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Entrevista: conheça melhor Jão, aposta masculina para o pop nacional

(Foto: Vitor Manon)

“Descoberto na internet, Jão é considerado uma das vozes mais promissoras da atual cena pop brasileira” – essa é a frase de abertura em sua conta na VEVO, com mais de 23 milhões de visualizações em sete meses. Sintética e direta. Jão é a cara da geração Z: nasceu com a explosão da Internet, cresceu conectado e encontrou no ciberespaço o lugar para mostrar seu talento. Vendendo-se ora como “cantorzinho” ora como “cantorzão” em seus perfis nas redes sociais, o paulista formou seu público com covers de artistas famosos como Rihanna, Beyoncé, Ed Sheeran, Pitty, Marília Mendonça e Maiara & Maraísa. Hoje em dia, esses vídeos só são encontrados em canais de terceiros. Jão se profissionalizou. Desde 2017, tem contrato com o estúdio Headmedia e, por tabela, com a Universal Music, maior empresa de música do mundo.

De lá para cá, começou a mostrar seu trabalho autoral. Lançou dois singles e clipes de uma vez, “Álcool” e “Ressaca”, e essa segunda despontou na preferência popular. Passou a fazer pequenos shows pelo Brasil, saindo do virtual para o cara-a-cara com os fãs. Cantou, inclusive, na festa de dez anos do POPline no fim do ano passado. Mas a guinada mesmo veio com “Imaturo”, terceiro single, que até o momento do fechamento desta matéria registrava 14 milhões de reproduções no Youtube e mais sete milhões de streams no Spotify. Com o sucesso, o projeto de gravar um EP virou um álbum – previsto para sair no segundo semestre. Mas antes Jão encontrou tempo para gravar e lançar o EP “Primeiro Acústico”, com versões de todas essas músicas, mais a inédita “Aqui”. Cada faixa ganhou também um vídeo. Ele sabe desde sempre que o povo gosta de vídeos. Tudo começou assim, afinal. A versão acústica de “Imaturo” já tem 1,5 milhão de visualizações no Youtube. Nasce o cantor pop mainstream que faltava no Brasil?

POPLINE – Esse título – “Primeiro Acústico” – significa que vai ter outro?
JÃO – Cara, eu acho que, em algum momento, sim. Eu gostei muito de fazer e era para ficar mesmo esse negócio de que, se é o primeiro acústico, vai existir um segundo acústico. A gente queria brincar com isso. Mas eu pretendo fazer mais pra frente. Foi algo que eu curti fazer.

O “Primeiro Acústico” traz seus três singles, mais a inédita “Aqui”. Ela já foi pensada nesse formato ou existe também outra versão?
Existe uma outra versão. Na verdade, a versão dela é bem mais pop, com elementos bem mais eletrônicos. Eu comecei a botá-la nos shows e a galera começou a gostar bastante. Eu não sabia o que fazer com ela: se botava no álbum, se lançava paralelamente… e aí acho que a gente encontrou uma boa forma de usá-la nesse EP acústico, mostrando-a de outra forma para a galera que já tinha ouvido a versão mais pop e também para poder ouvi-la sempre.

Você pretende lançar a outra versão?
Pretendo botá-la no álbum. Não deve ser um single, mas deve entrar no álbum.

“Aqui” fala de um romance no passado, e sucede “Imaturo”, no qual você revisita sua infância e adolescência no clipe. Você é nostálgico mesmo ou está apenas vivendo esse momento por conta do processo criativo?
Cara, eu sou bastante! Acho que sou muito dramático, primeiro! Gosto dessa coisa de falar as coisas do fundo, e falar também de quando você está de um lado que não é o bom – quando você não é a pessoa mais forte da relação. Eu acho que “Aqui” veio de um relacionamento tóxico: você ama a pessoa, mas não pode ficar com ela, sabe? Eu busco isso de diversas maneiras, com coisas minhas, coisas dos meus amigos… Acho que o refrão dela é tão universal que a galera começou a ressignificá-la. A galera que me segue começou a pensar na música de uma forma diferente, além de um relacionamento.

Teve gente que fez tatuagem, não foi?
Nossa! Foi! No dia que a música foi lançada, fui no MIAW [premiação da MTV] e um fã chamado Davi, que me acompanha há muito tempo, me mostrou que tinha feito a tatuagem. Depois, mais uma menina, chamada Talita, fez também.

Como você lida com essa ideia de estar marcando a pele das pessoas?
Eu acho meio doido. É muito gostoso, porque está na pele da pessoa, é uma coisa que não é efêmera, vai ficar para sempre na pessoa, e para sempre em mim. Não sei se isso é bom pra ela ou não (risos). Espero que seja bom. Mas é muito bom marcar a pessoa dessa forma. Para mim, é uma honra muito grande.

(Foto: Cauê Tarnowski)

Voltando a esse seu comportamento de olhar para trás nas músicas… Você faz terapia?
Não faço. Eu deveria fazer, eu acho. Deveria fazer para me resolver, para ficar mais feliz nas minhas músicas (risos)!

Suas músicas trazem fragilidades e vulnerabilidades, em uma época dominada por mensagens de empoderamento no mainstream. É intencional?
Cara, não é intencional, não. Eu sempre tento fazer uma coisa muito crua, trabalhando com aquilo que me espelho, que eu acredito. E eu sou essa pessoa de alguma forma. Acho que tenho que construir com aquilo que eu vivo, aquilo que eu enxergo. Mas não é intencional, não: eu acho esse movimento de empoderamento muito fod*, muito bom, mas eu não penso muito nele para fazer minhas músicas. Deixo que as coisas aconteçam naturalmente, sabe? Se isso puder empoderar alguém de alguma forma, fico feliz.

Suas composições são sempre confessionais?
Nem sempre. Às vezes eu gosto de imaginar um universo. Tem várias músicas no álbum que não são exatamente experiências minhas, mas contam seu momento, sabe? Algo mais ficcional mesmo. Eu sou muito de pensar em histórias, em coisas que eu viveria, e isso me remeter a alguma composição. Então, nem tudo é confessional. Mas a maioria das composições é sim.

Você compõe mais sozinho ou com parceiros?
Geralmente, componho sozinho e com um amigo chamado Pedro [Dash], que trabalha comigo. A gente meio que faz tudo junto. Ele começou a compor comigo, e a maioria das músicas do álbum são eu e ele. Algumas são com outros compositores, mas a maioria são minha e dele.

Você começou seu trabalho autoral com a gravadora com “Álcool” e “Ressaca”. Como é sua relação com álcool?
Com Álcool single ou com álcool bebida? (risos) Cara, é complicado. As pessoas até me perguntam disso. É complicado. Eu costumo não beber muito ultimamente para ficar de boa, porque quando eu bebo vou até o fim. Não sou de dar um golinho para ficar de boa, sabe? Então estou tentando maneirar nos últimos tempos.

A Adele disse uma vez que escreveu o álbum “21” inteiro bêbada. Já teve experiência assim?
Já, já tive algumas músicas meio bêbado! (risos) Mas acho que não dá certo, viu? Eu prefiro ficar mais sóbrio, mais concentrado. Não saiu coisa boa, não.

O que você tem ouvido ultimamente enquanto faz esse álbum?
Eu gosto muito de entrar no Spotify e só ir ouvindo. Ir naquela “discover” e explorar essas playlists de descoberta. Também tenho ouvido bastante música regional do Brasil. Eu sigo uma playlist do Nordeste, que é linda. Uma playlist grandinha até. Eu gosto, porque me trazem alguns elementos novos para minha música, sem deixar sair do pop. Comecei a ouvir algumas coisas que não costumava ouvir. Ouço bastante Cazuza, Adele – porque gosto muito da forma que ela escreve, ela faz uma história, não é uma coisa tão abstrata -, Kanye West… Sei que as pessoas ficam um pouco bravas comigo porque gosto dele.

Mas pode gostar ué!
Estou ouvindo bastante esse último álbum dele.

E o seu álbum? Já fechou o repertório?
A gente não fechou ainda. Temos umas 16 músicas bem encaminhadas, bem sólidas, mas acho que nem todas elas vão entrar no álbum. Acho que vai ser uma escolha entre essas 16. Está sendo bem desafiador para mim, porque gosto de ficar até a rapa do tacho na música. Uma música estava quase indo para a mixagem e masterização e eu falei “não, volta, porque tenho que mexer nela ainda”. Quando era single era muito difícil, e agora com o álbum é mais difícil ainda.

Todos esses singles entrarão no disco?
Hummm… Não sei. Vou tentar colocar tudo junto e ouvir o que faz sentido ou não para o álbum. Estou vivendo esse processo, sabe? Às vezes acho que alguma coisa não faz mais sentido.

Você recentemente esteve no estúdio com o Rouge. Suas músicas parecem sempre muito íntimas. Como é compor para terceiros?
Foi bem gostoso, na verdade. Achei bem mais fácil do que compor para mim mesmo. Acho que fico muito noiado sobre o que posso falar, se é legal falar aquilo, quando componho para mim. Acho que fico muito preso a mim mesmo. Lá com o Rouge, fiquei mais solto para pensar em coisas que eu não cantaria mas seria legal existir. Gostei muito de fazer isso. Acho que é algo que vou querer fazer mais ao longo da minha carreira.

Está colaborando com mais alguém?
Eu me encontrei com o [Juliano] Tchula, que é compositor da Marília [Mendonça], e a gente escreveu algumas músicas. Eu gosto muito dele, ele é muito legal, e acho que vai acabar entrando alguma música com ele no meu álbum. Gostei bastante. Acho que essas colaborações é algo que quero muito fazer no futuro. Com o Rouge, foi muito legal, porque elas marcaram minha infância. Todo mundo é muito marcado por elas. Estive lá e vi como elas são realmente, sabe? Elas são reais! Elas têm essa coisa popstar para a gente, né? Meio forte. Elas são muito legais, riem o tempo todo, muito doidonas. Muito legal.

(Foto: Pedro Pedreira)

Os singles lançados dão uma ideia da sonoridade ou terá algo muito diferente?
Cara, eu acho que não dão, sabia? O álbum é bem diverso. Ele tem umas coisas muito diferentes. Não quero falar “é muito fod* meu álbum e tal” (risos), mas acho que a gente está conseguindo encontrar uma coisa legal. Um pop meu, que é algo que eu queria muito. Mas elas são muito diferentes das músicas… (pensa) Não sei. Podem ser mais parecidas com “Ressaca”, “Imaturo”, não sei.

O que você não falou sobre o álbum em nenhuma entrevista e pode falar pra gente?
Ah! Deixa eu pensar! Hummmm (pausa) O que eu posso falar, gente? (perguntando à equipe) Nome de uma música?

Nome de uma música é bom, hein.
Oh, tem uma música que se chama “Fim do Mundo”. Ela é bem apocalíptica, bem diferentona.

Seu maior sucesso até agora é “Imaturo”. Acredito que muito da boa recepção se deve ao clipe, que atrai a atenção LGBT. Foi uma maneira de eliminar especulações e tratar de uma particularidade artisticamente?
Cara, não. A gente pensou no clipe como um roteiro fechado mesmo. A história era muito aquilo. Quando começaram a me perguntar sobre isso e pensar sobre isso, fiquei pensando muito em “Grey’s Anatomy” sabe? As pessoas simplesmente existem ali. Tem uma chefe que é uma mulher negra, uma chefe de cardiologia que é uma mulher asiática, e as pessoas não questionam isso. Eu gosto que as coisas existam sem muito questionamento, sabe? Elas estão ali porque estão ali. Mas o apoio das pessoas LGBT é enorme. Ontem mesmo eu postei um story sobre isso. Não foi nem uma questão de especulação, foi mais de expressão artística mesmo.

Eu pergunto porque artistas estão sendo criticados ultimamente por explorarem esse nicho de mercado, o “pink money”, relativo ao público LGBT, sendo na verdade pessoas heterossexuais. A Rita Ora viveu isso com o single “Girls”, que fala sobre a vontade de beijar meninas. Você tem uma opinião sobre isso?
Cara, é um pouco difícil falar sobre isso, porque a gente não conhece os artistas a fundo: quem eles são pessoalmente, qual a vivência deles, a opinião deles. A liberdade artística é muito importante, desde que você não fira ninguém, não ofenda ninguém. Acho que existe sim esse aproveitamento comercial, no Brasil mais com as marcas… Uma marca que nunca falou sobre isso, aí agora explora e acaba fazendo uma propaganda para o meio LGBT. Mas isso é complicado. A gente não conhece as pessoas como elas são, se elas são ou não, o que elas deixam de ser… Acho que não é tão legal se é pensado só comercialmente, mas se é uma expressão artística não tem problema, não.

Você assinou contrato com a Headmedia há pouco mais de um ano. Que avaliação faz desse primeiro ano de trabalho?
É muito diferente trabalhar com a Headmeadia e a Universal [Music]. Era muito eu sozinho e agora eu tenho um suporte, uma equipe, que pra mim é muito bom. Eles me dão um sossego de poder pensar a parte mais artística mesmo. Eu tenho investimento para fazer meus clipes, tenho suporte de imprensa, de televisão, de rádio. É uma coisa que eu talvez demorasse um pouco mais ou mesmo não conseguisse fazer. Eu sempre quis ser um artista pop mainstream, então acho que é um caminho que está dando muito certo para mim. Acho que não dá certo para todo mundo, para outros dá, mas para mim tem funcionado. Eu produzia minhas próprias músicas, e eu não gostava muito de produzir, mas tinha que produzir porque estava sozinho. Agora tenho contato com muitos produtores, compositores, e com pessoas do meio que, neste um ano de contrato, me ajudaram muito. Entrei em contato com coisas que não conhecia. Mas isso depende de cada artista. Tem muito artista independente que dá super certo, que vai super bem.

O álbum já tem previsão para sair?
Acho que no começo do próximo semestre.

Mas começo do próximo semestre é mês que vem.
É! Deve sair no final de agosto ou começo de setembro. Por ali.

Está super chegando já!
Já! Tá chegando! Tá chegando!

Para terminar, deixe um recado para os leitores do POPline.
Leitores do POPline: eu amo todos eles. Muito obrigado pelo carinho sempre. Vocês sempre me dão muito suporte, comentam coisas muito legais sobre mim, me empurram pra frente. Um beijo pra todos. Esperem, porque está vindo um álbum muito lindo para todo mundo, com músicas e parcerias muito legais.