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Onde estavam os pais enquanto as Paquitas sofriam abusos morais?

“Se a Xuxa aceitava, como que a gente não ia aceitar?”: Paquitas, algumas com 9 ou 10 anos, escondiam dos pais o que acontecia nos bastidores

(Foto: Acervo Pessoal)

O documentário “Pra Sempre Paquitas”, do Globoplay, promete mostrar para o público alguns dos abusos morais que as assistentes de Xuxa sofriam nos bastidores do “Xou da Xuxa” e do “Xuxa Park”. Menores de idade, as meninas eram contratadas às vezes com nove anos e enfrentavam jornadas exaustivas de trabalho, além de pressões estéticas e ameaças de demissão. É inevitável se perguntar: onde estavam os pais das Paquitas, dessas crianças?

(Foto: Divulgação / Memória Globo)

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“Se eu chegasse em casa e contasse pra minha mãe as coisas que aconteciam ali, ela me tiraria do grupo na hora”, Tatiana Maranhão, a Paquitita, conta em entrevista ao POPline. Roberta Cipriani, a Xiquitita, diz que sentia o mesmo. “E eu tinha uma questão: meu pai largou o emprego para eu poder ser Paquita. Eu acabei sustentando minha família, então não levava muita coisa para meus pais, porque sabia que eles não iam aprovar. Como iam sobreviver, se dependiam de mim? Carreguei isso por oito anos”, compartilha. Tatiana e Roberta viraram Paquitas com 10 e 11 anos de idade.

Roberta Cipriani (Foto: Globo/Reginaldo Teixeira)

Marlene Mattos era a responsável pelas Paquitas

Segundo elas, os pais as acompanhavam até onde lhes era permitido. Eles não ficavam com as filhas nos camarins dos programas de TV – havia um local separado para os responsáveis – e não viajavam com elas para os shows. Todos os responsáveis assinavam autorizações para que as crianças viajassem sob responsabilidade da diretora Marlene Mattos, justamente quem hoje as Paquitas acusam de abusos morais. Marlene não aceitou dar entrevista para o documentário.

“Minha mãe, assim como a mãe da maioria das meninas, não sabia o que acontecia ali direito. Sabia que eram pessoas com um tom meio grosseiro, mas as palavras e a forma que era feita, não. Acho que minha mãe vai se surpreender com o documentário”, explica Tatiana.

(Foto: Acervo Pessoal)

De fato, a mãe de Ana Paula Guimarães, a Catu, também descobriu, durante a gravação de um depoimento para a série documental, que a filha matava aula para dormir. As gravações do “Xou da Xuxa” entravam madrugada adentro. As Paquitas, menores de idade, não tinham energia para acordar cedo de ir para a aula. Várias repetiram de ano.

Uma nova geração de Paquitas

Após a demissão em massa das Paquitas em 1995 por conta de um livro em que expunham os bastidores do trabalho, Marlene Mattos convocou testes e contratou um novo grupo de meninas menores de idade – as Paquitas Nova Geração. Andrezza Cruz, hoje diretora da TV Globo, fez parte dessa leva. “Quando a gente entrou, tudo mudou. A gente pegou uma equipe muito profissionalizada já. Tudo mudou, mas as cobranças eram as mesmas. Exigia-se muito da gente diariamente”, lembra. Ela tinha 15 anos na época.

“Nossos pais acompanhavam sim, mas não estavam o tempo todo colados na gente. Eu fui muito orientada em casa a respeitar o trabalho. Tiveram sim muitas dores, mas tentei não trazer isso pra mim. Acho que meus pais me incentivaram muito na época e me protegeram por outro lado – me orientando a saber me posicionar. A gente levava esporro, óbvio, mas eu não levava aquilo pra mim. Eu estava sempre pronta para dar meu melhor”, pontua Andrezza.

(Foto: Acervo Pessoal)

Última geração

As últimas Paquitas foram juntadas em 1999, com o título de “Geração 2000”. Nessa época, Xuxa não fazia mais shows – por conta da primeira infância de Sasha – e as assistentes a acompanhavam apenas na TV. A cobrança era outra, os problemas também. “Meus pais sabiam de tudo. Eu dividia todas as angústias, mas tudo era muito normalizado”, fala Joana Mineiro, uma das integrantes da última geração.

“Eles ficavam angustiados, mas se a Xuxa aceitava, como que nós não íamos aceitar? Se pra ela era ‘normal’, entre aspas, como que pra nós não seria? Nós estávamos ali realizando um sonho. Eu entrei aos 13 anos. Não via como algo abusivo. Era meu primeiro emprego, e misturado com sonho. Como que eu ia desistir do meu sonho? Então a gente normalizava”, conclui.

(Foto: Acervo Pessoal)

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