A cantora Ludmilla realizou neste domingo (21) a sua segunda apresentação no Coachella 2024. A brasileira, que também se apresentou no palco principal do festival, no último dia 14, virou alvo de polêmica nas redes sociais após uma mensagem exibida no telão do show ganhar a atenção de internautas. De imediato, a cantora foi acusada de intolerância religiosa e, já nesta segunda-feira (22), ela publicou um texto sobre sobre o ocorrido.
As Diretoras Criativas do espetáculo, Nídia Aranha e Drica Lara, emitiram um comunicado em conjunto rebatendo as acusações e explicando o conceito do show. De acordo com a equipe da artista, o áudio introdutório narrado por Erika Hilton, em inglês, abre o show apresentando-o como um espaço onde não se tolera quaisquer tipos de preconceito.
Segundo a equipe de Ludmilla, “é fundamental entender que, durante a transmissão, houve interpretações distintas por conta de um frame em um vídeo projetado durante a música “Rainha da Favela”. E por conta deste frame, o tom de denúncia sobre as mazelas sociais idealizado pelas diretoras criativas Nídia Aranha e Drica Lara foi retirado de contexto.”
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Confira o comunicado na íntegra das diretoras criativas que trabalharam com Ludmilla, sobre o caso:
“Ludmilla chegou no Coachella, uma artista com apelo popular. Uma mulher preta, lésbica e da favela, que representa uma galera gigante que se identifica com cada passo dela.
O show começa com uma mensagem bem explícita pelo fim de preconceitos e discursos de ódio na voz de uma das figuras políticas brasileiras mais emblemáticas da atualidade. É como se fosse um convite pra gente se autovalorizar e ser quem a gente é, sem se preocupar com o que os outros vão dizer, seja qual for nossa classe social, gênero, raça, religião ou origem.
Origem da favela, a “Rainha da Favela”. O que significa ser rainha da favela, se não falar pela favela e abraçar esse contexto de maneira mais verdadeira possível? Quando a representamos a favela nos vídeos do show da Ludmilla, escolhemos trabalhar com uma mulher negra e de comunidade, que quer mostrar a rua e a periferia do jeito que são: lugares onde a violência e a injustiça social são rotina. As imagens de “Rainha da Favela” são uma denúncia para o que acontece nas comunidades do Brasil: pobreza, violência, abuso policial, racismo, lgbtfobia, crimes de ódio, intolerância, trabalho informal, pessoas em situação de rua e tantas outras.
A ideia nunca foi maquiar essa realidade, mas mostrar de forma direta tanto as expressões socioculturais e o lazer desse contexto, mas também o sofrimento da favela, vítima da negligência histórica do Estado. Isso é vivido por muita gente, e é isso que uma artista como a Ana Julia Theodoro quer passar para outra artista como a Ludmilla.
Sabemos que no mundo das redes sociais, com todo mundo rolando a tela, uma única imagem pode ser interpretada de mil maneiras, e muita gente viu nela intolerância religiosa. Mas a imagem não estava lá para glorificar nada, mas sim para mostrar a realidade. A intolerância religiosa contra as crenças de matriz africana é uma triste realidade em nosso país, assim como qualquer tipo de discriminação contra grupos marginalizados em uma nação com tantos problemas e questões.
Mas como dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, trazemos aqui outras imagens do mesmo vídeo (avance até 1min e 45 seg), que infelizmente não chamaram tanta atenção quanto aquela que está em tantas manchetes hoje em dia.
Quando eu disse que vocês teriam que se esforçar pra falar mal de mim, eu não achei que iriam tão longe.
Hoje tiraram do contexto uma das imagens do video do telão do show em Rainha da Favela, que traz diversos registros de espaços e realidades a qual eu cresci e vivi por muitos… pic.twitter.com/sdP8JhoLmh— LUDMILLA (@Ludmilla) April 22, 2024
O antigo ditado Iorubá que diz “Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje” é tão rico em significados quanto a vida mesma. Hoje, trazemos uma interpretação que nos agrada muito: as batalhas que travamos agora já têm raízes profundas no passado, e Exu está em cada uma dessas lutas desde muito antes até muito depois. Lutar pela democracia, pela arte, pela cultura, pelos direitos das minorias, pela igualdade, contra o racismo e em apoio às comunidades LGBT, entre outras questões, não é novidade para aqueles que reconhecem o pássaro que Exu derrubou no passado.
No entanto, este espaço é constantemente disputado. Não há um dia de trégua, nenhum momento em que possamos descansar sem bandeiras brancas ou de paz. Aos que agora se unem nesta batalha contra a intolerância, nós os saudamos.
Para aqueles que ofendemos com o vídeo, nossas mais sinceras desculpas. Mesmo que nossa intenção fosse denunciar discursos de ódio, sabemos que as pessoas são afetadas de maneiras diferentes. A essas pessoas, pedimos perdão.
Aos que estão aqui apenas para atacar Ludmilla e sua arte com informações distorcidas e inflamadas… a mensagem por trás do figurino é clara: depois de tantos golpes, estamos blindados com coletes de ouro.
Favela Chegou e a Preta venceu.”
Erika Hilton comenta acusações de intolerância religiosa à Ludmilla: “Tristeza e preocupação”
Na tarde desta segunda-feira (22), quem se pronunciou sobre o assunto foi a Deputada Federal Erika Hilton, que chegou a gravar um discurso para ir ao ar na abertura dos shows de Ludmilla no festival. “Mensagens como essa, sem nenhum contexto, podem criar mais danos à luta pela liberdade religiosa ao invés de ajudar a combater essa realidade de preconceito e violência contra pessoas de axé”, escreveu Erika.
Após ter envolvimento nas duas apresentações da cantora no festival em Indio, na Califórnia, Estados Unidos, a Deputada foi pressionada nas redes sociais para que comentasse os últimos acontecimentos. Ao contrário do que muitos presumiram, Hilton apontou como erro a mensagem exibida no show de Ludmilla, mas não ‘condenou’ a colega.
“Não esperem que na caminhada de pessoas negras nós nos condenemos tão facilmente quanto quem condena pessoas da nossa cor por qualquer passo errado”, argumentou a Deputada, que disse que recebeu a notícia com tristeza e preocupação e exprimiu seu desejo de que Ludmilla reflita sobre o episódio e seus efeitos. Confira a declaração completa acessando aqui.