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Bernardo Sim – Grammy 2016: surpresas, comentários e apostas


Começou a corrida entre os finalistas da 58ª edição do Grammy Awards. Apesar das indicações só terem saído nesta segunda-feira (7), muitos destes artistas já estavam em campanha durante todo o ano de 2015. Rolaram algumas surpresas e algumas escolhas óbvias, como sempre, mas em geral, é evidente que a premiação está tentando agregar escolhas mais populares, mesmo que os vitoriosos continuem, em sua maioria, escolhas mais tradicionais.

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Surpresas
Kendrick Lamar, com 11 nomeações, incluindo Álbum do Ano e Música do Ano, foi a grande surpresa das indicações para o Grammy de 2016. O disco “To Pimp A Butterfly” é sensacional e já tinha sido muito bem recebido pela crítica, mas veio como surpresa ver um rapper liderando o número de indicações. O Grammy vem, há anos, sofrendo de acusações de preconceito. Eu geralmente evito entrar nessa polêmica, mas é bem claro o desinteresse histórico da premiação em relação ao hip hop e à música urbana em geral.

Muita gente também ficou surpresa que “Hotling Bling”, do Drake, não recebeu nenhuma indicação. Esta foi uma decisão do próprio Drake e do seu time. Para quem não sabe, uma música precisa ser enviada (pelo artista) ao Grammy para ser considerada pelo júri. Isto realmente não aconteceu, mas não existe nenhuma explicação oficial até agora.

Depois do grande ano do Fetty Wap, não encontro uma explicação para a falta de indicação dele na categoria de Artista Revelação. A sua “Trap Queen” aparece nas categorias Melhor Música de Rap e Melhor Performance de Rap, e ele foi sem sombra de dúvidas a maior revelação de 2015.

Também fiquei surpreso que Kelly Clarkson só recebeu duas nomeações pelo “Piece By Piece”.

Comentários
Para mim, a categoria Música do Ano é a mais interessante dos últimos tempos. Todas as músicas indicadas para a edição de 2016 fizeram sucesso e carregam conceitos que definem o estado cultural em que nós nos encontramos. “Girl Crush” do Little Big Town é uma música country (!) cantada por uma mulher (!) sobre o interesse em outra mulher (!). Isso é surpreendente num gênero como o country, geralmente tão careta.

“Alright” do Kendrick Lamar se tornou o hino do movimento negro americano em 2015, sendo cantada em todas as passeatas e protestos. “See You Again” do Wiz Khalifa celebra a amizade entre dois homens e desafia as ideias de que homem não chora. “Thinking Out Loud” do Ed Sheeran também quebra essas noções tradicionais da masculinidade ao colocar um menino abrindo o seu coração de forma doce e submissa. Finalmente, “Blank Space” da Taylor Swift é o grande hino da geração superexposta e hipercrítica da internet.

O The Weeknd e a Taylor Swift empataram com sete indicações cada, e isso já era de se esperar. O Diplo não dominou várias categorias como alguns esperavam. O ótimo “The Pinkprint” da Nicki Minaj não vingou. O domínio comercial do Drake em 2015 também não.

Apostas
O The Weeknd pode se sair bem na categoria Melhor Performance Pop (Solo) com a excelente “Can’t Feel My Face”, mas não deve ganhar nenhum grande prêmio. Nas categorias de R&B, deve perder pro D’Angelo And The Vanguard, que teve um excelente ano.

A escolha popular de melhor Trilha Sonora com certeza seria a do seriado “Empire” ou do filme “A Escolha Perfeita 2”, mas o prêmio vai provavelmente para algo mais sério como a trilha do filme “Selma”.

A “Til It Happens To You” da Lady Gaga tem grandes chances de vencer o prêmio de Melhor Música Escrita Para Uma Mídia Visual, mas vai competir com “Glory” (do filme “Selma) do Common e do John Legend – que já ganhou um Oscar.

Já quando o assunto é Álbum do Ano…
Em 2011, o Álbum do Ano não foi para Eminem, Lady Gaga ou Katy Perry: foi para o Arcade Fire. Em 2012, Lady Gaga, Rihanna e Bruno Mars perderam para Adele. Em 2013, Mumford & Sons ganharam do Frank Ocean e do Fun. Em 2014, não ganhou Taylor Swift, nem Sara Bareilles, nem Kendrick Lamar… O grande prêmio da noite foi para o Daft Punk. Finalmente, em 2015, Beck foi o vencedor do Álbum do Ano, derrotando Beyoncé, Pharrell e Sam Smith.

Não precisa ser um gênio para perceber que o Grammy Awards tem, em geral, um problema em premiar mulheres, negros, ou trabalhos de extrema popularidade. Os vencedores sempre têm trabalhos incríveis, sim, mas fica parecendo que só tem hipster no júri. Fica parecendo que fazem questão de *não* premiar um grande trabalho que também foi popular.

Em 2016, o Grammy Awards vai ter duas oportunidades para se redimir: temos o “1989” da Taylor Swift, um trabalho excelente, feminino, e extremamente popular, e temos o “To Pimp A Butterfly” do Kendrick Lamar, que é um disco negro, sensacional e unanimemente bem recebido pela crítica. Quando se trata de Álbum do Ano, ignorando a vitória inevitável da Adele, não é comum premiar popstars e é praticamente impossível premiar rappers. Até hoje, só um disco de hip hop ganhou esse grande prêmio: o “Speakerboxxx/The Love Below” do OutKast, em 2004. E vamos combinar que este álbum (o de “Hey Ya!”) carregou um hip hop bem pop.

É bem simples fazer apostas para o Grammy: escolha o indicado mais tradicional. As chances de acerto são grandes. Porém, sempre fica a esperança que dessa vez a premiação vá aprender a valorizar coisas ótimas que o grande público também curte. Não tenho nenhum interesse que eles virem uma espécie de VMA, mas acredito que muitos discos pop mereciam prêmios que acabaram não levando no decorrer dos anos. Que vença o melhor.