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Opinião: Single? EP? Álbum? – O ilustre desconhecido é o novo ídolo do próximo verão (Parte 1)

Artigo de opinião assinado por Alexandre Ktenas, para o POPline.Biz é Mundo da Música

Alexandre Ktenas, colunista POPline.Biz é Mundo da Música
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Inverno de 2001 e estávamos num estúdio em SP com os Titãs escolhendo o primeiro single do próximo álbum deles depois de algum tempo. Era nosso primeiro trabalho juntos. João Augusto, o querido e genial diretor artístico, inteligentemente escondeu de mim e da minha equipe de divulgadores as baladas (escolhas mais óbvias pra minha turma do marketing). Não estavam lá “Epitáfio” e “Isso”, que depois seriam singles arrasa-quarteirões, como todo mundo hoje sabe.

Tinham ficado as músicas mais pra cima, os rocks, os reggaes, os deliciosos riffs de guitarra de Tony, as viradas monstras do Charles, os gritos sensacionais do Paulo, as estilingadas do Nando Reis, as marcas registradas dos uhus do Branco e do Brito. E não foi fácil, tinha muita coisa boa ali. Mas depois de uma vitória no ‘foto-chart’, ganhando de “O Mundo é bão Sebastião” nos pênaltis, a grande vitoriosa na votação pra começar os trabalhos do álbum foi a seminal “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”.

O álbum tinha o mesmo nome e recolocou a banda na trilha de megassucessos radiofônicos. Entre outras coisas, tivemos a ideia doida na época, de colocar o CD encartado numa revista e vendido nas bancas. Pois as lojas de discos já estavam começando a morrer. Banca tinha muita e a gente era do Grupo Abril, fazia sentido.

Deu certo, afinal já saiu de cara com Disco de Ouro, só com o que vendeu desse jeito. Mas só deu certo mesmo porque esse primeiro single BOMBOU. E abriu caminho pros demais que se seguiram. O reggae “O Mundo é Bão Sebastião” do Nando veio lambendo depois, “Isso” na deliciosa voz do Paulo Miklos também arrebentou, mas foi o “Epitáfio” cantado pelo Brito que virou fenômeno nacional e até hoje todo mundo canta de cabo a rabo por aí.

Quatro singles explosivos, um álbum vendendo que nem água, shows no Brasil inteiro lotados, Prêmios MTV de melhor banda e melhor álbum do ano, discursos emocionados nos palcos, festa de fim de ano com a gravadora inteira, todo mundo feliz. Eu e minha turma aliviados, entregamos um sucesso de volta pra banda que entrou no estúdio depois de uma crise pessoal e nos trouxe um grande álbum.

Ktenas comemora o Disco de Platina com os Titãs | Foto: Acervo Pessoal

A MELHOR BANDA DE TODOS OS TEMPOS DA ÚLTIMA SEMANA, mais do que um rock bem feito e bem tocado tem uma das letras mais emblemáticas da música brasileira. Cada frase e cada verso nos faz pensar na efemeridade do mundo POP. E é esta reflexão que eu faço hoje, pois vinte anos depois o mundo é muito mais rápido ainda, as coisas mudam muito mais vezes por minuto, as melhores bandas mudam toda sexta feita quando saem as zilhares de lançamentos da semana.

“Quinze minutos de fama
Mais um pros comerciais
Quinze minutos de fama
Depois descanse em paz

O gênio da última hora
É o idiota do ano seguinte
O último novo rico
É o mais novo pedinte

A melhor banda de todos os tempos da última semana
O melhor disco brasileiro de música americana
O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado
O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos…”

A letra da música segue igualmente genial depois disso. Mas só estes versos já são suficientes pra gente refletir sobre estes nossos tempos onde tudo que é sólido se desmancha no ar na meia noite de quinta-feira. É o dilema de todo mundo que lança musica nova, seja uma major mega acostumada a fazer isso toda hora, a um artista que acabou de preencher seu perfil nas plataformas e vai lançar seu primeiro trabalho.

Não adianta dizer que a gente recomenda ter ao menos um EP pra contar uma história musical que faça minimamente sentido pro público, se o artista só tem grana pra uma música. Não adianta dizer que precisa ter relevância e planejamento de lançamentos pra plataforma te dar um espaço numa playlist, se o budget disponível não contempla mais do que uma mídia de tráfego, um visualizer ao invés do clipe e muita disposição pra postar nas redes toda hora.

Na minha opinião, hoje (o que não pode ser a mesma amanhã) o mundo ideal é conseguir lançar um EP (ou até um álbum) separadamente por singles a cada 4 ou 6 semanas e ao final juntar tudo num trabalho só, que conte uma história. Mas isso se o artista tem esse material pronto na cabeça, se o estilo dele contempla esse tipo de trabalho e se ele vai conseguir ter tempo, energia e verba pra fazer isso acontecer.

Obviamente, o mundo POP hoje permite que isso seja quase que uma exceção, e que a grande maioria dos artistas trabalhe com singles. E isso é muito bom. Porque permite que muito mais gente lance muito mais coisas na rua. Permite uma democracia musical nunca antes visto neste mais de século de música gravada. Hoje um artista sozinho gravando uma música no seu quarto tem praticamente as mesmas chances que um medalhão contratado de uma major. Tá aí o primeiro álbum da Billie Eilish que não me deixa mentir.

… acompanhe o final dessa história na coluna da semana que vem!

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Alexandre Ktenas trabalha com música desde sempre, nos quatro cantos desse negócio, com larga experiência na indústria fonográfica no Brasil, América Latina, Caribe e EUA. Hoje é sócio da agência de conteúdo digital Kontente e de lindos selos de música pop como o Selim. Habitante do mundo da música.