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ENTREVISTA: “Saí de um lugar muito ruim. Estou bem, estou inteira”, diz Luísa Sonza

Cantora promove “Café da Manhã” e avalia sua jornada do lançamento de “Doce 22” pra cá.
ENTREVISTA: "Saí de um lugar muito ruim. Estou bem, estou inteira", diz Luísa Sonza
(Foto: Felipe Grafias)

Luísa Sonza se senta para conversar com o POPline no meio de sua agenda de divulgação atribulada. Quando liga a câmera da videochamada, está com sombra amarela no olho, mechas rosas no cabelo e unhas desenhadas em verde e preto. As cores são calculadas para seguir a ‘vibe’ de seu clipe mais novo, “Café da Manhã”, também multicolorido. Tudo com Luísa é assim: tem conceito. Ela está sorridente hoje.

“Saí de um lugar muito ruim, sim. Estou muito bem, estou inteira como pessoa hoje em dia”, ela diz ao POPline, “tenho recuperado minha força e muito pelo ‘Doce 22’. O ‘Doce 22’ se tornou minha vida. Minha carreira e meu público me tornam inteira, porque tenho eles. Eu me sinto capaz de enfrentar as outras coisas que tenho que enfrentar”.

Foto: Felipe Grafias

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Ela parece mesmo muito mais forte do que quando lançou o álbum, em julho do ano passado. Na coletiva de lançamento do “Doce 22”, Luísa estava sombria por dentro e por fora, abatida, com maquiagem carregada e roupa preta. Quando a condutora a cumprimentou com um “oi, tudo bem?”, ela disse: “é para mentir ou dizer a verdade?”. Estava despedaçada. “Quando você está mal, você consegue dar um oi e sorrir. Naquela época, estava na minha última”, lembra a cantora, “não estava bem, não (risinho nervoso)”. Ela vinha de uma série de ataques que geraram crises de pânico e impuseram uma mudança no estilo de vida.

“Todo mundo tem dias bons e dias ruins, é normal. Não é que nem no entretenimento que a gente entrega, que estou colorida, ‘café da manhã’, festa, uhul! Não. Sou uma pessoa normal. Mas hoje em dia estou inteira como pessoa. Naquela época, definitivamente, não estava. Estava completamente destruída por dentro. Eu não tinha forças nem para fingir que estava bem”, conta.

Assista a entrevista em vídeo e leia na íntegra abaixo:

POPLINE – “Café da Manhã” encerra mesmo os lançamentos do “Doce 22”?

LUÍSA – Ele encerra todos os lançamentos. É o lançamento final, então é o final de tudo, de toda a história. Até então, eu não tinha terminado, né? Eram sub-eras dentro da era “Doce 22”. Agora, não. É a última. Mas, neste ano, vou trabalhar muito em… Como posso dizer? Projetos comemorativos.

POPLINE – Como assim?

LUÍSA – Projetos comemorativos do ‘Doce 22’. Posso dizer que vou celebrar o ‘Doce 22’ de algumas maneiras: as eras e tudo que envolve o ‘Doce 22’, sabe? Todas as eras tanto estéticas quanto musicais, todos os momentos serão prestigiados e celebrados. Vou dizer assim, porque não posso dizer muito ainda.

POPLINE – Então ainda tem mais coisa!

LUÍSA – Tem, tem mais coisa. Mas agora a gente está na era “Café da Manhã”, né? Então vocês vão me ver de “Café da Manhã”. Estou aqui toda coloridinha.

Foto: FELIPE GRAFIAS

POPLINE – Você entregou muita coisa nessa era – lyrics videos, clipes, show novo, lançamentos das músicas aos poucos. Teve alguma coisa que você queria fazer e não fez? Ou fez tudo que queria?

LUÍSA – Sempre tem, né? Sempre tem! A gente sempre quer fazer mais, dar mais o nosso melhor. Claro que tem. Mas acho que fiz tudo que consegui fazer, o melhor que podia. Eu vivi para o ‘Doce 22’ todos os dias da minha vida. Acho que muitas vezes fui até além do que minha saúde mental aguentava para entregar o que eu queria. Não teve como fazer mais, mas a gente sempre quer. Só que acho que o ‘Doce 22’ é perfeito do jeito que ele é.

POPLINE – Seus objetivos foram alcançados?

LUÍSA – Foram. 100%.

POPLINE – Quais eram?

LUÍSA – Antes do”Doce 22″, eu queria muito ser vista como um produto de potência, um produto rentável o mais rápido possível, o mais imediatista possível. Quando conquistei esse objetivo, meu intuito era ser reconhecida como artista. Sabe artista? Eu queria muito calar a boca dos maiores críticos, que olhavam de canto, porque eu sempre soube que eu era [capaz]. Eu adoro quando as pessoas que não ligavam para mim vem com aquele discurso de ‘nossa, como você evoluiu!’. Claro que eu evolui como uma pessoa normal, mas eu já sabia fazer ‘Doce 22’. Mas a minha frase de vida é: a ansiedade mata o artista. Então, tenha calma em cada passo que você dá. E dê cada passo em terra firme. Eu fiz isso, fui com calma, fiquei 14 meses fazendo o “Doce 22”. Evoluindo muito, óbvio. Não que eu não tenha tido evolução, mas eu sempre pensei isso: eu sabia que as pessoas iam falar ‘cara, a Luisa é artista, a Luísa é cantora’. As pessoas falavam que eu nem cantava bem, entende?

POPLINE – Eu lembro.

LUÍSA – Entende? Mas eu sabia quem eu era. Eu acreditava em mim e sabia que ia fazer as pessoas acreditarem. Sempre soube. Sempre aguentei quieta muita coisa. Não foi pouca coisa, não. Definitivamente, não foi pouca coisa. Mas eu mantinha a calma, não ficava ansiosa, para nada atrapalhar meus objetivos. Qual era a pergunta?

Não acabou! Luísa Sonza prepara "projetos comemorativos" para "Doce 22"

(Foto: Felipe Grafias)

POPLINE – Quais eram seus objetivos? (risos)

LUÍSA – Meu objetivo agora era ser vista como artista, como cantora, algo mais que tanto pedem – dessa profundidade, que sempre me tocou também. Sempre quis ser uma artista que tocasse o coração das pessoas, e que as pessoas me entendessem e me enxergassem de uma maneira 360, sabe? Por isso, sempre falei para minha equipe: “Doce 22” é o momento para as pessoas me enxergarem 360. Eu queria ser vista não só como “ela tem números, mas não tem conteúdo”. Eu queria arredondar para iniciar esse momento de ser uma artista completa e poder se aventurar em vários lugares, de várias maneiras, e ser reconhecida por isso. Atingi esse objetivo, sem dúvida alguma, na minha opinião. Obviamente, o artista sempre vai ter que estar se provando. A gente faz um bilhão de coisas do jeito que a crítica gosta, aí a gente faz uma coisa que não gosta e “já não canta”. Você vê que volta um pouco os comentários, mas isso não apaga meu trabalho.

POPLINE – Você falou que desde o início já sabia quem era e podia tudo isso. Mas, no início, o artista não tem também as possibilidades, a estrutura, a abertura.

LUÍSA – Tudo. Nossa, com certeza. As pessoas criticam e não entendem o que a gente passa para conseguir ter. Não é tão simples quanto parece. Não é tão fácil. Eu sei porque já morei no interior, canto desde os sete anos, e trabalhei por dez anos em uma banda. Eu olhava uma pessoa na TV e pensava: “nossa, como ela tá desafinando ali? É tão fácil esse tom”. Quando você é a pessoa e enxerga a responsabilidade que é estar no palco, com o emocional de estar na frente de milhões de brasileiros em um Faustão da vida, geralmente com o som que não está bom, com o in ear que estraga… A gente não tem ideia, quando a gente não está no lugar, do que acontece para acabarem com a gente por causa de uma desafinação, por exemplo.

POPLINE – Geralmente quem critica é a gente que nem canta, né? (risos)

É! Mas eu, por exemplo, cantava antes. Sei como é isso: “nossa, mas isso é tão fácil. Eu faço isso. Tanta gente canta melhor!”. Mas é muito diferente você estar nesse lugar de destaque. É o cu que não passa Wi-Fi! (risos)

Foto: @luisasonza (Instagram)

POPLINE – Outro ponto que quero tocar: você foi muito atacada e teve sua vida pessoal muito exposta e debatida. Eu tenho a impressão que, desde o lançamento do ‘Doce 22’, você se tornou uma pessoa mais reservada e consegue ter mais privacidade. A gente não sabe mais quem você está pegando, o que você está fazendo, se você está triste, se você está feliz. É real isso ou é uma impressão minha?

LUÍSA – Sim, eu me reservei mais. Eu consegui colocar os holofotes na minha arte. Eu queria muito isso. As pessoas hoje em dia ligam mais para o que eu vou lançar, para o meu trabalho, do que para minha vida pessoal. Não que não liguem. Não que eu não tenha que ficar bem escondidinha (risos). Não que eu não esteja pelos cantos fazendo as coisas… Mas atingi esse objetivo das pessoas me enxergarem como artista e buscarem arte e música. Mas hoje em dia me reservo muito, muito, muito mais. Por mais que eu tenha sofrido muito com isso, eu me entendo como pessoa pública. Eu já passei por tanta coisa que, pra mim, se quiser saber, se não quiser saber… Eu lido com tudo. Mas outras pessoas, que estão ao meu lado – vamos dizer nas relações amorosas – têm medo. São mais medrosas, por exemplo. Então acabo ficando reservada por vários motivos, não só por ligar tanto. Hoje em dia, já nem ligo. O que quiserem falar de mim…

POPLINE – Não liga mesmo?

LUÍSA – Em relação a que? Eu ligo para ser atacada. Ser atacada ninguém gosta, pelo amor de Deus.

POPLINE – Eu queria saber sobre isso também: quando você lançou o álbum, estava ausente das redes sociais, mas depois voltou. Como se blinda dessa parte negativa?

LUÍSA – Eu não olho, não. A parte negativa… Só terminando aquela pergunta lá, não é que eu não ligo no sentido “não tô nem aí”. Tanto é que não exponho porque não tenho condição emocional para muita coisa. Não tenho condição emocional para o ataque. Ainda sinto muito medo. Muito medo, muito medo mesmo. Não tenho medo de falarem que peguei alguém, sabe? Isso eu não ligo muito mais. Mas as outras pessoas ligam. Eu não tenho problema de falar as coisas – neste sentido. Mas quando vira aquilo das pessoas, que só sabem uma fofoca de duas frases, decidirem que tipo de caráter eu tenho, o tipo de pessoa que sou, isso me assusta. Não tenho condição emocional nenhuma, me dá desespero. Isso me dá crise de pânico e é pauta da minha terapia.

POPLINE – Como você se blinda? Bloqueia?

LUÍSA – Eu não olho. Quando vejo, passo rápido.

POPLINE – Não tem como não passar na sua tela.

LUÍSA – É, mas tento passar o mais rápido. Tento não ficar. Quando eu fico, fico mal. Fico bem mal. É muito triste, porque a galera deturpa mesmo a vida da pessoa público. Pega um frame de um vídeo e fala com uma certeza que é assustadora. Machuca. É do ser humano você querer contestar: “mano, você tá maluca? Você tá falando coisas absurdas, você tá tirando da sua cabeça e postando em uma rede social globaliza. E falando com certeza, com propriedade, de uma coisa que você não tem propriedade”. Isso é de uma prepotência muito grande. Luísa, sempre se ache uma merda, porque o dia que você se achar inteligente, provavelmente você está sendo burra e uma merda. Você se achar o dono da razão é você ser burro, tá ligado? Quem sou eu pra falar do outro. O dia que eu me achar alguém para falar do outro, eu vou ser Deus, sabe? A gente tem que exercitar a empatia. Não é que eu não quero que as pessoas deem suas opiniões. Eu amo discussão, acho que é uma coisa necessária para o ser humano, mas é uma troca. É a opinião tipo “eu não tenho certeza, mas caso…”. É de uma delicadeza, de uma empatia, é com amor. As pessoas falam “ah, não pode dar a opinião”. Não pode dar sua opinião com ódio, sabe? Menosprezando, humilhando a pessoa. Você não pode fazer isso. Eu não posso. Ninguém pode fazer isso com ninguém. Isso não é dar sua opinião. Eu e você podemos discordar de um monte de coisas. Eu discordo das minhas melhores amigas. Mas discordo trocando, escutando. A gente fala muito e não escuta. A gente não para e pensa “essa notícia aqui, que eu provavelmente li só o título, o que a Luisa falou? Então porque estou tirando minhas próprias conclusões”. Eu acho que falta bastante amor.

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