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Entrevista: Silva chega aos 30 anos seguro, alegre e de álbum novo


(Foto: Ana Wander Bastos / Divulgação)

Já são cinco álbuns lançados, incluindo um ao vivo. Silva chega aos 30 anos com a carreira em ascenção. Seu último disco de estúdio, “Silva Canta Marisa” (2016), fez aumentar sua agenda de shows e ainda lhe conferiu duas indicações ao Grammy Latino. O novo trabalho, “Brasileiro”, tem como carro-chefe um single com ninguém menos que Anitta – algo tão inusitado quanto sintomático de sua popularização. Silva já foi um artista indie, ignorado pela MTV – algo que gosta de lembrar. Os tempos são outros. “Fica Tudo Bem”, a música com a cantora de “Vai Malandra”, entrou no Top 50 do Spotify Brasil, arrebatou 6,8 milhões de acesoss no Youtube em um mês, e ganhou elogio até da americana Becky G.

A estética colorida do clipe é sentida em todo o álbum, com 13 faixas. Silva está se mostrando alegre e solar. No primeiro single, “A Cor É Rosa”, convidou a galera pra dançar. As cores também invadiram seu Instagram. Ele, que só postava fotos com filtro preto e branco, aderiu a cores vibrantes desde 11 de maio, quando lançou essa música. Sua conta está cheia de amarelos, rosas, vermelhos, azuis. Mais seguro de si, o cantor conversou com o POPline e abriu um pouco de sua intimidade também. Confira!

Para ler ouvindo:

Parabéns pelo álbum novo!
Puxa, obrigado! Obrigado mesmo!

Eu fui no seu show aqui no Rio…
Sério?! Que legal!

Fiquei com a impressão que as músicas novas são mais.. animadas. É isso mesmo?
Sim, são sim! Mesmo que algumas não tenham o bpm tão acelerado – são lentas – mas o humor delas é mais pra cima. Tem umas que são bem lentinhas, mas a vibe é boa, mais animada, mais feliz.

Foi algo que você se propôs ou aconteceu naturalmente?
Ah, eu quis fazer um álbum feliz, sabe? Uma coisa… eu tô em um momento assim pessoalmente. Estou gostando da minha idade, do jeito que estou lidando com as coisas… Fiz muita terapia. Aqueles, né? (risos) É uma coisa que eu quis desde o início da carreira. Quando lancei o primeiro álbum, tinha de 22 para 23 anos, e era muito inseguro. Sofria muito com o palco. Era sempre uma questão enfrentar o público, porque eu era muito autocrítico, queria fazer sempre o melhor possível e achava que nunca estava bom o bastante. Por causa dessas noias todas, entrei na terapia e não larguei mais. Achei uma pessoa maravilhosa, que me entende pra caramba e me bota lá em cima. Ela trabalhou muito minha autoestima. Não sou um cara sem noção (risos), daqueles que “ah, me acho um máximo”, não é isso. Mas estou gostando de mim. Estou gostando do jeito que sou. Eu lutava contra, achava que era tímido demais, e agora estou achando meu jeito de fazer as coisas, sem sofrer por isso. Por isso que esse disco está feliz, porque estou assim na vida.

Sua terapia é aí no Espírito Santo?
É! (risos) Depois te passo co contato dela, se quiser.

Mas como você faz terapia em turnê?
Eu fico fazendo no intervalo das viagens. Como tenho uma agenda maluca, que não tem um cronograma tão certinho, às vezes eu falo com ela até online. Virou uma amiga. Uma pessoa que me ajuda muito. Acho que isso me fortaleceu pra caramba, pra ter cabeça e manter o pé no chão. É importante.

No show, por exemplo, as pessoas gritavam “lindo”, “gostoso”, “casa comigo!”…
(gargalha)

São coisas típicas de shows massivos. Mas era um teatro, um público menor. A plateia sempre foi calorosa assim ou está se soltando junto com você?
Nossa, você pega tudo no ar. Você saca tudo! Eu acho que as pessoas estão se soltando mesmo junto comigo. É engraçado isso, porque eu nunca me achei muito sexualizado. Sempre me achei muito tranquilo. Mas sempre me sexualizaram muito. Eu postava uma foto que aparecia minha boca direito e comentavam “que boca!”, não sei o quê. Eu achava aquilo engraçado. Mas sempre me mostrei tímido. Eu sofria mesmo no palco. Não era um lugar no qual eu ficava à vontade, então acho que as pessoas tinham essa vontade, mas não tinham a coragem, porque podiam me deixar desconfortável. Agora, como estou mais soltinho também (risos)… Estou mais tranquilo, me sentindo à vontade no palco, então as pessoas se sentem na liberdade de gritar e interagir comigo. Eu levo de uma forma engraçada. Uma coisa que eu tento é não me levar muito a sério. Tem gente que grita coisas que são até meio pesadas! (risos) Eu morro de rir, acho engraçadíssimo, não ligo, não. É muito melhor do que ter um público morto, entendeu?

Você passou uns bons anos sem lançar material autoral. As músicas do “Brasileiro” foram compostas neste período ou só quando você encerrou o projeto “Silva Canta Marisa”?
Foi no meio do furacão. “Marisa” foi um projeto que me custou bastante, né? Era para ter sido só um programa de TV, aí veio o disco, um monte de coisa, veio a turnê, e a turnê foi só aumentando, porque as pessoas foram gostando do show… Não parava de ter convite para show. A gente teve que tomar uma decisão meio brusca: “vamos parar de fazer o show e pronto”. Fui compondo essas músicas no meio da turnê, senão o “Brasileiro” ia demorar muito a sair. Se eu esperasse acabar a turnê para gravar, só ia conseguir lançar no fim deste ano ou no começo do ano que vem. Foi um processo pesadinho, porque eu voltava dos shows para casa e tinha aqui montado um mini estúdio para eu produzir e compor. Não parei de trabalhar. Não tive essa folga. Agora, por exemplo, voltei do show do Rio e, nesta semana, estou mais tranquilo. Consigo ter a vida normal. Hoje tentei ir à praia, dar um mergulho… Nessa época fazendo o “Brasileiro”, não tive muito isso. Viajava para tocar e voltava para trabalhar nas composições. Foi bem trabalhoso, mas eu gostei.

Só uma música do álbum não é de sua autoria. Depois do álbum com repertório da Marisa, ficou mais aberto a gravar outros compositores?
Ah, muito. A Marisa é uma pessoa muito legal e tenho muita sorte de ter conhecido ela. Ela é uma diva mesmo, mas quando você a conhece ela desconstrói totalmente essa imagem. Você fica “cara, que mulher legal!”. Ela é muito inteligente e muito mais aberta do que todo mundo imagina. A filha dela é viciada em Camila Cabello. Fui na casa dela e ela falou “você não vai acreditar, tô sabendo cantar Havana de cor!” (risos). Então, assim, ela é muito legal, muito generosa. A gente ficou amigo. Foi um contato muito importante para mim. Eu não tinha tido isso ainda. Até com os músicos da minha geração, era um contato muito rapidinho. A Marisa fez questão de eu ir na casa dela e falava “sempre que vier ao Rio, me fala”. Ela me influenciou muito, não só porque cantei as músicas dela, mas porque me aproximei dela. E ela tem essa coisa de parceria. Ela está sempre com muitos parceiros, muitos amigos em casa para tocar violão junto, cantar, beber uma cerveja… Eu nunca tinha tido essa vivência na vida, mesmo. Isso me deixou vontade de me abrir e de me conectar com outros compositores. Neste disco, tem o Arnaldo [Antunes], o Ronaldo Bastos, que é um gênio que fez “Chuva de Prata” e um monte de hits dos anos 1980. Ele tem essa veia pop, mas é um cara que veio do Clube da Esquina ao mesmo tempo. Foi muito legal ter alguém como Ronaldo compondo comigo. A gente já está cheio de planos – coisas para novela, coisas assim (risos).

Como surgiu esse conceito de “Brasileiro”?
Eu comecei a compor, pensando no disco, em abril do ano passado. As músicas já estavam vindo com uma pegada muito brasileira – isso talvez influenciado pelo show do “Silva Canta Marisa”, porque eu cantava Novos Baianos, Caetano, Tim Maia, um monte de coisa que eu gosto. Acho que já foi me influenciando, porque estava cheio disso na cabeça. Aí fui para Portugal fazer uns festivais de verão lá e fiquei um tempo a mais. Fui tocar em um hotel chiquérrimo (risos), e me deixaram uma semana a mais lá. Eu estava sozinho, eu e meu irmão na verdade, estava sem namorado, sem ninguém, e fiquei “cara, tá meio triste isso aqui, saudade do Brasil…”. Comecei a tocar algumas das músicas novas e decidi: “quer saber? O disco vai se chamar Brasileiro”. Foi lá que eu decidi. Estava lendo algumas coisas sobre o Brasil, lendo Darcy Ribeiro, coisas assim, e foi isso. Achei que seria apropriado. Meu nome é Silva, mais brasileiro impossível, e eu sempre fui muito gringo no meu som. Nos meus primeiros discos, eu me importava muito com qual era a banda mais legal do momento – que a Pitchfork falou. Sabe uma coisa assim? Eu era ligado nessas coisas. Eu tentava ouvir tudo que saía de novo. Passou um tempo e fui enjoando disso. Não que eu não ligue mais para música nova. Eu gosto de descobrir coisas novas, mas não tenho essa ansiedade de “preciso saber a última banda lançada em Londres ontem”. Eu tinha um pouquinho disso, uma coisa de gente nova, acho. Fui realmente me conectando com as coisas que mais me emocionam, e boa parte é de música brasileira. Comecei a valorizar mais isso, não esconder do meu trabalho. Eu pensava que, por ser de Vitória e não do Rio ou da Bahia, lugares que tem culturas emblemáticas, eu não era apto o bastante para tocar um samba, um afoxé. Comecei a ter mais coragem. “Quer saber? Eu toco, eu canto, eu gosto desse tipo de música, então vou abraçar o que estou a fim de fazer agora”. O disco veio assim, porque eu estava me divertindo fazendo isso.

Esse álbum, como a gente falou, é mais alegre. É extremamente leve, com esse título “Brasileiro” em um momento político de muito radicalismo no país. Você pensou nisso?
Pensei, pensei bastante. Até fiquei relutante com relação ao título do disco em uma época, porque é importante pensar no que pode ser interpretado em cima do nosso trabalho. A gente vê tantos problemas causados… Eu me importo muito. Toda vez que vou fazer alguma coisa – um clipe, um disco mesmo, uma letra – eu penso se não está ferindo alguém, se não estou sendo desrespeitoso com alguém sem querer, sem saber… então tento ser bem ligado com essas coisas. Mas, em relação ao título ser “Brasileiro” neste momento, eu acho assim: todo músico, quem trabalha com criatividade, todo mundo tem sua contribuição para dar. Eu sou um cara muito leve na vida, de verdade mesmo. Sem fazer a zen aqui (risos). Eu sou tranquilo, faço meditação, sou meio maconheiro, estou sempre na praia, gosto de natureza… Adoro uma festa, adoro a noite também, mas estou em uma fase gostando bastante do dia. E comecei a ler muito sobre política. Tenho amigos muito politizados, que fazem Ciências Políticas, Antropologia, que estudam isso pra caramba, e ficavam me passando coisas. Ficam ainda. Comecei a entrar nessa, só ler sobre política, e comecei a ficar com uma angústia, uma deprê tão grande… isso começou a me fazer muito mal. Falei “não, pera aí, deixa eu fazer um esforço para deixar o negócio mais leve”. Eu estava ficando mal, ranzinza… já não queria cantar músicas de amor. “Por que vou cantar músicas de amor neste momento?”. Aí comecei a refletir e mudei: vou cantar sim sobre amor. Amor, inclusive, é o que a gente está precisando mais do que nunca. Eu acho que essas coisas não ficam velhas. É o que o Torquato Neto fala, lá na época do Tropicalismo: “a alegria é a prova dos nove, a tristeza é meu porto seguro”, sabe? A tristeza está ali. É muito fácil acessar a tristeza, é uma coisa que a gente já tem dentro da gente. A alegria é sempre um esforço. Para a gente ser alegre, tem que se mover, se mexer, sair da zona de conforto, sei lá, sair de casa para pegar o sol. Aquela coisa bem de mãe: “menino, sai da frente do computador, vai ver o sol”. É esse esforço que a gente, como brasileiro, tem que fazer também. Eu sou um pouco positivo nas coisas. Gosto de não ser pessimista. Acho que é um esforço, uma escolha. Não é olhar para tudo e pensar “ah, o Brasil tá lindo”. Eu sei que não está. Mas a gente tem uma cultura linda, a música brasileira não vai morrer, independente da política. O [Michel] Temer vai passar, a crise vai passar, mas a música vai ficar aí. Eu não quis fazer do meu disco um jingle político, sabe?

Você abre o álbum com a música “Nada Será Mais Como Era Antes”. O que você gostaria que mudasse definitivamente no Brasil?
Nossa, tanta coisa! Uma coisa que eu queria que mudasse definitivamente é essa elitização da coisa, de tudo. Essa herança de coronel que ficou no Brasil, essa segregação tão grande: isso aqui é coisa de rico, isso aqui é coisa de pobre, isso aqui é coisa de negro, isso aqui é coisa de branco. Acho que o Brasil é um país tão hipócrita no que prega. A gente é o país do Carnaval, do futebol, da liberdade sexual – a gente prega isso para o mundo. Vem um monte de gringo para cá achando que vai transar a cada esquina. Para quem é brasileiro e sabe como é que é, a gente está em um país conservador pra caramba. Hiper conservador. Eu venho de uma família praticamente toda evangélica. Eu sei como é o negócio, a cabeça. Eu queria que mudasse essa realidade hipócrita em que o Brasil vive, sabe? Queria que as pessoas fosse mais verdadeiras e menos preconceituosas.

Se sua família é evangélica, como ela recebeu um clipe como “Feliz e Ponto”?
(gargalha) Isso é realmente um tema. Então, a minha família é muito controversa. Eu tenho uma relação maravilhosa com eles, principalmente com meus pais. Meu avô era pastor, só que muito inteligente. Foi professor de filosofia. Era um cara inteligentíssimo e prezava muito a leitura. Falava “meu neto, você tem que ler isso aqui”. Sempre foi muito chato com isso. Ele abasteceu a gente – eu e meus irmãos – com tanta coisa, que ele sabia que a gente não ia ficar ali naquele mundinho, entendeu? Minha mãe é professora de música da UFES aqui no Espírito Santo. Apesar de serem evangélicos, têm uma cabeça mais aberta. Minha mãe trabalha com músicos eruditos e músicos eruditos são o bicho mais doido que existe no planeta (risos). Essa galera da música clássica, a gente acha que é careta, mas meu amigo… eles são muito doidos. É sério. É uma coisa engraçada. Ninguém imagina. A galera usa muito ácido, LSD, a galera viaja assim. São os que mais estudam música, né. Estudam música a fundo. Minha mãe cresceu no meio dessa galera de música, então é muito aberta, mas tem as convicções religiosas dela. Ela me respeita muito. Eu consigo ver com a minha família o “Brasil que eu quero” (risos). É o Brasil em que pessoas até evangélicas consigam aceitar as diferenças dos outros. A minha família é uma prova disso. Minha mãe é super tranquila. Meu namorado vai lá em casa almoçar comigo. E é uma família realmente evangélica. Acreditam piamente naquilo.

Você segue a religião?
Não. Zero. Sou zero religioso (risos). Não sei nem no que eu acredito mais. Essa é a verdade. Mas eles me respeitam, então respeito de volta. É uma coisa bonita. Sei que não são todos os evangélicos que são assim no Brasil. Sei bem, porque já fui da igreja quando era novo. É uma pena que seja assim. Eles ganham em cima desse conservadorismo. É uma galera que não é boba e ganha dinheiro em cima disso. Mas tive um bom exemplo na minha família: pessoas muito religiosas, que são muito generosas. Então eu tenho uma esperança de que as pessoas sejam pelo menos mais respeitosas, por mais que pensem e acreditem em coisas diferentes. É saber conviver, saber respeitar o espaço do outro.

Voltando para o álbum…
(risos)

Depois do álbum com canções da Marisa Monte, que já te colocou mais mainstream, você veio agora com a parceria com a Anitta, que é super inusitada. É intencional a busca por se popularizar?
Se eu me tornar mais popular, vou amar. Tenho achado lindo ver o público crescendo. Eu nunca tinha tido quatro shows esgotados como foi agora no Rio. É uma coisa que, pra mim, não acontecia. Eu sou um artista indie! (risos)

Será que ainda é?
Eu não sei mais o que eu sou! (risos) Sei lá. Mas eu sou um cara que veio lá da Internet, da subweb! Meu primeiro show foi [festival] Sónar. Eu lembro que a MTV nem queria falar comigo no começo, porque me achava muito experimental. Logo eu, que sempre me achei pop. Pop, quando digo, no jeito de fazer música. Sempre tem uma melodia pegajosa. Eu gosto dessas coisas. Eu gosto de música “assobiável”. Resumindo meu som, é isso: música que a pessoa pode assobiar junto. Só que nunca tive essa coisa da indústria da música. Não sou muito sagaz que nem a Anitta. Ela é um monstro nisso. Ela sabe tudo. Sabe fazer esse negócio, sabe como se portar, como jogar esse negócio. Eu não tenho isso. Mas eu gosto dessa coisa de elemento surpresa. Acho que Anitta foi um elemento surpresa muito legal. Ninguém esperava. Acho que quebra essa coisa da “mpb chique”, sabe? Eu gosto de mpb chique, amo João Gilberto, adoro João Donato, adoro Moacir Santos, coisas assim. Mas eu também adoro pagode, fui criado em Vitória no pé do morro, não sou de família rica, não tem ninguém famoso na minha família. Sempre ralei muito. Cheguei onde cheguei sem ter empresário rico, porque meu empresário é meu irmão. Ralei pra caramba mesmo, e tenho o maior orgulho disso. E nunca fui preconceituoso com música, então acho que é por isso que misturo tanta coisa no meu trabalho. Tem desde uma coisa mais difícil com os acordes até uma coisa bem pop como “Fica Tudo Bem”. Acho que faz parte.

Você e Anitta gravaram um clipe super fofo. Já combinaram alguma apresentação ao vivo? Você no show dela, ela no seu show?
A gente está tentando se alinhar para várias coisas. A gente recebeu um monte de convite para TV, mas a Anitta está com uma agenda muito pesada. A gente tem que ver. Talvez seja mais pra frente. Tenho vontade de tocar ao vivo, fazer isso ao vivo junto. Está na vontade, mas a gente não sabe ainda nem como nem quando.

Quando você estava lançando o álbum “Silva Canta Marisa”, te entrevistei e você disse que entrar para o mainstream implicava todo um jogo que você não sabia se tinha talento para jogar. Descobriu? Passaram-se alguns anos, deu pra aprender.
Eu acho assim… (risos) Essa pergunta é muito boa! Eu descobri que tenho talento, não sei… Eu descobri que sou carismático. Estou me achando melhor no palco do que era antes. Estou descobrindo vários talentos, que eu não me achava tão bom e hoje em dia estou me achando muito melhor. A gente aprende as coisas. Se você me colocar em um programa de TV mainstream hoje em dia, eu não vou ficar com a cara de taxo que eu ficaria há três anos. Antes eu ficaria com cara de “o que estou fazendo aqui?”. Hoje em dia, seria eu mesmo. Sou risonho, tenho o riso frouxo, ia zoar, não levar tão a sério assim. Ia curtir pra caramba. Se isso é um jogo, estou sabendo jogar melhor, sendo eu. Estou mais seguro de mim. Acabei de fazer 30 anos, estou me curtindo.

Além da Anitta, com quem mais da música pop você gostaria de trabalhar?
Várias pessoas. Deixa eu pensar aqui… Com quem eu gostaria de trabalhar? Ah, Beyoncé, Rihanna..

Nada menos que isso!
Eu me ligo pela música mesmo. Sei lá. Gostaria de trabalhar com muita gente. A própria Ivete. Inclusive, ela me mandou uma mensagem. Ela falou de mim na coletiva do “The Voice”. Perguntaram para quem ela viraria a cadeira e ela me citou. Eu agradecei pelo Instagram e ela foi super fofa: “eu não estava mentindo, estava falando a verdade”. É alguém que vejo a vida inteira. Sou fã, acho ela fo**, canta muito, é um furacão também. Eu adoraria fazer alguma coisa com a Ivete. Com a Gal, já fiz, mas tenho muita vontade de gravar com ela. Nunca gravei junto [ele compôs uma música para ela]. Caetano, Gil… todos são pessoas com quem eu adoraria fazer algo junto.

Você tem uma vibe despretensiosa, que não sei se é só aparência ou a realidade.
(risos)

Qual sua maior ambição na carreira artística? O maior sonho?
Eu quero ser um músico fo**. Essa é minha maior ambição: ser um músico incrível, cantar pra caramba.

Isso vem de uma validação externa ou basta você saber? Qual seria o parâmetro?
Acho que é eu saber mesmo. Uma coisa que eu não falo muito, porque pode soar “esse menino está se achando”, mas eu tenho ouvido absoluto, sabe? Ouvido absoluto é: toca uma buzina ali na rua e eu sei que nota é. Estudei piano, violino, toco guitarra, toco baixo, canto, sei quando dou um deslize e uma desafinadinha que incomoda, então sou bem perfeccionista com música. Quero fazer discos incríveis, músicas para as pessoas transarem, se amarem, tipo eu fico ouvindo o disco do D’Angelo, “Voodoo” (2000), um dos meus prediletos da vida. Eu falo: “cara, ele fez esse disco há 20 anos e continua sendo tão atual, tão maravilhoso”. Minha maior ambição como músico é que minha música fique. Que ela envelheça bem. Que, daqui a 20 anos, as pessoas ouçam e falem “pô, que cara legal era esse tal de Silva”. Eu não ligo tanto para números, “ah, quero tocar no Maracanã”, sabe? Se rolar, vai ser ótimo, mas eu quero fazer um show cada vez melhor, fazer músicas que as pessoas fiquem arrepiadas da cabeça ao pé. Essa é minha ambição.

Obrigado, Silva. Para terminar, deixe um recadinho para os leitores do POPline.
Eu adoro o site, adoro vocês, adoro o jeito que os leitores falam. Acho super engraçado, divertido, debochado. Eu adoro esse humor! (risos) Obrigado pelo carinho sempre. O site está sempre falando do meu trabalho e fico muito feliz. Tomara que as pessoas continuem gostando das próximas coisas que eu fizer.