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Opinião: Artistas precisam se educar

Igor Bonatto | Foto: Acervo Pessoal

O desenvolvimento de uma carreira exige recursos. Você pode até lançar um hit sem investir (quase) nada, mas a sustentação e o crescimento dependem de investimentos.

Apesar de todo mundo saber da importância do dinheiro — e buscá-lo de todas as formas possíveis e imagináveis — é raro cruzar com artistas que se preparam adequadamente para lidar com ele.

Com a indústria global da música prestes a retomar a máxima histórica, de 1999, e com estudos indicando que ela deve dobrar de tamanho nos próximos 10 anos (*Music in the Air*, Goldman Sachs, 2020), educação financeira se torna uma questão de sobrevivência. Caso o contrário, este crescimento vai direto para o bolso de poucas empresas e a grande base seguirá com seus perrengues.

Mais do que simplesmente crescer, o mercado vive um ponto de inflexão com uma sequência de acontecimentos que vão acelerar mudanças já em andamento:

(i) o mercado de capitais voltou a ter interesse na indústria e está disposto a injetar um grande volume de recursos;
(ii) dinheiro governamental está ameaçado e não se mostra sustentável;
(iii) mercado de streaming cresce a todo vapor, porém, com um alto nível de concentração;
(iv) a tecnologia de blockchain segue prometendo revoluções, seja com maior transparência, criação de novos ativos ou democratização do acesso a recursos;
(v) um mercado arrasado pela pandemia precisa se reconstruir rapidamente para atender a uma gigante demanda reprimida.

Negar essas transformações ou criticar as consequências delas não irá gerar qualquer resultado positivo para seu bolso. O único caminho é se preparar.

Só que o buraco é mais embaixo e o problema da educação financeira — a falta dela, no caso — não é exclusivo ao mercado da música. No entanto, o contraste entre a natureza artística e a racionalidade das finanças cria a falsa percepção de que são opostos que não se misturam.

Artistas fazem de tudo para aprimorar suas carreiras: aprendem a tocar instrumentos, fazem aulas de canto, ensaiam coreografias, trabalham na imagem, gravam vídeos, mas quando o assunto é finanças, a dedicação se dissipa.

As consequências ficam claras quando vemos erros custosos. Daqueles que são a “bola da vez”, que usam adiantamentos para ostentar carrões, a artistas consagrados vendendo catálogos a preço de banana; de talentos emergentes que topam investimentos sem calcular o real custo, àqueles que não enxergam o mundo fora dos editais.

Isso quando o problema não é ainda mais básico. E, assim, cria-se um entrelaçamento de problemas financeiros pessoais e a morte de sonhos e projetos.

Educação financeira é um instrumento tão importante para uma carreira quanto o talento em si. Mas existe um certo tabu em misturar dinheiro e arte que implica em um despreparo que prejudica tanto quem vive dela quanto o interesse de potenciais financiadores.

É começar a falar em finanças e todo mundo diz que “sabe” — entre aspas, porque, na prática, é outra história.

É preciso se dedicar. Conteúdo para aprender é o que não falta. Abundante, bom e gratuito. O que falta é interesse. Em tempos de diversão líquida, matar o tempo passando por vídeos de poucos segundos é mais cômodo do que investir tempo em algo que exige concentração e carece de dopamina.

Mergulhar em educação financeira é uma das escolhas de maior impacto que artistas podem fazer. O desafio é simplesmente tomar a decisão de buscar este conhecimento frente a inúmeras atividades mais interessantes. Dominar as finanças é estar munido para crescer mais, encontrar estabilidade e alcançar a liberdade, pessoal e criativa.

Não se trata de saber fazer contas ou criar uma planilha. É sobre escolhas certas que viabilizam o tão sonhado sucesso.

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Igor Bonatto (@igorbonatto) é fundador da noodle (noodle.cx), o primeiro banco digital para artistas e empresas musicais. Antes, Igor fundou a produtora audiovisual Claraluz Filmes, a agência de inovação criativa THT, dirigiu e produziu filmes publicitários, videoclipes, curtas e longas.

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