A Fazenda

Jojo Todynho e Thelminha: As duas campeãs mulheres e pretas dos dois principais reality shows do Brasil

Vitória de Jojo e Thelma são significativas.

Foto: Reprodução - RecordTV e Rede Globo

O ano de 2020 foi atípico, até cruel. O mundo ainda está sendo assolado pela pandemia do Covid-19. É difícil manter a sanidade mental quanto se tem tanta gente ficando doente e até morrendo. É difícil não poder sair às ruas sem o medo de ser contaminado com o vírus. Como fuga, esteve o entretenimento e a televisão continua sendo uma amiga. Muitos dos programas, no entanto, entraram em reprises, como as novelas, produto de maior audiência do país. No entanto, sobraram os reality shows, inéditos, ao vivo. O BBB 20 (Rede Globo) e A Fazenda 12 (Record TV) foram fenômenos de audiência e repercussão. As pessoas realmente se envolveram, torceram, vibraram.

Uma característica marcante foi que as duas vencedoras foram mulheres pretas e fortes: Thelma Assis, do BBB, e Jojo Todynho, de A Fazenda 12. Isso significa muito para nossa sociedade! Em um país em que a abolição da escravatura foi, de certa forma, recente, vemos que a sociedade evolui, sim, para a queda do racismo e a igualdade. Uma reparação história. Não que isso tenha chegada ao fim, o buraco é mais embaixo, mas dá aquela esperança.

No Brasil, tivemos eleições presidenciais em 2018 que evidenciaram inversão de valores. O presidente eleito e seus seguidores perpetuavam uma atitude “politicamente incorreta” (ironicamente) onde o “bonito” era o desprezo pelas “minorias”. Naquela época, parecia que o candidato (e até então presidente) permitia que as pessoas fossem racistas, homofóbicas, misóginas, etc. Não querendo comparar resultados de programas de entretenimento com política, mas já comparando, os resultados das vitórias de Thelma e Jojo mostram que nossa população, sim, é inclusiva, na medida do possível. Resta a esperança que temos um futuro com mais igualdade e respeito.

A sociedade que a gente conhecia está, aos poucos, se desmanchando. E quem não conseguir se adaptar a esse novo momento de liberdade e independência, vai ser engolido“, diz Flávio Saturnino, CEO do Portal POPline, outro homem preto vitorioso que conseguiu, ainda na adolescência, fundar um site que hoje é fundamental para o indústria da música no Brasil. “Vocês conseguem avaliar que uma mulher de 23 anos na última fila dos privilégios conseguiu ganhar um reality show de uma das emissoras mais conservadoras de um dos país mais racistas, gordofóbicos, machistas do mundo?“, acrescentou ele, “É muito mais além do 1 milhão e meio. Jojo sai agora da A Fazenda como um dos maiores nomes do entretenimento do Brasil e, agora, cabe entender quem vai oferecer um programa diário na TV aberta para ela“, completa.

Jojo Todynho

Foto: RecordTV / Reprodução

Jojo Todynho, 23 anos, de Bangu, no Rio de janeiro. Ela é uma mulher que foge dos estereótipos da indústria do entretenimento. Acima do peso, preta, baixinha, com personalidade difícil. Tinha motivos para dar errado, mas deu certo.

Assim que foi anunciada como participante de A Fazenda 12, ela já ganhou um favoritismo imediato. No entanto, ela tinha dois inimigos que podiam impedir sua vitória: Biel e ela própria.

Biel e Jojo nunca se bicaram no reality – ela o achava debochado. No entanto, com sua atitude de “bom moço” e a vontade de se redimir das polêmicas que queimaram sua carreira há alguns anos, conseguiu uma boa base de fãs. De acordo com pesquisas, ele era a única pessoa capaz de superar Jojo. Foi quase, ele ficou em segundo lugar.

Jojo como sua principal inimiga era algo declarado como ela própria. A funkeira sempre falava que não entraria em reality show pois acabaria partindo para a agressão e sendo expulsa. Ela soube, no entanto, dosar sua personalidade. Tivemos, sim, uma Jojo mais intensa, agressiva, que xinga, grita, dá bronca e dá soco em garrafinhas. No entanto, também vimos uma Jojo sensata, carinhosa, brincalhona, comedida e sábia – ela era uma das maiores conselheiras da edição.

Essa mistura agradou e fez de Jojo Todynho a vencedora de “A Fazenda 12”. Em 12 edições, ela foi a primeira campeã negra do reality rural. Um marco que vai ficar para a história.

Thelma Assis

Foto: Reprodução / Rede Globo

Thelma Assis, 36 anos, de São Paulo. Ela ultrapassou todas as barreiras e fez sua faculdade de medicina, se tornando médica anestesiologista. A edição do BBB 20 foi especialmente empoderada. Houve a junção das mulheres contra ações machistas dos homens, que foram saindo um por um. Muitas pessoas descobriram o que é sororidade. Houve também conversa sobre o racismo, quando Babu Santana dava verdadeiras aulas.

No final, a vitoriosa desse BBB tinha que ser uma mulher preta, para representar ainda mais o que a edição foi. Thelma disputava com famosas muito queridas pelo público, Rafa Kalimann e Manu Gavassi, mas mesmo assim levou a preferência. Outro momento histórico.

No caso do BBB, tivemos outras vencedoras com representatividade: Cida dos Santos (edição 4), Mara Viana (edição 6) e Gleici Damasceno (edição 18).

Menção Honrosa: Victor Alves

Neste artigo, o foco foi nas mulheres, mas os homens pretos também merecem valor! Na mesma noite em que Jojo saía como vencedora de A Fazenda, na concorrência Victor Alves ganhou o The Voice Brasil. Do time da IZA (outra mulher preta e maravilhosa), o jovem de 20 anos, natural de Macaé (Rio de Janeiro), conquistou com sua personalidade encantadora e a bela voz. Outra vitória para a nossa sociedade!

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