Indiscutivelmente um dos ícones culturais da música, o legado de George Michael é mantido pela vibração de cada obra que ele produziu. No entanto, ao lançar nossas mentes de volta a 1996, chegamos ao momento em que a adoração infinita de seus fãs solidificou-se de vez. Explorando territórios desconhecidos, o astro começou a escrever as canções de “Older“, onde refletia sobre a vida, a perda e a dor sob a narrativa de um homem abertamente gay. Ao afastar-se de suas origens dance-pop e adicionar um tempero jazz e até “bossanovístico” ao seu som, resultou-se em uma síntese de seu crescimento – pessoal e artístico.
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Para entender como nasce uma obra-prima, é preciso retroceder alguns anos. No início dos anos 1990, George Michael queria que o público ouvisse sua música “sem preconceito”. A chegada do álbum “Listen Without Prejudice” (1990), sem a imagem do cantor na capa e com apenas o videoclipe de “Freedom ’90” em alta rotação – onde ele abria mão de aparecer e colocava top models na linha de frente -, deixou parte da indústria fonográfica intrigada. Afinal, aquele astro pop de “Faith” (1987) já não existia mais e ansiava por um maior controle criativo.
Foi nesse período que George Michael veio ao Brasil para duas apresentações no Maracanã, como parte do line-up da segunda edição do Rock in Rio. Sua passagem pelo Rio de Janeiro em janeiro de 1991 rendeu aquele que foi o romance de sua vida. Foi nos bastidores do festival que ele conheceu o estilista brasileiro Anselmo Feleppa, com quem viveria até seu falecimento, em 1995. O relacionamento foi outra camada de turbulência que alimentou a criação de “Older“.
Desde o primeiro álbum solo, George Michael estabeleceu suas regras: escrevendo, arranjando, compondo e produzindo seu próprio trabalho. Durante os três anos em que concebeu “Older“, ele deixaria o pop sedutor de outrora e evidenciaria elementos mais sombrios de sua música ao lado de Jon Douglas, amigo e parceiro musical de longa data. Desta premissa nasce “Jesus to a Child” ainda em 1994. Um retrato impressionante da eloquência da espiritualidade no amor, é talvez a melhor balada que George gravou.
Dedicada a Feleppa, a pungente canção foi lançada como single em janeiro de 1996 e estreou na 1ª posição da parada britânica, dando início a uma sequência recorde de seis singles de um mesmo álbum no Top 3 no Reino Unido. O videoclipe da música marcou a primeira vez que o cantor aparece, de fato, cantando em frente às câmeras desde “Kissing a Fool” (1988). Os royalties foram doados pelo cantor, de forma secreta, à instituições de caridade infantis.
George Michael reuniu uma gama de músicos de primeira linha: Steve Sidwell (trompete), Andy Hamilton (saxofone), Fayyaz Virji (trombone), Stuart Brooks (trompete, trompa flugel) e Chris Cameron (arranjos de cordas, Fender Rhodes, piano elétrico, teclados) para desenvolver as novas canções.
A importância desses músicos é aparente na seção de cordas e metais desoladora, mas esperançosa em “You Have Been Loved”. Nela, George canta sobre alguém perdendo a fé em Deus depois que o filho morre. Mas, de alguma maneira, seu registro vocal confortava e combinava com a intensidade da letra. A rigidez do amor, fidelidade e sexualidade são abordadas no nu-jazz de “Spinning the Wheel” e no inebriante impulso disco de “Fastlove”, segundo single consecutivo a chegar ao número 1.
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Quando “Older” chegou às lojas em maio de 1996, o mundo deparou-se com um George Michael experimentando novos estilos musicais e expandindo seus horizontes artísticos. Particularmente notável foi o sabor jazz em seu som e a ruptura com produções sintetizadas de seus projetos anteriores, entregando um som mais orgânico. O artista foi particularmente inspirado pela música do compositor brasileiro Antônio Carlos Jobim, falecido dois anos antes, e a quem o álbum foi dedicado.
“Acho que compus a melhor e mais curativa música que escrevi em minha vida com este álbum… ‘Older‘ é meu melhor momento”, afirmou George Michael após saber que o trabalho havia vendido 281 mil cópias em sua semana de estreia – uma das maiores da história da parada britânica.
E se o estilo do álbum era melancólico, George complementou esta mudança drástica em seu visual. Saem de cena os longos cabelos loiros, barba e jeans, seu look clássico no final dos anos 1980, e entram cabelos curtos e escuros e, sobretudo, vestuário onde o couro era a matéria-prima. Foi a forma que encontrou para se comunicar, visualmente, com seus fãs e dizer que estava confortável com sua sexualidade.
Uma amálgama de sabores muito além do pop, “Older” vendeu mais de 12 milhões de cópias (mais de 1,8 milhão no Reino Unido, onde ganhou platina sextupla e é seu trabalho mais vendido no país). Além disso, posicionou George Michael como um talento de primeira linha no pop. É uma prova de habilidade em fazer de sua experiência humana nossa trilha sonora. E agora, duas décadas depois, são esses reflexos crus de seu período mais turbulento que nos aproximam do artista genial, que nos deixou há seis anos.
A Sony Music lança neste 30 de setembro, em todas as plataformas de áudio, a reedição de “Older” repleta de novidades. Além da remasterização do álbum original, os fãs poderão conferir as seis faixas lançadas exclusivamente nos singles, bem como versões editadas e remixes.
Confira a tracklist completa:
– Older –
Jesus to a Child
Fastlove, Pt. 1
Older
Spinning the Wheel
It Doesn’t Really Matter
The Strangest Thing
To Be Forgiven
Move On
Star People
You Have Been Loved
Free
– Upper –
Fastlove, Pt. 2
Spinning The Wheel (Forthright Edit)
Star People ‘97 (Radio Version)
The Strangest Thing ’97 (Radio Version)
You Know That I Want To
Safe
– Mixes One –
Fastlove (A/C Summer Mix)
Star People ‘97 (Radio Edit)
Freedom ’94 (Live Version)
One More Try (Live Gospel Version)
Star People (Unplugged)
Spinning The Wheel (Radio Edit)
Fastlove (Promo Edit)
Jesus To A Child (Special Radio Edit)
Spinning The Wheel (Forthright Dub Mix)
Star People (Forthright Club Mix)
– Mixes Two –
Fastlove (Forthright Extended 12″ Mix)
Star People (Forthright Dub Mix)
I’m Your Man (The Jon Douglas Remix)
Fastlove Part II (Fully Extended Mix)
Spinning The Wheel (Forthright Extended 12″ Club Mix)
Star People (Galaxy Dub Mix)
Fastlove (Forthright Remix 7” Version)
I Can’t Make You Love Me (Studio Version)
– Mixes Three –
Desafinado – George Michael with Astrud Gilberto
The Strangest Thing (Live)
Star People (Forthright Radio Edit)
The Strangest Thing ‘97 (Loop Ratz Mix)
Fastlove (Forthright Dub Remix)
Jesus to a Child (Radio Edit)
Spinning The Wheel (The Jon Douglas Remix)
Star People (Galaxy Mix)
Older (Instrumental Version)