Daniel Ek, CEO do Spotify, investiu mais de US$ 114 milhões na Helsing, uma startup de segurança europeia que fabrica software de inteligência artificial para “proteger as democracias liberais”. A notícia caiu como uma “bomba” no mercado da música e, de acordo com informações da Billboard, fez com que diversos artistas se unissem para “boicotar a plataforma”.
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Vale destacar que, há pouco mais de um ano, Ek, prometeu € 1 bilhão (aproximadamente R$ 6,14 bilhões) de sua fortuna pessoal para financiar “projetos de alta tecnologia” espalhados pelos próximos 10 anos. Em particular, ele estava mais interessado em impulsionar a tecnologia europeia e os empreendedores europeus, pois disse que eles eram “tipicamente subfinanciados em comparação com os colegas dos EUA”.
Porém, o investimento do início de novembro da empresa de um ano e meio de Ek, Prima Materia, desencadeou um movimento de mídia social de “boicote ao Spotify” que avançou gradualmente e tem na lista nomes como Z. Skee Mask, um produtor e DJ alemão de techno, que desencorajou seus 16.900 seguidores no Twitter no início deste mês de dar seu “último centavo a um negócio tão rico que obviamente prefere o desenvolvimento da guerra em vez da progressão real no negócio da música”.
“As evidências circunstanciais apontam para um investimento maciço em tecnologia militar/IA. Fiquei muito decepcionado. Não existem outras alternativas nas quais o Sr. Ek poderia ter pensado em investir para tornar o mundo um lugar mais bonito e talvez mais seguro para se viver?”, diz Sangita, que administra a gravadora independente Sangita Sounds, em entrevista a Billboard.
A Helsing, comandada por Torsten Reil e Gundbert Scherf, disse ao Financial Times que eles são “especializados no uso de infravermelho, sonar e frequências de rádio de sensores de veículos militares para ajudar soldados a detectar drones inimigos e tropas hostis”, aumenta o histórico de artistas irritados com o Spotify. Os representantes do Spotify e da Prima Materia não comentaram o assunto para Billboard.
Descontentamento com Spotify
Ainda de acordo com a Billboard, embora todas as três grandes gravadoras tenham participação na empresa e o streaming de áudio tenha crescido 12,6% em 2021, segundo a MRC Data, artistas de Paul McCartney a David Crosby criticaram a plataforma por seus baixos pagamentos de royalties. “É uma porcentagem tão pequena”, disse McCartney no ano passado.
Assim como o YouTube e a iTunes Store da Apple em épocas anteriores, o Spotify se tornou um distribuidor que os artistas não podem ignorar, dados seus 381 milhões de usuários em todo o mundo, incluindo 172 milhões de assinantes pagos. Mas para Sameer Gupta, percussionista do Brooklyn, NY, que combina jazz e tabla indiana, o investimento de Ek em Helsing foi a “palha que quebrou as costas do camelo”, levando-o a retirar sua música do Spotify para focar no Bandcamp, onde ele posta 15 álbuns.
“Todo o dinheiro que está sendo tirado de artistas e músicos está sendo canalizado para isso. Não conheço um único músico que diria: ‘Essa é a função da música’.”, diz ele, referindo-se a Helsing.
Artistas raramente boicotaram distribuidores de suas próprias músicas, mas alguns casos já foram registrados, como: em 2014, Taylor Swift retirou brevemente seu catálogo do Spotify e, durante anos, estrelas de Garth Brooks a Kid Rock se recusaram a licenciar suas músicas na iTunes Store.
Mais recentemente, o Spotify se tornou um ponto de inflamação para artistas irritados com a economia do streaming. Em abril passado, o Sindicato de Músicos e Trabalhadores Aliados fez piquetes nos escritórios mundiais da empresa sueca. “Isso afeta todo mundo, e isso é algo que muitos músicos não sabem porque não estão prestando atenção no Spotify”, disse a cantora e compositora Julia Holter ao Los Angeles Times.
Outros investimentos da empresa de Daniel Ek
De acordo com o site da empresa de investimentos Prima Materia, ela investiu na Northvolt, uma empresa de células de bateria que visa uma pegada de carbono 80% menor nos próximos oito anos, e na H2 Green Steel, uma empresa de tecnologia de produção de aço de baixa emissão de carbono.
A empresa está “trabalhando com cientistas, engenheiros, inventores e investidores para construir parte da tecnologia profunda necessária para causar um impacto positivo significativo”, diz seu site.
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O Spotify não é o primeiro no ramo da música a gerar reação por trabalhar com entidades militares – direta ou indiretamente. Em 2015, a Apple, que criou a iTunes Store, o iPod e a Apple Music, fez parceria com o Pentágono para produzir um produto vestível para soldados chamado de eletrônicos elásticos. No final dos anos 2000, Mariah Carey, Beyoncé, Usher e outros receberam até US$ 1 milhão cada um para shows privados para membros da família do falecido ditador líbio Mummar el-Qaddafi.