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Entrevista: ‘O objetivo é sempre ser o mais múltiplo, democrático e inclusivo’, diz Rafaello Ramundo

CEO da Novo Traço compartilha que o ponto fundamental para fazer a curadoria de um evento é a compreensão do contexto e da história que se quer conta  

Rafaello Ramundo, CEO da Novo Traço.

Com uma experiência de mais de 15 anos no mercado, atuando à frente de grandes eventos, Rafaello Ramundo, CEO da Novo Traço, em entrevista para o POPline.Biz é Mundo da Música, compartilha que o ponto fundamental para fazer a curadoria de um evento é a compreensão do contexto e da história que se quer contar. 

Para começo de conversa, Rafaello Ramundo explica que criar  uma narrativa é o que deve ser feito no momento de se pensar em uma curadoria. 

“O que está dito no palco simboliza valores tanto das pessoas que estão na frente do palco e das empresas que financiam aquilo, os valores e princípios da Novo Traço, e isso tudo precisa estar exposto para a sociedade”, pontua Rafaello Ramundo, CEO da Novo Traço.

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O CEO da Novo Traço diz que o primeiro passo do processo de construção da curadoria é a compreensão da sociedade, ou seja, quais são os temas da sociedade que precisam ser destacados. Para isso, é escolhido a melhor maneira de dizer isso por meio dos artistas que sobem no palco.

“O objetivo é sempre ser o mais múltiplo democrático e inclusivo, mas nunca esquecer que a linha narrativa precisa ser sempre respeitada. Você tem que sempre contar alguma coisa no palco para tocar a vida das pessoas de verdade. O que eu quero no final de um show ou de um festival é que as pessoas saiam com aquele efeito: ‘uau’, que é o que eu chamo de latência. A pessoa foi para o evento de um jeito e eu quero que ela volte para casa de outro. Para isso acontecer, precisamos estar muito atentos ao contexto que é criado e a forma como essa história vai ser contada para o público”, diz Rafaello Ramundo.

Rafaello Ramundo, CEO da Novo Traço. Foto: Reprodução/LinkedIn.

Os primeiros traços 

A arte e a música estão presentes na vida de Rafaello Ramundo desde sempre. Aos 9 anos de idade, ele começou a estudar piano, instrumento praticado por seu pai e que também era por sua avó. Nascido em uma família artística, sua mãe é artista plástica e o seu crescimento foi cercado em meio a quadros, músicas e saraus em sua casa.

No entanto, antes da música, a produção chegou em primeiro lugar na carreira de Rafaello. Ao longo do tempo, ele foi desenvolvendo as ferramentas necessárias para trabalhar com produção, segundo Ramundo, não só  para compreender o olhar artístico, mas também a visão de negócio e da conexão com as marcas e com o setor corporativo.

“Durante anos, produzimos pequenos, médios e grandes eventos do segmento corporativo. E o segmento corporativo também é contratante de cultura. Esse foi o passo para eu criar meus próprios festivais e criar os palcos, onde eu poderia contar minhas histórias através dos artistas que a gente entendia que se comunicavam com um contexto de um determinado local e um determinado espaço da sociedade. Neles, conseguimos contar histórias através dos artistas que se comunicam dentro de um contexto de um determinado local e de uma determinada parte da sociedade”, revela Rafaello Ramundo.

A construção de Rafaello foi o envolvimento com a música, o desenvolvimento de capacidade e habilidades para trabalhar com a produção dos eventos. Ele nasceu do mundo corporativo e, depois, passou a fazer os próprios festivais que lhe deram a possibilidade de chegar onde está hoje.

TIM Music Rio, em maio. Foto: Divulgação.

O entrelaço: ‘O nosso papel é criar uma conexão entre os valores das marcas e o público’

A Novo Traço nasceu do mundo corporativo, portanto a relação com esse universo, como aponta Ramundo, é muito orgânica e natural: “Como as marcas são as grandes financiadoras da cultura no Brasil, nós precisamos criar um ambiente onde elas também se sintam prestigiadas e abraçadas”, conta.

Para ligar a arte e o entretenimento às marcas, Rafaello fala que é preciso, sobretudo, criar uma conexão entre os valores entre elas e o público. E, segundo ele, através dos palcos, conectar os artistas com os seus públicos. 

“A gente acaba usando nossos festivais como plataforma de comunicação, daquele momento e daquela marca. A TIM, por exemplo, abraçou a música como plataforma. Por outro lado, a gente tem uma empresa como a Enel l, que tem no DNA a transição energética. Então, criamos um festival em que falamos sobre educação, transição e consciência energética e, ao mesmo tempo, entregamos para a população através de música e atividade cultural. A Novo Traço cria um projeto, apresenta e constrói essa relação que tem sido duradoura com todas as marcas com as quais a gente se relaciona”, compartilha Rafaello Ramundo.

TIM Music Rio, em maio. Foto: Divulgação.

Ao longo dos seus anos de experiência, Rafaello é enfático ao dizer que o maior desafio da curadoria é sempre encontrar o conceito, o que se quer dizer e o fio da meada da narrativa. 

“Quando eu começo um processo de criação, ele é muito doloroso, porque se você não chega profundamente no conceito daquele festival, daquele show, daquele espetáculo artístico, você não consegue chegar no coração da plateia. É preciso ter uma compreensão muito grande do contexto, do público para o qual você vai falar e de todos os envolvidos no ambiente de um festival”, conta Rafaello Ramundo.

Ele ainda completa que o trabalho de curadoria é como um novelo: “Depois que você acha o conceito, tudo vira desdobramento, é só puxar, e aí tudo acontece. Se torna um processo mais orgânico, mais fluido, mais leve”, explica.

O setor de eventos foi o primeiro a parar e o último a voltar no período da pandemia da covid-19. Após esse hiato e o novo momento que o mercado está vivendo, o CEO da Novo Traço analisa que o mercado sofreu um efeito estilingue.

Fomos puxando uma corda, e, agora, na hora que a soltamos, voltou com tudo. Foi uma explosão. O mercado está completamente aquecido. Há uma demanda por parte das pessoas físicas, que compram e consomem entretenimento. Por outro lado, as marcas começaram a compreender os espetáculos artísticos, não só festivais de música. Nasceram muitos festivais de música, mas muitas peças de teatro e musicais voltaram a ser executadas. O mercado de patrocínio também está muito aquecido, porque as marcas também voltaram a compreender os espetáculos de entretenimento como veículo de comunicação dos seus valores e princípios. O cenário não só de 2023, mas o de 2022 á foi muito bom”, pontua Rafaello Ramundo.

2023: Um ano de muitos novos traços

A análise de Rafaello sobre o aquecimento do mercado de eventos é comprovada  em seus trabalhos ao longo dos meses de 2023, que tem sido um longo ano para a Novo Traço. Ele conta que o último festival do ano que está trabalhando acontece nos dias 15 e 16 de dezembro em São Luís do Maranhão, o Festival de Natal Equatorial. Neste ano, Ramundo foi convidado para ser curador dos projetos musicais da FUNARJ, como o FUNARJ musical e, em novembro, será lançado o projeto Fim de Tarde In Concert, que são encontros sinfônicos com artistas populares na Sala Cecília Meirelles, no centro do Rio de Janeiro.

Além disso, o curador executou, também em 2023, o TIM Music Rio, na praia de Copacabana, o maior festival de música gratuito do Brasil, com transmissão ao vivo para a televisão e mais de 30 milhões de pessoas impactadas na TV aberta, no streaming e na TV paga. 

Outro projeto que Rafaello participou foi criar e produzir a 6ª edição do Prudential Concerts, comemorando os 25 anos de carreira do Jota Quest e da Prudential em encontros com orquestras locais em 7 cidades do Brasil. 

Prudential Concerts 2023 em Brasília. Foto: Ju Chalita.

Além do Festival Enel Por Você, que ele também trabalhou, no qual o tema foi sobre transição energética, em dois estados, Rio de Janeiro e São Paulo, passando por Angra dos Reis, Niterói, Diadema e São Paulo capital.

“Ao longo de 2023, rodamos praticamente o Brasil inteiro: de São Luís do Maranhão a Porto Alegre. Reunimos uma multiplicidade enorme de talentos. Foram mais de 150 artistas, duas mil pessoas empregadas nos projetos da Novo Traço ao longo do ano. Muitos projetos, e que já estão engatilhados para 2024. É um calendário muito extenso já para o próximo ano”, destaca Rafaello Ramundo.

Otimista, Rafaello enxerga o mercado de entretenimento para 2024 com muito bons olhos: “Percebo que as marcas seguem entusiasmadas com o investimento. Atualmente, temos um governo pró-cultura e acho que há uma sensação generalizada de que realmente a cultura importa e a compreensão de que a cultura e a economia criativa fazem parte do contexto global e nacional da economia. Vejo que o mercado segue aquecido e vai aquecer ainda mais”, finaliza.

Festival Enel por Você, edição Diadema. Foto: Geovane Peixoto.