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ENTREVISTA: Dubladores de “Ghostbusters” revelam bastidores da profissão

Em entrevista para o Portal POPline, Flávio Dias e Luísa Viotti falaram sobre suas experiências.

Fotos: reprodução

O ano era 1984. Envoltos por uma cortina de fumaça proveniente de seus cigarros, um grupo de atores se reunia numa pequena sala do estúdio BKS, em São Paulo, ao redor do único microfone, para emprestar suas vozes aos personagens de “Os Caça-Fantasmas“. Eles não sabiam, mas naquele momento, estavam entrando para a história juntamente com o longa dirigido por Ivan Reitman! Agora, quase 40 anos depois, tais profissionais tiveram a chance de voltar mais uma vez a este incrível universo, ao reprisarem seus papéis em “Ghostbusters: Mais Além“.

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Eu tinha achado que Os Caça-Fantasmas, com aquela música marcante, que tinha desenhado os anos 80, o começo dos 90, tinha ficado por lá“, revelou o dublador Flávio Dias em entrevista para o Portal POPline. Aos 70 anos, ele pensava que a franquia havia se encerrado em 2016, com o não tão bem-sucedido “Caça-Fantasmas“, dirigido por Paul Feig e protagonizado apenas por mulheres. Contudo, quando foi chamado no ano passado para dublar o trailer do filme, o paulista teve uma grata surpresa!

Eu travei! Quando eu vi a silhueta do [personagem] Ray Stantz em cena, eu falei ‘eu não acredito’! Era ele mesmo“, relembra Flávio.

Foto: reprodução

Embora tenha poucos minutos em tela (ops, spoiler!), o dublador ficou bastante feliz em retornar ao personagem. “Foi uma emoção muito grande ver os Caça-Fantasmas na tela“, explicou. O complicado mesmo foi guardar segredo até a estreia do filme nos cinemas, em novembro passado! “A gravação foi feita num horário definido, exclusivo, sem participação de ninguém. Foi rapidinho, mas completamente escondido“, contou.

Segredos sobre o processo de dublagem

Quem também conversou com o POPline foi a dubladora Luísa Viotti. Nascida em 1988, quatro anos depois da estreia do primeiro “Caça-Fantasmas” nos cinemas, a atriz cresceu assistindo aos filmes da franquia. “É muito bom fazer coisas das quais você já era fã! A sensação é muito boa“, contou. Responsável por dar voz à vilã Gozer, Luísa revelou que só soube que iria dublar a personagem quando chegou para fazer o teste!

Foto: reprodução

Assim como Flávio, ela também não teve muitas falas para gravar, e todo o processo de captura de voz durou cerca de uma hora. Diferente do que muitos possam pensar, Luísa explicou que os dubladores não assistem ao filme na íntegra, apenas as cenas que irão gravar. “O profissional chega sem saber o que ele vai fazer. Ele ganha ali a quantidade de horas que ele vai ficar no estúdio, e a gente tá lá disponível pra fazer o que for“, diz. Ela ainda acrescenta que só o diretor de dublagem assiste com antecedência ao filme ou série completa, ficando responsável por orientar os dubladores sobre quais emoções cada cena pede.

Cabe ao dublador ter tanto essa esponjinha pra pegar as informações que o diretor está passando, quanto esse trabalho visual de entender o que o ator original tá ali fazendo, falando, qual o sentimento ele está passando, pra que você entregue uma versão brasileira“, contou Luisa.

Diferente de gravar um filme, uma série ou uma novela, no qual o ator pode refazer alguma cena caso considere necessário, na dublagem não há esse tempo disponível para “consertar” alguns pontos que poderiam ter sido falados de outra maneira; por isso, é essencial que o profissional seja qualificado para entrar e sair de um papel, com diferentes emoções, entregando sempre o que cada personagem exige.

Encontro de gerações

Ambos atores por formação, Flávio e Luísa tiveram inícios diferentes na dublagem. Enquanto estava na faculdade, no início dos anos 70, Flávio achou que estava se candidatando à uma vaga de dublê quando fez seu primeiro teste para dublagem. Luísa, por sua vez, já sabia do que se tratava a área, e como fã da profissão, resolveu fazer um curso para iniciar na carreira.

Foto: reprodução – Instagram (@luisa.viotti)

Porém, ambos compartilham do sentimento de que atualmente a dublagem é pouco valorizada no Brasil, mesmo sendo tão consumida. “A qualidade caiu muito de um tempo para cá porque não se tem diretores tão preocupados com aquilo que está sendo interpretado“, opina Flávio. “Brincar de dublar é uma coisa legal, é divertido, é engraçado. O que você nunca pode esquecer é que tem um grupo de profissionais que depende desse trabalho. Se você ocupar essa área e o dono do produto resolveu usar o produto com a sua voz, você tá tirando o ganha pão da boca do profissional“, destaca. Ele ainda deixou um conselho para quem pretende seguir esta carreira:

A minha dica para o pessoal que quer seguir carreira é: faça um bom curso de teatro. 90% da dublagem é leitura dramática. Leitura dramática é preparação intelectual e psíquica de um ator diante de um papel. Não é o desenho do cara que vai te definir a alma daquele personagem. Você tem que ver ele falando no filme, como é que ele faz aquilo, o que significa. Você tem que entender o teu personagem para depois dublá-lo. Não é começar junto e acabar junto. Isso não é dublagem, isso é sincronismo. Um bom ator vai se preocupar com a qualidade da voz dele, que está sendo colocada num personagem que vai marcar pro resto da vida“, finalizou.

Assim como em “Ghostbusters: Mais Além” (já disponível para aluguel e compra digital), onde temos um encontro de gerações, o mesmo ocorre com Flávio Dias e Luísa Viotti. Além de inúmeros personagens no currículo e experiências que caberiam em mais de um livro, os dois agora compartilham suas vozes com uma das franquias mais queridas da cultura pop. “Esse novo filme faz homenagens lindas e dá essa possibilidade de abraçar uma nova geração sem abandonar a anterior“, destaca Luísa. Que os fantasmas proporcionem um novo encontro dos dois em breve!