De tempos em tempos, novas vozes surgem para representar a música urbana, mas são poucas as que conseguem trazer algum frescor às cenas cristalizadas. Movimentar a estrutura da indústria com originalidade e boa música parece ser a missão das irmãs Tasha e Tracie Okereke – dupla escolhida pela Amazon Music para compor o time de “novas apostas” da empresa.
LEIA MAIS:
- Tasha e Tracie são destaques no “Trace Trends” desta quinta-feira (18)
- Quem é Tasha e Tracie, irmãs gêmeas revelação do rap nacional?
- 9 músicas que provam que a cena urbana brasileira está abraçando os anos 1990
Antes de se apresentarem no Fesitval Ecoando, promovido pela plataforma de áudio, as gêmeas conversaram com o POPline por chamada de vídeo e compartilharam algumas novidades, como os detalhes da produção de dois álbuns que podem ser lançados ainda em 2022.
Foi comum, ao longo dos últimos meses, encontrar o nome dupla de rappers nos banners e anúncios dos principais festivais do país. Elas garantiram que diminuíram o ritmo frenético de shows para trabalhar na finalização do próximo disco, que se chamará “Immature“. “Esse vai ser um álbum de Love Song e vai ser uma parada sobre sentimento, vulnerabilidade e relacionamentos“, adiantou Tracie.
Apesar da temática do próximo projeto, elas dizem que a motivação para lançar músicas mais vulneráveis foram as fãs e não qualquer outra paixão ou relacionamento. Para elas, um disco de lovesongs também é uma oportunidade para humaniza-las diante do público, que muitas vezes pensa que elas nunca passaram por situações desfavoráveis ou tóxicas em relacionamentos.
“As nossas fãs falam muito ‘nossa, quero ser igual a Tasha & Tracie, que não sofrem’ e a gente passa muita autoestima, muita força. Só que nós somos humanas, né? Então, a gente tem que passar essa humanidade para as pessoas“, disse a dupla em entrevista ao POPline. “Às vezes, as meninas olham pra gente e pensam ‘nossa elas nunca passariam por isso’ e a gente passou por muita coisa pra estar nessa vibe que a gente está hoje e talvez a gente passe ainda por muita coisa”, refletiu o duo.
“Willy” é o primeiro single do “Immature”:
Com o álbum “Immature“, elas pretendem abordar relações de uma maneira sincera. “Não só a perspectiva de quem está sendo machucada ou de quem está amando“, diz Tasha. “Aquela coisa de ser trouxa, mas também de ser um pouco tóxica as vezes“, completa.
Outro disco de Tasha & Tracie deve ser lançado ao final do ano com aspectos mais “maduros” e “biográficos”. Esse será considerado o álbum de estreia delas. Enquanto os aclamados EPs “Ruff” e “Diretoria” representaram a adolescência e a juventude das irmãs, o próximo álbum será mais denso e deve resgatar as origens da dupla que cresceu no Jardim Peri, na zona norte de São Paulo. “Esse do final do ano vai ser um disco mais pesado, mais sério, com uma sonoridade densa“, explicou Tracie.
O relacionamento das gêmeas com grandes artistas do pop já foi estabelecido. No início do ano, elas emplacaram uma parceria com Gloria Groove no álbum “Lady Leste“. “Pisando Fofo” é uma das faixas mais queridas do projeto de GG. Em julho, Tracie também estrelou o clipe de “Cachorrinhas“, de Luísa Sonza. Elas dizem que estão abertas a convites das estrelas do gênero e citam Ludmilla, Pabllo Vittar, além de Sonza e GG.
“A gente ama”, disse Tasha. “Foi uma realização fazer com a GG (…) Eu admiro muito o trabalho de todas as outras e eu acho que o pop ele como ele ele abraça tudo ia ser uma coisa muito rica assim. Porque todas elas são muito diferentes. Então, entrar na vibe de cada uma delas ia ser uma experiência bem da hora, bem interessante“, respondeu .
Entre as maiores realizações de T&T, está o reconhecimento de artistas que elas admiram. “Esse convite da Gloria Groove era uma meta pra gente como trabalho e trabalhar com ela. Ver, por exemplo, a Lud escutando a nossa música também. Ela é uma artista muito foda”
Elas também comemoram a estrutura artística que construíram nos últimos tempos. Hoje, as irmãs Okereke contam que conseguem imprimir em seus trabalhos a estética e a visão que sempre sonharam, além de realizar projetos grandiosos – como a festa “Baile das Gêmeas“. “A gente sempre fez do nosso jeito e com o que a gente tinha. E hoje conseguimos fazer com estrutura, trazer artistas grandes. Então, assim, tudo isso tem sido muito mágico pra gente, conseguir ver o que a gente idealizou sendo feito”, disse Tasha ao POPline.
A dualidade da fama
O retorno financeiro sucesso fez Tasha e Tracie fossem viver confortavelmente em casas separadas e conseguissem proporcionar uma “casa melhor” para a mãe delas. “Tudo isso deixa a gente muito feliz“. Mas a fama tem seu lado sombrio. “Tá uma loucura“, disse Tasha. “É impressionante porque a gente entende que não é tão simples. Não existe só o hater e o fã“.
As meninas descobriram cedo o lado ruim das redes sociais. “Nas mesmas semanas em que acontecem várias coisas boas são semanas em que várias pessoas começam a atacar a gente“.
“Alguém inventa uma história sobre você, as pessoas automaticamente acreditam. Então a gente às vezes fica pensando caralho meu, no dia que alguém quiser acabar comigo e falar que eu, sei lá, chutei uma grávida, pronto, vão acreditar e já era”, desabafou Tracie.
Lidando com o sucesso, o duo também encontrou dificuldade nas relações interpessoais e nas constatações, muitas vezes equivocadas, que o publico faz sobre a vida de artistas. “Várias pessoas se transformam perto de você“, disse Tasha. E se engana quem pensa que a solução não está apenas em trabalhar com amigos.
“Você vê a vida de vários outros artistas e aí você não entende a ascensão deles e eles ficando cada vez mais sozinhos. Eles vão ficando com poucas pessoas“, disse Tracie. “Você vai trilhando esse caminho e vai entendendo que não é simplesmente isso, você trabalhar com as pessoas que você gosta e elas vão ficar satisfeitas e está tudo bem“, continua a rapper. “Engloba um monte de coisa está ligado? É difícil manter uma sanidade mental“.
“Ninguém entende também quando você está doente. Ninguém entende quando que você está fazendo várias coisas e passando por um problema de relacionamento ou na sua família, pensando em outras coisas. Sabe? E você tem que estar ali, atendendo as pessoas. Tem que ouvir as pessoas. Você tem que estar ali feliz porque essas pessoas veem que você está triste, não é sobre elas, mas talvez elas vão achar que você tratou elas mal, sei lá. É bizarro” – Tasha.
O futuro global de Tasha & Tracie
As irmãs mandrakas querem trabalhar com produtores que admiram e cresceram ouvindo, fazer boa música e executar ideias sem grandes dificuldades no futuro. Tasha & Tracie não se interessam por fronteiras e querem ser artistas globais. “[A gente quer] conseguir entender como a gente pode ser ouvida em outros países que não escutam português, sabe?”. Os primeiros passos já foram dados. Além de apostas da Amazon Music, elas foram capas da playlist rapar do Spotify e tiveram seus rostos estampados em um telão da Times Square, em Nova Iorque, como um dos artistas destaques do ‘YouTube Black’ no ano passado.
Do Peri pro mundo! Estamos em outdoors na Times Square e em LA, muito obrigada @youtubemusic e todo o time por celebrar as vozes negras! #youtubeblack pic.twitter.com/vmW0wB6ndR
— Gably Blair (@Tashaokereke) October 22, 2021