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Entrevista: Ecad projeta arrecadação recorde de R$ 1,7 bi e mais investimentos em tecnologia e ESG em 2024

Em entrevista ao POPline.Biz, Isabel Amorim, Superintendente do Ecad, faz um balanço sobre as ações e resultados positivos da gestão coletiva em 2023 e projeta mais um ano recorde em 2024. Foto: Divulgação/Ecad

O Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) arrecadou mais de R$ 1,29 bilhão em direitos autorais para a classe artística de janeiro a novembro de 2023. Foram contemplados mais de 301 mil compositores, intérpretes, músicos, editoras e produtores fonográficos nacionais e estrangeiros nesse acumulado. Esse foi um recorde para a gestão coletiva da música no Brasil.

Para 2024, o Ecad projeta a arrecadação de R$ 1,7 bilhão, em mais um ano recorde da atuação do escritório gerenciado pela Gestão Coletiva composta pelas sete associações: Abramus, Amar, Assim, Sbacem, Sicam, Socinpro e UBC. O trabalho do Ecad nos últimos doze meses compreendeu: o diálogo com lideranças políticas em Brasília; campanha de conscientização para marcas e agências de publicidade patrocinadora de eventos de música; criação do Selo de Reconhecimento do Ecad; ampliação do investimento em tecnologia e ESG; entrada como signatária no Pacto Global da ONU e mais ações.

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Em análise a todos esses pontos, Isabel Amorim, Superintendente Executiva do Ecad, concedeu uma entrevista exclusiva ao POPline.Biz é Mundo da Música, no qual fez um balanço das iniciativas do escritório, além de projetar um cenário otimista aos titulares autorais em 2024.

Arrecadação – Segmento de Shows

De janeiro a novembro de 2023, o Ecad fez o licenciamento musical de 34.156 shows no Brasil. Antes da pandemia, em todo o ano de 2019, a instituição licenciou 22.718 shows. Os números indicam que em 2023 houve um crescimento de 50% na quantidade de shows licenciados em comparação a todo o ano de 2019.

Em 2023, de janeiro a novembro, o Ecad arrecadou mais de R$ 152 milhões em direitos autorais no segmento de Shows a compositores nacionais e estrangeiros. Em todo o ano de 2019, a distribuição em direitos autorais no segmento foi de mais de R$ 83 milhões. O resultado de 2023 representa um crescimento de 82% em comparação ao ano de 2019, antes da pandemia.

Isabel Amorim, ao observar os resultados positivos em 2023, aponta que a tecnologia possui importância central para a operação do Ecad.

“A tecnologia é essencial para nós funcionarmos. Sem uma tecnologia constantemente sendo desenvolvida, a gente não conseguiria. Em 2024, nós projetamos a arrecadação de 1.7 bilhão de reais. Então, nós temos um crescimento exponencial nos últimos 10 anos que só conseguimos manter com muita tecnologia aplicada. Toda a volumetria de dados, o aumento de segmentos e rubricas, tudo isso só é possível com muita tecnologia. E a gente vem fazendo uma jornada para analisar como estão os nossos sistemas e o que precisa ser melhorado”, aponta Isabel Amorim.

Isabel Amorim, Superintendente Executiva do Ecad. Foto: Divulgação/Ecad

No entanto, Isabel destaca que a atuação humanizada do Ecad também faz parte da estratégia de conscientização atrelada com a tecnologia. De acordo com a Superintendente, não basta apenas “enviar o boleto” para um estabelecimento que use música, mas sim, conscientizar os responsáveis sobre a importância do direito autoral.

Atualmente, o Ecad possui 570 funcionários em todo o Brasil que gerenciam uma operação complexa com sedes em capitais, para a atuação ser mais próxima e estratégica em cada região e mercado. Em 2023, uma área nova foi criada, a GRC (Gestão, Risco e Compliance), diretamente ligada à mitigar riscos e zelar pela segurança na proteção de dados.

Campanha voltada para marcas patrocinadoras de festivais

O Ecad iniciou, no último ano, uma campanha de conscientização destinada às empresas patrocinadoras de festivais. O objetivo é reforçar que empresas patrocinadoras, que fazem parte da cadeia produtiva da música e adotam uma agenda de boas práticas de ESG, alinhem suas marcas a eventos comprometidos com o pagamento do direito autoral e estejam associadas aos parceiros que cumprem os critérios exigidos pela legislação brasileira.

> TV continua na liderança do direito autoral à frente do digital, segundo o Relatório Anual do Ecad

Setor de eventos se consolida como o maior gerador de empregos no Brasil em 2023. Foto: Unsplash

Isabel revelou ao POPline.Biz que os primeiros retornos da ação foram surpreendentes. Por um lado, algumas marcas não possuíam na sua agenda, que a associação com eventos de música que não são adimplentes com o pagamento de direitos autorais, poderiam colocar suas próprias companhias em uma gestão de crise. No entanto, Amorim identifica que o início dessa comunicação entre o Ecad e as marcas será fundamental para a inserção dessa política em prol do direito autoral em um médio-longo prazo.

The Town é o 1º festival privado a receber Selo do Ecad por respeitar direitos autorais

A executiva afirma que esse trabalho de conscientização também foi uma pauta debatida em Brasília, na qual o escritório permanece em diálogo com deputados e senadores. De acordo com Isabel, entre os objetivos do Ecad está a valorização da profissão dos compositores, além da conscientização de órgãos públicos, para que a proteção autoral seja garantida em eventos apoiados por Governos e Prefeituras.

Pacto Global da ONU

O Ecad passou a fazer parte do Pacto Global da ONU em 2023, iniciativa que reúne empresas e organizações com o objetivo de fortalecer a sustentabilidade corporativa no mundo por meio de princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção. A instituição já cumpriu um dos compromissos da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, que é ter 30% de mulheres em cargos de liderança até 2025 ou ter 50% de mulheres em cargos de liderança até 2030.

Ecad passa a integrar o Pacto Global da ONU

Para ser signatário do Pacto Global da ONU, as companhias passam por uma avaliação específica da ONU, na qual são observados todos os aspectos de gestão da companhia.

“O Pacto Global da ONU nos ajuda a dar um norte, o que eu acho muito importante. Na minha opinião, a iniciativa nos ajudou a ter metas muito mais estruturadas. Em conjunto com todas essas empresas, nós entendemos onde queremos estar em 2030 e assim por diante. Pra nós [ser signatário] significa a assinatura de todo um trabalho que estamos fazendo e a preocupação que temos em melhorar processos, ser muito transparentes e demonstrar, com muita clareza, tudo o que a gente tem feito aos titulares”, diz Isabel.

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável compõem os objetivos do Pacto Global da ONU. Foto: Divulgação

Inteligência Artificial

Questionada sobre a Inteligência Artificial e o olhar da Gestão Coletiva sobre esse tema, Isabel destaca que há dois pontos a serem considerados: interno e o externo. A executiva aponta que dentro de uma perspectiva interna, o Ecad analisa o quanto que a inteligência artificial pode ser um recurso para auxiliar na identificação das músicas, no atendimento e em outras frentes operacionais que impulsionem a produtividade do escritório.

Isabel também revela o olhar interno do Ecad sobre a análise de quais ferramentas não poderiam ter o apoio da inteligência artificial, por exemplo, em uma observação constante para evitar riscos. No âmbito externo, há uma preocupação sobre os cadastros autorais e o Ecad está acompanhando as atualizações da indústria, a partir da criação de mecanismos de segurança internos, para antever problemas nesse setor.

Projeções do Ecad para 2024

Após os resultados positivos em 2023, Isabel analisa os desafios e oportunidades que a gestão coletiva trilhará em 2024. Para a executiva, “nós temos que avançar e evoluir, não apenas na participação das mulheres no mercado, mas, na diversidade, assim como avançou em outros mercados, temos que avançar na música também!”.

Segundo Isabel, os próximos meses serão marcados por batalhadas desafiadoras no digital, não apenas no setor musical, mas também, no audiovisual.

“São deals duros, acho que a gente tem que continuar defendendo o autoral, o conexo, tudo o que nós entendemos que é correto no mercado brasileiro. Isso vai nos tomar muito tempo e energia e  é uma obrigação nossa, defender não só o autor, mas, o músico acompanhante, o intérprete, o produtor fonográfico, todos os envolvidos nessa cadeia autoral”, afirma a Superintendente do Ecad.

Foto: Unsplash.

Além disso, Isabel destaca que a parte da arrecadação dos shows continuará crescendo e o Ecad ampliará os esforços no atendimento para licenciar e ter os roteiros de todos os eventos de música que acontecerão neste ano, que promete ser aquecido no setor. “É uma distribuição direta que cai no bolso do compositor em um mês, dois meses, depois que o show acontece e pra nós é essencial que funcione”, aponta Isabel.

Em 2024, Isabel aponta que o Ecad seguirá com a estratégia de desenvolvimento aos “usuários gerais”, que são hotéis, bares, restaurantes, entre outros. O escritório manterá o diálogo mais próximo com esse segmento e busca criar novas oportunidades de negociação. Por fim, a executiva destaca: “nós temos que acompanhar o desenvolvimento do mercado e entender de quais formas realizar a cobrança em prol do titular de direito autoral”.

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