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Entrevista: “Compartilhar conhecimento foi o que me curou”, conta Clemente Magalhães

O produtor musical e idealizador do canal de YouTube e podcast ‘Corredor 5’ conta sobre a sua trajetória no mundo da música
Entrevista: “Compartilhar conhecimento foi o que me curou”, conta Clemente Magalhães
lemente Magalhães. Foto: Reprodução/Instagram @cle_corredor5

A paixão pela música foi o fio condutor da trajetória de Clemente Magalhães no mercado musical. Atualmente, o produtor musical está reciclando o amor antigo por fazer música e democratizar informações da cadeia para o público. Fundador do canal de YouTube Corredor 5”, o qual expõe de maneira franca, direta e didática os assuntos do setor para cerca de 151 mil espectadores.

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Em entrevista ao POPline.Biz é Mundo da Música, Clemente, ou simplesmente Cle, conta sobre o caminho que foi trilhado no mercado musical. Sem papas na língua, ele falou sobre a adolescência, as produções no setor, depressão e a sua nova missão: democratizar a informação sobre o setor compartilhando conhecimento. 

Entrevista: “Compartilhar conhecimento foi o que me curou”, conta Clemente Magalhães

Clemente Magalhães. Foto: Reprodução/Instagram @cle_corredor5

Embora o caminho para o mundo da música já estivesse sendo traçado desde a juventude de Clemente Magalhães, o jornalismo foi a sua escolha na hora de decidir uma profissão no vestibular. Na época, ele tinha uma banda e já havia assinado com uma gravadora de São Paulo.

Não me via fazendo nada que não fosse estar em um palco tocando. A minha relação com a música começa em um colégio super rígido, mega careta, onde ter uma banda com meus amigos era a única forma de tornar aquela experiência horrível em algo suportável.”

Ainda na escola, Clemente estudou na mesma sala que Daniel Gonzaga e Lúcio Mauro Filho, que já traziam a arte pulsando nas veias. Os dois colegas de classe começaram a tocar e compor juntos. Àquela altura, o produtor se perguntava sobre o que poderia fazer para estar no grupo.

“Ali começava minha história com a música de fato. Como todo mundo que cresceu nos anos 80, na fervura do Rock Nacional e assistiu ao “De Volta Para o Futuro”.  Ter uma banda era um sonho. Lembro bem de imitar o Cazuza, Paulo Ricardo, Evandro Mesquita e ter a certeza de que aquilo seria a minha vida. Mas indo lá atrás, lá atrás mesmo, as músicas dos álbuns infantis da época é que me tocaram pela primeira vez.” 

Clemente Magalhães: do holofote aos bastidores

 Antes de trabalhar nos bastidores do mercado musical, Clemente teve muitas bandas. Em particular, a “Nada Pessoal”  ganhou uma grande proporção no Rio de Janeiro, embora não tenha firmado contrato com nenhuma gravadora.

“Éramos brancos, privilegiados, com o filho do Erasmo Carlos de frente e, por mais que lotássemos todos os lugares, inclusive casas de shows como o Canecão, não tinha jeito de uma major apostar na gente. Ali, eu já era um cara muito interessado em saber quem eram as pessoas da indústria, como as coisas funcionavam, como os discos eram produzidos… Não demorou muito pra eu começar a produzir discos também.”

Foi com a produção musical que os caminhos de Clemente foram se abrindo na cena musical. Entre as produções que ele assina estão “Duetos”, de Renato Russo, “Uma Canção no Rádio”, de Raimundo Fagner, algumas faixas com o Milton Nascimento, Jorge Vercilo, Zélia Duncan, Paulinho Moska, Rodrigo Santos, um CD do Bebeto, Luka, o primeiro disco do Caio Prado e Daniel Chaudon.

Entrevista: “Compartilhar conhecimento foi o que me curou”, conta Clemente Magalhães

Clemente Magalhães. Foto: Reprodução/Instagram @cle_corredor5

Mesmo produzindo um disco atrás do outro e com o estúdio sempre lotado, Clemente conta que, àquela altura, as gravadoras viviam no pico da crise. O dinheiro pago pelas produções musicais, gravação e mixagem era cada vez menor, ainda mais quando se trabalhava para uma major

“Não fazia o menor sentido…Você trabalhava muito e, em vez de um cachê, recebia um adiantamento. Às vezes, três meses depois e, como não existia marketing pela falta de dinheiro no mercado, os discos não aconteciam e sua dívida aumentava. Era um mix de frustrações. Trabalhar para receber em ‘dívida’.  Os discos que não chegavam nas pessoas por falta de dinheiro de promoção e a sensação de que ninguém sabia muito o que fazer quando pagar jabá já não era tão viável.”

Clemente in Nova York

Um desvio de rota fez com que Clemente começasse a dar passos largos para o caminho certo. Segundo ele, mudança para Nova York não era um plano. Esse “acidente de percurso” foi resultado de um acordo fechado para abrir um selo do Grupo Wood ‘s com a Universal. No entanto, ao chegar na Big Apple, o produtor já sabia que não ia acontecer.

“Aquilo mexeu muito muito comigo e resolvi ficar lá mais um pouco até me curar daquele baque. Foi nesse período que, um belo dia, fui parar numa convenção de marketing chamada Maratona de Música de NY. Lá, assisti a uma palestra que mudaria a minha vida. Decidi então que não voltaria pro Brasil e ficaria dois anos estudando Music Branding, Marketing Digital e Marketing Direct-to-fan.”

Entrevista: “Compartilhar conhecimento foi o que me curou”, conta Clemente Magalhães

Clemente Magalhães. Foto: Reprodução/Instagram @cle_corredor5

A imersão nos estudos junto com os professores que passaram pela vida de Clemente ao longo dos anos em que estudou nos Estados Unidos mudaram a sua vida. 

“Até hoje existe um ‘gap’ absurdo entre o que rola na América e como o mercado funciona em nosso país. Voltar pro Brasil foi muito difícil pra mim. Voltei ‘doutrinado’, mas o mercado da música não curte quem vem com informação nova, porque expõe quem não sabe do que você está falando. Ninguém quer fazer algo que saia do trivial, então eu era tirado meio de mala, meio arrogante por falar sobre super fãs, financiamento recorrente, funil de consumo, e-mail marketing, direct-to-fan, retargeting, criação de personas… Achavam, literalmente, que eu estava maluco.”

Nesse período de incertezas, Clemente quis voltar para Nova York. No entanto, questões pessoais impediram isso.

“Acabei caindo em uma depressão profunda que quase me tirou a vida. Na verdade, o que me salvou foi a minha sede por informação que adquiri em NY. Eu li muitos livros, devorei autores como Seth Godin, cursei a melhor escola de marketing digital do mundo, a General Assembly. Minha vida era isso. Tem gente que se droga, que bebe… A minha forma de viver essa experiência terrível foi estudando.”

O trampolim de Clemente: compartilhar conhecimento

 Durante esse processo, como uma forma de terapia, Clemente resolveu escrever um blog. A ideia era aplicar tudo que ele tinha aprendido sobre Marketing Digital. Na época, seu mentor e autor predileto, Seth Godin, o dizia sobre como o marketing é transformar a vida das pessoas.

“O blog gratuito era o meu topo de funil. Eu lançava textos diários e percebi como me fazia bem compartilhar conhecimento. Eu sempre soube o quão privilegiado eu era e poder devolver de alguma em informação foi me curando.”

Ainda de acordo com o produtor musical, o fascínio pelo podcast “Smart Passive Income”, do Pat Flynn, fez com que ele resolvesse abrir o canal de YouTube “Corredor 5”. O objetivo era ter mais uma possibilidade de democratizar informação sobre o mercado da música.

“Eu ainda não estava 100% curado da minha depressão… Foram mais de 400 vídeos gravados em formato de vlog no YouTube, uma baita luta para criar uma audiência. Até que, finalmente, no meio da pandemia, resolvi criar meu podcast no YouTube. Tudo aconteceu por uma necessidade de troca, de afeto, de criar pontes para que outros fossem a fonte da informação. Foi um processo meio natural, sem referência alguma e que acabou tendo um impacto na minha vida nunca esperado. De repente, virei uma espécie de podcaster/youtuber e posso dizer que tudo isso transformou minha vida.” 

Entrevista: “Compartilhar conhecimento foi o que me curou”, conta Clemente Magalhães

Clemente Magalhães e Lucinha Araújo. Foto: Reprodução/Instagram @cle_corredor5

Bate-papo franco com Clemente

“Como o Seth Godin fala, marketing é, realmente, transformar a vida das pessoas, e quando a gente faz isso de forma genuína, coisas mágicas acontecem”, destaca o produtor musical.

As transformações que aconteceram na vida de Clemente fizeram com que ele lançasse alguns infoprodutos que já não estão mais disponíveis. De acordo com ele, a expressiva venda deles viabilizaram a jornada no mercado musical. 

Atualmente, em sociedade com Nathy Faria, Estrategista Musical, Clemente revela que está montando uma grade de produtos para o fim deste ano. O produtor musical conta que eles terão qualidade de conteúdo e prometem uma produção muito fora da curva. 

“O meu grande sonho mesmo é que as grandes marcas cheguem ao meu canal para que eu possa dar praticamente tudo de graça. Num país onde o estado é podre, corrupto e nossos governantes inaptos para os cargos, as empresas podem desempenhar essa função de alguma forma. As marcas hoje tem que ter uma função social diante de um consumo cada vez mais consciente. Faço meu trabalho com todo amor e responsabilidade para que nosso canal seja um portal gratuito com a maior quantidade de informação do país.”

Entrevista: “Compartilhar conhecimento foi o que me curou”, conta Clemente Magalhães

Clemente Magalhães. Foto: Reprodução/Instagram @cle_corredor5

Diferente de alguns profissionais da indústria musical, Clemente se descobriu nesse lugar de compartilhar conhecimentos.  E, para se dedicar a isso, o produtor musical diz que só tem uma cliente fixa, a cantora Dora Sanches.

Além disso, Clemente faz alguns trabalhos pontuais como A&R e lamenta não ter mais tempo para gravar discos. 

“Entrar em estúdio para produzir com os valores pagos pelo mercado ficou inviável. Aliás, esse é um ponto que a indústria precisa rever, já que estamos novamente no auge. Voltar a investir em fonogramas bem produzidos, com profissionais capacitados para tal, pagar bem aos músicos, arranjadores e toda a cadeia produtiva…Todos nós sabemos que bundas e abdomens sarados e músicas que não são canções e sim ‘motes’ não se transformaram em catálogo nas próximas décadas. Bundas caem, celebridades envelhecem mas belas canções sempre ficam. A história está aí pra provar.  Os próprios salários pagos dentro das gravadoras são muito muito aquém do justo.” 

Por fim, o produtor musical revela que, daqui a cinco anos,  gostaria de estar com o Corredor 5 democratizando a informação.

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