O primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, completou 50 anos. Muito mais que uma agremiação de carnaval, o grupo se tornou um dos maiores símbolos de representatividade, afirmação da cultura afro-brasileira e luta contra o racismo. Por meio da música, arte e dança, o Ilê Aiyê já transformou vidas no bairro da Liberdade, em Salvador (BA), como apontou a ministra da Cultura (MinC), Margareth Menezes, em entrevista ao Globo News, nessa semana (4) com informações do MinC.
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“O Ilê Aiyê foi idealizado para ser um bloco de carnaval, mas para a comunidade era a possibilidade de visitar outras formas da cultura e poderes do povo negro. Nas músicas e danças o povo teve a auto-estima elevada. A arte e a cultura tem um potencial social e econômico de transformar vidas”, explicou a ministra.
Ainda na entrevista, Carlinhos Brown, cantor e multi artista falou que a criação de um bloco somente com negros, mostrou a população que “os negros também tinham um lugar para convivência”, disse.
Representatividade do Ilê Aiyê
Ao longo de sua trajetória, o Ilê Aiyê se consolidou como um dos blocos afro mais importantes do carnaval baiano. Com uma estética que destaca a beleza e a ancestralidade, seu repertório é composto por canções que exaltam a história e a resistência do povo negro, com letras que abordam temas como a luta contra o preconceito, a valorização da cultura africana e a busca pela igualdade.
Durante a entrevista, Vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê, explicou que as músicas do grupo têm função educativa e transformam a forma como as pessoas vivem e se relacionam com a cultura. “A música educa! Quando a gente trata de um tema, falamos da África, falamos da juventude negra. É uma contribuição para a sociedade cantar músicas de blocos afro”, explicou.
Social
Além dos desfiles durante o Carnaval, o Ilê Aiyê realiza ao longo do ano uma série de atividades culturais e sociais, incluindo projetos educacionais, oficinas de percussão, literatura, canto e dança, e eventos que promovem a integração da comunidade. “Em todos os lugares que tem diáspora negra, existe uma revolução acontecendo e o Ilê é essa revolução. As pessoas que construíram o Ilê Aiyê são heróis do nosso povo”, disse a ministra.
Com maior investimento da história, Carnaval do Pelourinho é aberto oficialmente por Jerônimo e Geraldo Júnior
Um passeio pela história do povo wodaabe, etnia nômade do Níger, na África Ocidental, caracterizou a abertura oficial do Carnaval do Pelourinho nesta sexta-feira (9), com a saída do Olodum, em Salvador. O tema do desfile deste ano também deu espaço para a percussão inspirada em etnias de gana e dos povos ashanti. O governador Jerônimo Rodrigues e o vice-governador e coordenador do Carnaval, Geraldo Júnior, acompanharam a saída do bloco tradicional desde a casa do Olodum, no Centro Histórico da capital baiana.
No ano em que o Ilê Aiyê, primeiro bloco afro do Brasil, completa 50 anos e que o Olodum celebra seus 45 anos, o governador faz uma avaliação sobre a importância dos blocos afro e do debate do racismo.
“O Carnaval do Pelourinho é, realmente, diferente. Ele tem uma energia diferente. O público daqui é um público diferenciado. A cultura bate mais forte aqui, não tenho dúvida disso. E 50 anos homenageando os blocos afro. Pela história, o Carnaval de Salvador e da Bahia tem muitos valores. Mas um dos mais fortes é o potencial dos blocos afro, que trabalham o ano inteiro com projetos sociais, com a questão racial, com a questão das crianças e adolescentes. Aqui, é o fechamento de um ciclo de projetos muito importantes. E nós continuaremos pegando nas mãos desses blocos”, afirma.
O vice-governador e coordenador do Carnaval endossa, lembrando que o Carnaval do Pelourinho é o Carnaval da democracia.
“Falamos muito positivo das ações planejadas da segurança pública, do turismo, da cultura, da saúde. Mas aqui é, também, um exemplo de resistência, um sinônimo de liberdade, de inclusão social, de participação. É o Carnaval para todos, é o Carnaval da democracia. É um exemplo de paz”, completa Geraldo Júnior.
O Olodum foi também um dos blocos contemplados pelo programa Ouro Negro em 2024, que teve o maior investimento da história no estado, chegando a cerca R$ 15 milhões. O valor destinado às manifestações culturais da diáspora na Bahia também foi estendido às participações das entidades e agremiações de matriz africana nas festas populares da capital e do interior do estado.
“Cabe ao Carnaval contar a história da nossa gente, da nossa origem, valorizar ela. É uma forma de educar. O que as pessoas estão vendo hoje não vivem no cinema nem na escola. Cabem aos blocos afro contarem”, avalia João Jorge Rodrigues, cofundador do bloco Olodum.
Ao todo, 132 propostas foram contempladas para o Carnaval – 70 a mais em relação a 2023. Desse total, 103 grupos estarão em Salvador. Além do Olodum, também estarão na avenida o Ilê Aiyê, os Filhos de Gandhy, o Malê Debalê, o Cortejo Afro, o Bloco Alvorada, Bankoma e Banda Didá.
O Estado também está no Carnaval com ações nas áreas da saúde, segurança, proteção e defesa das mulheres e dos direitos humanos, combate ao racismo e sustentabilidade.