Na próxima quinta-feira (19) às 21h, será divulgada a música “Onça/Docilmente Selvagem“, de As Baías com Linn da Quebrada. Esse projeto é muito maior do que um single comercial, servindo como um manifesto trans.
Nas redes sociais, o grupo explicou o manifesto:
“Sim, eu acho que as pessoas em geral só querem agir de maneira oportuna e sensacionalista quando a pauta são as pessoas trans. Querem sempre nos associar a tristeza, falta de oportunidades, violência e a situações marginais. É como se os nossos “algoritmos”, já que essa é a palavra da vez, não pudessem ser associados a orgulho, vitória, realização empreendedorismo, obra de arte, família, amor, sucesso. E isso é alimentado por uma sociedade que quer sempre nos colocar coitadas ou criminosas.”
Raquel Vírginia, uma das vocalistas do grupo e autora do texto, continua usando um exemplo:
“Vou usar como exemplo nosso caso: duas indicações ao Grammy seguidas por nossos álbuns autorais. Eu e Assucena somos as compositoras e cantoras da maioria das músicas. Nós que determinamos os conceitos. Mas isso foi timidamente veiculado. Sempre é. Parecia que só os Cis tinham tido indicações relevantes – em especial os homens cis, que foram destaque das chamadas da imprensa. Existe um dia de visibilidade trans justamente porque as pessoas têm dificuldade de nos olhar, nos reconhecer, nos atribuir dignidade e competência“, observou.
A explicação continua:
“A quem interessa fingir que não vê talentos trans? A quem interessa só viralizar nossas dores, as surras e as nossas desgraças? É solidariedade ou sensacionalismo? Qual o projeto incubado quando tentam ignorar nossas vitórias e reforçar o algoritmo das nossas desgraças? São perguntas que sempre me faço. E que ultimamente as respostas têm sido mais escancaradas. A resposta é: o dia da vitória é sempre das pessoas cis. O dia da desgraça é sempre nosso. Queremos a mudança desses algoritmos, queremos que a prosperidade e ascensão travesti sejam compartilhadas e exaltadas. Chega de ser só nossas dores.”
“Onça/Docilmente Selvagem” segue uma sequência de singles de uma nova fase de grupo, que mudou de nome – antes As Bahias e a Cozinha Mineira. Teve “Respire“, com Rincon Sapiência, “Coragem“, com MC Rebecca, “Você é do Mal“, com Cleo e “Muito, Eu Te Amo“, com Kell Smith.
A letra da música é realmente bem forte, com composição de Céu, Jane Melodia e Linn da Quebrada.
Confira a letra com exclusividade
Intérpretes:
Assucena Assucena
Raquel Virgínia
Linn da Quebrada
Minha alma é livre,
meu faro reconhece de longe os que são dos meus
Não me peça que eu te siga
Nem diga não, a mim mesma
Minha alma é livre
Reconheço os meus, de sina e transparências
Lua brilhante em noites negras
Eu conheço suas veredas
Fico onde estou
Siga só
Meu jogo não é
Resta um
Nesse tabuleiro sigo em direção ao ser mais primitivo que sou
Onça ça, onça ça, sou
Onça ça, onça ça
Onça ça, onça ça, sou
Onça ça, onça ça
Onça ça, onça ça, sou
Onça ça, onça ça
Onça ça, onça ça, sou
Onça ça, onça ça
Docilmente Selvagem
Quatro patas, quatro cantos
Em delírios eu avanço
Procurando a diferença, na repetição
Com caninos de felina,
mastiguei minhas entranhas, com carinho
E agora eu vou te devorar, vou te devorar
Sou a onça e a pantera
Fera que era, mas não é
Nem nunca será
Fico onde estou
Siga só
Meu jogo não é
Resta um
Nesse tabuleiro sigo em direção ao ser mais primitivo que sou
Onça ça, onça ça, sou
Onça ça, onça ça
Onça ça, onça ça, sou
Onça ça, onça ça
Onça ça, onça ça, sou
Onça ça, onça ça
Onça ça, onça ça, sou
Onça ça, onça ça
Storytelling POPline
Quem acusa 2020 de ser um ano perdido, foi porque não prestou atenção no que o trio As Baías fez neste ano, ou melhor, nos últimos meses. Com o respaldo de gigantes da música e ciente do seu papel na indústria, o grupo efetivou uma guinada ao pop e, agora, protagonizam uma nova temporada do Storytelling POPline, que começou no dia 4 de novembro, com episódios novos todas as quartas-feiras.
Além de abordar as mudanças e revelar novidades sobre os próximos passos dos três, a série trará depoimentos de convidados especiais e importantes não só para o artista, mas para a música brasileira.