Spotify”, afirma Carolina Alzuguir.

Carolina Alzuguir, Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Brasil do Spotify, comenta os resultados do relatório Loud & Clear de 2023

Carolina Alzuguir, Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Brasil do Spotify, comenta os resultados do relatório Loud & Clear de 2023. Foto: Adima Macena/Divulgação Spotify

Desde 2018, o número de artistas brasileiros que geraram mais de R$ 50 mil e mais de R$ 100 mil reais, somente no Spotify, mais do que triplicou. Observando esses dados, Alzuguir diz que o caráter democrático do mercado musical, a partir da popularização do streaming, aponta que artistas com diferentes potenciais financeiros de investimento em suas próprias carreiras, estão conseguindo ter retorno financeiro na plataforma.

Em 2023, artistas brasileiros foram escutados pela primeira vez por usuários no Spotify quase 10 bilhões de vezes, de acordo com o Loud & Clear. Em escala global, dos 66 mil artistas que geraram pelo menos US$ 10 mil apenas no Spotify – e provavelmente US$ 40 mil em todas as fontes de receita registradas – mais da metade são de países onde o inglês não é a primeira língua.

Espanhol, alemão, português, francês e coreano lideram o desempenho em outros idiomas além do inglês – enquanto hindi, indonésio, punjabi, tâmil e grego tiveram grandes aumentos em 2023.

“Isso mostra o quanto que esse crescimento também é global e não é uma coisa só concentrada, por exemplo, nos Estados Unidos, como por muito tempo funcionou na indústria”, afirma Alzuguir.

Mais da metade dos artistas que geraram pelo menos US$ 10 mil no Spotify são de países onde o inglês não é a primeira língua, aponta Loud & Clear 2024

Mais da metade dos artistas que geraram pelo menos US$ 10 mil no Spotify são de países onde o inglês não é a primeira língua, aponta Loud & Clear 2024. Foto: Divulgação/Spotify

Loud & Clear: artistas brasileiros são mais adicionados em playlists no Spotify

Entre os destaques do relatório, a análise aponta que mais de 9.500 artistas brasileiros foram adicionados à playlists editoriais no Spotify. O número de artistas brasileiros inseridos à playlists da plataforma aumentou 80% desde 2019. 

O mecanismo que permite que uma faixa seja adicionada em uma playlist no Spotify envolve tanto inteligência artificial, por meio dos algoritmos, quanto através da análise curatorial da plataforma que consiste na ação humana. Em formato de organização, essas playlists são entendidas como: Playlists Personalizadas, na qual os algoritmos analisam vários fatores externos e individuais, e entre as mais populares estão as Descobertas da Semana, Radar de Novidades, Mix Indie, No Repeat, De volta pro repeat, Happy Hits e Músicas pra cantar no chuveiro.

Enquanto que as Playlists Editoriais são selecionadas por editores do Spotify de playlists, especialistas em gêneros musicais, estilo de vida e cultura, com experiências diversas. Muitas playlists contam com diversos editores espalhados por diferentes locais para buscar músicas de todos os cantos do mundo.

O número de streams anuais necessários para se classificar entre as principais faixas de 250 mil, 100 mil e 10 mil ao longo do tempo no Spotify. Foto: Divulgação

Diante da mudança do consumo musical e, até mesmo, da forma da produção musical em si, é cada vez mais difícil estabelecer uma faixa como pertencente de um gênero A ou B, por exemplo. Analisando esse caráter híbrido da música e como o Spotify seleciona essas faixas para as playlists, Carolina Alzuguir explica que a inteligência de dados da plataforma é feita de uma maneira para impulsionar a descoberta de novas músicas e artistas.

“Os artistas brasileiros foram descobertos, ouvidos pela primeira vez por um usuário, 10 bilhões de vezes no Brasil no ano passado. E, isso é um número inacreditável, assim! Então, muito por conta disso, realmente a coisa da caixinha, da gaveta, do gênero, ela não é mais uma prioridade. E não é mais até um approach que o Spotify faça na curadoria das playlists. Hoje em dia a gente tem muito mais playlists de mood, como nós possuíamos antigamente”, observa a Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Brasil do Spotify.

Mil streams: base da monetização do Spotify

Em novembro de 2023, o Spotify confirmou que, a partir de 2024, as faixas precisariam de no mínimo mil streams para iniciarem o processo de monetização na plataforma. Apesar do Spotify não estabelecer um número fechado, atualmente o mercado musical trabalha com uma média de que 100 mil faixas são adicionadas diariamente nas plataformas digitais.

De acordo com Alzuguir, as faixas que não possuem mil streams na plataforma, atualmente, representam apenas 0,5%. De acordo com dados globais no Spotify, em 2023, 50 mil artistas geraram pelo menos US$16.500 no Spotify e provavelmente US$65 mil de músicas gravadas em geral.

Segundo a plataforma, diante de uma lista de todos os artistas no Spotify, em ordem de quanto dinheiro eles geraram em escala global, mesmo o 50.000º colocado gerou no mínimo US$16.500 somente no Spotify.

Novas Ferramentas do Spotify e ações da plataforma no Brasil

No último ano, recursos do Spotify ganharam mais protagonismo, a exemplo do Canvas. Os vídeos curtos em loop, presente em cada uma das suas faixas, “é como uma capa de álbum, só que adaptada para a era do streaming”, de acordo com a plataforma. Com a mudança da estrutura da home do Spotify, o formato ganhou uma popularidade maior no último ano.

Além desse recurso, o Countdown Page, que está em fase de testes, está sendo disponibilizado para mais artistas e o objetivo da plataforma é ampliar o recurso. Recentemente, artistas como Djavan, Anitta, Pabllo Vittar, L7nnon, Shakira, entre outros, usaram a ferramenta. Saiba mais acessando aqui.

Sobre os programas musicais da plataforma e ações previstas no Brasil, Carolina explica que o Spotify possui uma estratégia chamada de “always on”, duradoura, que consiste tanto no relacionamento com os artistas e de entendimento da cultura, dos novos movimentos musicais, quanto da análise das novas tendências.

Segundo Carolina, essas práticas, principalmente as que possuem um foco educacional, como a Amplifika, são estruturadas para que os artistas e suas equipes possuam mais clareza de como funciona a economia do streaming. Dessa forma, a executiva acredita que eles terão mais insumos para tomar as suas decisões estratégicas na carreira, desde ao fluxo de lançamentos musicais, como permanecer como artista independente ou não. 

Alzuguir antecipa que o programa Spotify Radar terá uma abordagem diferente: “a gente pretende mexer mais a agulha na carreira do artista, tentar gerar um impacto ainda maior”. Nesse programa, participaram artistas como Marina Sena, Veigh, Rebecca, entre outros.

Por fim, a Head de Parcerias com Artistas e Gravadoras no Brasil do Spotify afirma que iniciativas como o Equal, Glow, além de experimentações com eventos ao vivo, como foi a Experiência Creme e o Spotify Podcast Festival, em 2023, também permanecerão na agenda de iniciativas estratégicas da companhia.

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