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POPline ouviu: Mateus Carrilho atualiza sons brasileiros com olhar cinematográfico em “Paixão Nacional”

Primeiro álbum solo do cantor será lançado nesta quinta-feira (25)
Foto: Thais Vandanezi

Faz quase seis anos que a antológica Banda Uó encerrou suas atividades, mas somente nesta semana Mateus Carrilho, ex-integrante do grupo goiano, apresenta o seu álbum solo de estreia. Com 11 faixas, “Paixão Nacional” poderia ser um apanhado de releituras dos vários singles e colaborações lançados até então pelo cantor, mas é um projeto mais ambicioso e minucioso.

Capa de “Paixão Nacional“. Mateus posa em frente a um quadro pintado por Zéh Palito para o projeto. Foto: Thais Vandanezi

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O álbum, que será lançado nesta quinta-feira (25), percorre os ritmos musicais que dominaram o Brasil em diferentes décadas, sem abrir mão da linguagem despretensiosa, do modo desamarrado de composição do cantor e de uma atualização — feita a partir de samples, efeitos, distorções, colagens e misturas de ritmos concretizadas por um capacitado time de produtores e compositores.

Carrilho participou da composição e produção de todas as faixas de “Paixão Nacional”, álbum gravado com banda (e orquestra) ao vivo. Diogo Strausz aparece como diretor musical e principal colaborador do projeto, que ainda conta com composições assinadas por Tomás Tróia, Ico dos Anjos, Luísa Nascimento e Gabriel Souto.

Foto: Thais Vandanezi

Esse mergulho no cancioneiro brasileiro por artistas contemporâneos não é uma novidade, claro. Na faixa “Rio de Janeiro“, que funciona como uma virada na metade do disco, os ouvintes fãs de música pop provavelmente vão se lembrar de “Girl From Rio“, single de Anitta com elementos de “Garota de Ipanema“. Mateus fez algo semelhante com “Mas, Que Nada“, de Jorge Ben Jor, uma de suas maiores inspirações para esta era. Em vez do trap da colega carioca, ele investiu em um contraste lo-fi.

Foto: Thais Vandanezi

Uma orquestra abre o disco e logo encontra batidas de funk na faixa-título. Com referências ao MC Mágico, ícone do funk carioca, Mateus canta sobre uma paixão carnal em “Sedento“, um funk de pelúcia à la Júlio Schechin, ainda ambientado na atmosfera cinematográfica criada pela faixa introdutória.

Experimentações improváveis ganham espaço em “Noite Perfeita“, canção cheia de acenos à sonoridade pop do início dos anos 2000, mas que cresce com efeitos de voz e quebras inesperadas.

Beijar Sua Boca“, com participação do grupo potiguar Luísa e os Alquimistas, é uma doce canção de axé. “O coração faz tum tum e a cabeça zum zum zum“, canta. “Menino“, single lançado antes do disco, é um samba MPB inspirado no Rio de Janeiro dos anos 1960. A roda de samba continua e ganha camadas mais interessantes na faixa seguinte, a ótima “Boate Qualquer“.

Coração de Biscate” é uma das melhores músicas do disco. Com instrumentais que remetem aos sucessos de João Gomes, Carrilho parece não se levar a sério em uma composição despretensiosa e divertida, na qual o refrão lembra as canções da Banda Uó ou até mesmo de Pabllo Vittar.

Outro acerto é “Nós Dois e Um Litrão“, cuja introdução orquestral logo cede espaço a um pagode típico dos grupos românticos dos anos 1990. A canção ainda conta com a correta participação do talentoso Hiran. “Amadores” finaliza o projeto com voz e violão.

Foto: Thais Vandanezi

Paixão Nacional” parece a trilha sonora de um longa-metragem da Disney sobre o Brasil, com elementos elegantes e meticulosos. Embora a proposta do projeto não seja exatamente uma novidade, o álbum ganha características singulares pela forma como Mateus compõe e, principalmente, personifica os seus eu líricos.

Neste sentido, Carrilho brilha em momentos nos quais o sabor da linguagem supera o do rebuscamento, atribuindo liberdade, leveza e bom humor à sua expressividade musical, características que são o seu grande trunfo.

Ainda assim, quando as faixas de “Paixão Nacional” são colocadas em comparação com os singles lançados por ele desde o fim da Banda Uó, é notável a evolução e o esforço do cantor a fim de entregar um trabalho original.

Recolocando o artista no cenário do pop alternativo e afastando-o do mainstream, o disco — neste sentido — dificilmente se tornará uma “Paixão Nacional“, mas certamente elevará o calibre artístico de Mateus e pavimentará uma discografia robusta, bem produzida e nivelada por parcerias certeiras, com o que há de melhor na música contemporânea.

Faixas favoritas:

Coração de Biscate“, “Nós Dois e Um Litrão” e “Boate Qualquer“.

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