O mercado musical tem diversos setores responsáveis pela construção, desenvolvimento e divulgação de uma produção. O Artístico & Repertório é a divisão encarregada pela pesquisa de talentos e desenvolvimento artístico dos músicos, trabalhando diretamente com artistas junto à empresa. Esse profissional é o elo entre uma gravadora, editora, distribuidora e associação.
Para destrinchar esse setor o POPline.Biz é Mundo da Música preparou reportagens para explicar a atuação desse profissional. O terceiro o entrevistado da série é Miguel Toscano, A&R da União Brasileira dos Compositores (UBC).
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A música entrou na vida de Miguel de uma forma inusitada: no curso de italiano. Na adolescência, seu professor colocava vídeos de Luciano Pavarotti durante a aula. Na mesma época, ele fazia teatro na escola e, a partir disso, começou a cantar em algumas apresentações.
“Fui estudar canto lírico, depois canto musical e não parei mais. Conheci Jazz, Rock, R&B… até encontrar de vez com a Música Brasileira, já adulto. Foi um caminho não muito convencional, de fora para dentro, da música estrangeira até a MPB, mas o segredo sempre foi: música todo dia, toda hora. E o cantar me ajudou com isso!”
Em 2016, Toscano começou a estagiar na Rádio MIX, fazendo produção. No mesmo ano, apareceu a oportunidade de trabalhar como A&R na UBC. Na associação, as portas da música brasileira se abriram para ele e, também, o conhecimento sobre os direitos autorais.
“Ao entrar na UBC, tive que estudar muito, tenho vários cadernos com anotações, repassando os formatos, as regras e os sistemas. Até entender que na música existe um caminho de etapas que sempre começa pelo direito autoral, passando pela obra musical, depois o fonograma e por aí vai. Felizmente, tive a honra e o privilégio de entrar no mercado trabalhando na maior sociedade do país, que é a UBC, aprendendo com grandes mulheres e homens do business brasileiro.”
Segundo Miguel, o objetivo do Artístico & Repertório da sociedade de gestão coletiva é de prospectar novos talentos, nesse caso, compositoras, autores, cantautores, músicos produtores fonográficos e intérpretes. Ou seja, todos que possam se filiar para receber seus direitos autorais e conexos.
“O A&R de sociedade ajuda os titulares de música a resolverem todos os problemas envolvidos com suas obras e fonogramas. Isso vai desde cadastros de novas obras e fonogramas, problemas com cadastros incorretos, duplicidades, liberações de shows, até grandes transferências de catálogos inteiros, arrecadações internacionais e descoberta de créditos retidos.”
Diferente dos A&R de gravadoras ou distribuidoras, o cargo em uma associação não participa diretamente da carreira de um artista, do processo de composição ou da gravação de um álbum. Miguel explica que não há contratos com prazos ou demandas de marketing.
“O foco do trabalho deve ser sempre a música, o autor e o artista. Por trás de toda a burocracia, a parte técnica e os muitos problemas para realizar todas essas funções e conexões, o A&R da sociedade deve ouvir música, ouvir novos artistas, também os já consagrados e ir aos shows. Além de estudar, estudar e aprender sobre o mercado, que está sempre mudando.”
Ainda de acordo com o A&R da UBC, o mesmo vale para o artista que está no começo da carreira. Estudar, aprender e ir atrás de conhecimento é essencial.
“Entender o trabalho da sociedade é 80% do caminho. Para isso, aconselho muito estudar o mercado de direito autoral, mesmo que o básico! Compreender a importância da sua obra, seu repertório e como é necessário cuidar dos seus direitos, por meio de cadastros e acompanhamento com a sociedade. Além disso, buscar saber sobre o pagamento, quando e por que vai ser, onde a performance é melhor, etc. Todo esse conhecimento dá capacidade de cobrar e delegar da sua equipe e, com isso, dá ao artista um controle maior da carreira.”
Com seis anos de trajetória profissional, Miguel conta que vê com orgulho o trabalho dos artistas que acompanha.
“Acompanhei o Rubel no lançamento do primeiro álbum, fazendo os shows, criando sua base de fãs, com as parcerias incríveis com Emicida e Gal Costa, até o lançamento do seu segundo álbum. Para mim, ele é um exemplo de artista que faz uma gestão impecável da carreira, além de ser um dos grandes autores da nossa geração.”
Outra artista que Toscano diz admirar e ter acompanhado o crescimento é a IZA.
“Outra que admiro imensamente e acompanhei o crescimento é a IZA, que havia acabado de assinar contrato com a Warner, quando começamos a trabalhar a gestão do repertório autoral e conexo. Gigantesca, inteligentíssima com a carreira e gentil. Em 2017, assisti a Iza cantando ‘Palco’ na homenagem do Prêmio UBC a Gilberto Gil. E, neste ano, ela cantou no palco mundo do Rock In Rio!”
Além disso, Miguel diz que um artista ou compositor deve buscar uma carreira crescente, mesmo com os desafios que isso implica. Segundo ele, isso reflete na arrecadação e o mantém relevante na história da música.
Já quem almeja trabalhar como A&R, Toscano sugere estudar o mercado musical e buscar conexões.
“Veja quem faz um trabalho que te inspira e tente ver os caminhos que as pessoas fizeram. Você certamente não terá o mesmo caminho, mas pode aprender muito com os outros. E, claro, ouça música! Vá a shows, eventos e festivais! Quando o artista estiver no palco, de vez em quando, olhe para o público! Veja as reações da plateia nos momentos chaves de um show – isso pode te dizer muito de um artista. Mas se olhar estiver difícil, há sempre a opção de fechar os olhos e ouvir! Boa sorte!”, aconselha.