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Entrevista: ‘Juntei uma herança familiar com uma vivência de 20 anos de rap e assim surgiu o Pagode da Negrole’, diz Nicole Balestro

Nicole Balestro. Foto: Divulgação.

O desejo de trabalhar com eventos entrou na vida de Nicole Balestro na adolescência, a partir da influência da série ‘Sex and the City’. Na trama, uma personagem chamada Samantha Jones atua no ramo de Relações Públicas e na produção de eventos. Foi nesse contexto que ela ouviu a primeira vez falar da profissão. 

“Relações Públicas entrou na minha vida na época de uma série chamada ‘Sex and the City’, lembro que eu estava para prestar vestibular, lá por 2002/2003. Eu era viciada nessa série e tinha uma personagem chamada Samantha Jones, que era RP [Relações Públicas] e foi a primeira vez que eu ouvi falar disso”, conta.

Nicole Balestro. Foto: Reprodução/Instagram.

“Eu lembro que eu fui atrás e quase não se falava antigamente. Para você entender um pouco sobre a profissão que você ia seguir existia [a revista] ‘Guia do Estudante’ e a parte de Relações Públicas da edição que comprei era um parágrafo. Só que na minha concepção eu ia fazer Relações Públicas, porque a Samantha Jones no ‘Sex and the City’ fazia muitos eventos. Então, eu achava que ia fazer muitos eventos”, completa.

Mas, para trilhar esse caminho almejado, Nicole prestou vestibular para as universidades de São Paulo. Passou para a faculdade que desejava: a Cásper Líbero. Logo no início do curso, um dos  primeiros estágios que ela fez foi no Camarote da Brahma, no Carnaval da capital paulista. A partir disso, a sua trajetória profissional na área do entretenimento foi iniciada. 

“O rap entrou na minha vida quando Racionais MC lançou ‘Um Homem na Estrada’, eu tinha uns 12/13 anos. Eu sempre gostei de rap e, em paralelo, fazia eventos. Isso há mais de 20 anos”, conta.

Depois da faculdade, Nicole acabou se envolvendo em uma cena de rap em São Paulo que, segundo a empresária,  era muito nichada.  Por conta da produção de eventos, as saídas para diversão e com o auxílio do Fotolog, rede social que permitia ao usuário compartilhar fotos e textos curtos ela passou a ficar conhecida, fazendo festas e trazendo artistas do exterior para o Brasil. 

Em 2012, Nicole Balestro estava na Revista Trip, fazendo a parte de editorial, até que recebeu o convite de Flora Matos para trabalhar. Na época, a cantora estava lançando Flora Matos vs Stereodubs’.  Desde então, o mercado da música foi cada vez mais entrando na sua carreira profissional. 

Foto: Reprodução/Instagram.

Em entrevista para o POPline.Biz é Mundo da Música, Nicole Balestro fala sobre os mais de 20 anos de carreira, que passou por Relações Públicas, produção de eventos, empresariamento artístico, criação de um selo e, atualmente, o nascimento do Pagode da Negrole.  Além disso, ela conta sobre a Direção Artística e Comercial do Cena 2k23 e os próximos passos com a agência Balestro Co.

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Na época em que trabalhou com a Flora Matos, Nicole conta que as equipes não eram tão grandes e não tinham divisões claramente delimitadas. Portanto, quem ia para a estrada, também vendia os shows, os CDs, negociava com o contratante e etc. Logo depois desse período na equipe da cantora, ela decidiu que queria trabalhar com eventos. 

“Fiquei uns dois ou três anos com a Flora. Depois, comecei a fazer Direção Artística de evento e cheguei no mundo corporativo. Eu comecei  a me encontrar muito com música e na parte de Direção Artística. Me achei nesse caminho”.

Nicole Balestro. Foto: Reprodução/Instagram.

A Ceia

Foi nesse período em que Nicole Balestro estava trabalhando no mundo corporativo, que seu sócio à época, Doncesão, teve a ideia de montar um selo musical de rap.

“Eu estava muito bem profissionalmente, ganhando bem e aceitei ‘ver’ qual era de montar um selo. Na época, não tinham muitos selos, tinha, óbvio a ‘Lab Fantasma’, que até hoje é uma referência de organização. Só que eu tive que abrir mão do meu trabalho e foi um tiro no escuro, porque eu não sabia se ia dar certo. Só que a Ceia deu certo, no período que ela tinha que dar certo”.

Nicole Balestro. Foto: Reprodução/Instagram.

Na Ceia, Nicole aprendeu a fazer a empresariar, a negociar, entender sobre fonograma, obra musical, fazer relacionamento entre artistas e marcas, e investimento em carreira musical.

O selo durou quase cinco anos e chegou ao fim no ano passado. O sonho de Nicole Balestro de produzir eventos, que deu início a sua trajetória profissional no começo dos anos 2000 voltou à sua vida, unindo dois gêneros musicais: o pagode e o rap. 

Pagode da Negrole 

“O pagode nunca saiu da minha vida. O pagode e o samba são raízes familiares. Eu nasci, cresci dentro de uma Escola de Samba. Meu pai, o Turco, é um dos maiores compositores de Carnaval, de Samba Enredo em São Paulo. O Carnaval e o samba sempre estiveram na minha vida como uma herança familiar. Eu sempre brinco que o samba é de família e o rap eu fui descobrindo pelas minhas próprias pernas.”

Nicole Balestro no Pagode da Negrole. Foto: Talita Toledo.

O Pagode da Negrole nasceu antes do fim da Ceia, em junho de 2022. Nicole diz que o projeto surgiu de uma necessidade pessoal por um evento de pagode em São Paulo em um contexto pós pandemia da covid-19.

“Eu, por exemplo, era uma pessoa que ia sair e todos os rolês que saía, se não fosse para fazer business, era para samba/pagode. Chegou em um momento, que eu pensei: ‘por que não fazer um pagode com umas atrações de rap?’ Aí nasceu o Pagode, de uma necessidade pessoal, porque o rolê de rap atualmente é muito jovem e eu já tenho 38 anos. Eu quero sair, quero dar close, quero me jogar e quero que termine cedo. Eu juntei uma herança familiar, um DNA meu, com uma vivência de 20 anos de rap e assim surgiu o Pagode da Negrole que, sinceramente, não achei que fosse passar de duas edições, achei que ia ser flop”.

Nicole Balestro no Pagode da Negrole. Foto: Reprodução/Instagram.

Mais de um ano depois, o Pagode da Negrole teve 12 edições e contou com o montante de 10 mil pessoas. Além de São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas já receberam o evento. O último ocorreu na capital paulista e, para fechar o ano de 2023, o próximo vai acontecer no Réveillon, na capital fluminense. 

“O primeiro foi um sucesso, o segundo foi melhor e assim ele foi crescendo. O que é muito louco, porque ele sempre dependeu de mim para a divulgação. O evento também foi acontecendo organicamente, porque um sempre ia falando para outro e por aí vai, então foi aparecendo pessoas de outros estados. No Pagode, não fico no camarote, troco ideia com todo mundo… Então, eu acabei virando parte e as pessoas passaram a falar uns para os outros. Eu percebi que eu tinha espaço para levar o pagode para outros lugares e acabou que deu certo”.

Nicole Balestro. Foto: Talita Toledo.

Com agenda fechada para 2024, o Pagode da Negrole está em um momento em que as marcas estão procurando. 

“Estou em negociação com as marcas, que eu só não fechei ainda neste ano, porque ainda não chegou em um modelo de negócio que funciona para mim, não só financeiramente, mas porque existem coisas no pagode que eu não mudo. 80% do evento é mulher, não tem briga, é domingo, porque é um dia que não tem nada para fazer, e sábado muita gente trabalha. O Pagode acabou tomando outras proporções, a gente vai sair aqui, inclusive, do sudeste”.

Atualmente, a equipe do Pagode da Negrole conta, de acordo com Nicole, com cerca de 10 pessoas. Nos dias de evento, são contratados produtores e as pessoas que desempenham outras funções. Ainda tem os artistas, o Grupo Só Kurtição está presente em todas as edições.

Grupo Só Kurtição na edição de 1 ano do Pagode da Negrole. Foto: Talita Toledo.

“O pagode foi crescendo de forma muito orgânica, um falando com o outro, como eu trabalhei anos com evento e sou rolezeira, fiz o pagode sempre pensando em infraestrutura e preço que eu acho honesto para bar, de bebida… Fiz o pagode com uma área open bar, que a pessoa não pegasse fila. Foi um pagode pensado no que seria um evento ideal para eu sair da minha casa, que hoje eu só saio para fazer dinheiro. Eu fiz o Pagode pensando na construção de uma marca”.

Nicole Balestro na edição de 1 ano do Pagode da Negrole. Foto: Talita Toledo.

Para unir o pagode com o rap para um público mais velho, Nicole garante que a curadoria é um desafio.  

Por incrível que pareça, existe uma complexidade na hora de pensar um line-up, porque o pagode já tem uma demanda de um público mais velho. Ao mesmo tempo, foi o desafio que a gente teve na edição de um ano. Meu sonho era ter o Belo, quem conversaria com o Belo? Eu pensei em uma construção para um público da mesma idade e cheguei na Flora, tem a minha idade, a galera que curte tem lá uns 27 a 30 e poucos anos, e é um desafio que estou tendo no festival”.

Flora Matos na edição de 1 ano do Pagode da Negrole. Foto: Talita Toledo.

Neste ano, o Pagode da Negrole completou um ano com uma edição, que aconteceu no dia 11 de junho, em São Paulo, e teve as participações de Belo e Flora Matos. 

Belo na edição de 1 ano do Pagode da Negrole. Foto: Talita Toledo.

O festival em questão é o Pagode da Negrole com uma duração de dois dias. Nicole explica que esse formato de evento, unindo o pagode ao rap,  é recorrente no Rio de Janeiro, no entanto, em São Paulo não ocorre da mesma forma. Normalmente, conta com um ritmo ou outro na capital paulista. 

O festival do Pagode da Nagrole vai ser um evento de dois dias com a proposta de atender esse público 20 e poucos mais. É o público que eu quero, porque tem poder de compra, consome em um bar e realmente compra ingresso. É mais exigente e demanda mais investimento em infraestrutura”.

O festival Pagode da Negrole tem data marcada para os dias 8 e 9 de junho, em São Paulo. O evento vai celebrar o aniversário de dois anos da iniciativa.

Foto: Divulgação.

Na virada do ano, o Pagode da Negrole tem uma edição agendada no Réveillon carioca, no espaço BCo, no centro do Rio de Janeiro.

“Eu passo Réveillon no Rio há uns 11 anos e nunca achei um rolê que eu gostasse. Ou optava por uns hotéis ou ia à praia [na celebração]. Esse ano decidi que ia fazer o Pagode na virada do ano no Rio e está super dando certo”.

Foto: Divulgação.

 Cena 2k23 

O festival Cena 2k23 cruzou os caminhos de Nicole ainda quando ela empresariava artistas. No entanto, nesta edição a atuação dela saiu da posição de contratada para assumir a Direção Comercial e Artística do evento, que aconteceu no sábado (9) e domingo (10), na Neo Química Arena, em São Paulo.

 

 

“O line-up já existia”, esclarece Nicole, para começo de conversa. “Eu só dei umas pinceladas em uma coisa ou outra, mas assim minha função era ficar à frente da parte Artística e Comercial, a gente fechou o patrocínio com o Banco do Brasil, dentre alguns outros”.

“O convite veio justamente quando eu estava em transição de carreira, eu tinha acabado de montar minha agência e fui ver qual era o desafio. É tudo que gosto de evento”, conta Nicole sobre o trabalho no Cena 2k23.

Balestro Co.

Antes do trabalho no Festival Cena, veio a Balestro Co, que surgiu, segundo Nicole, da demanda de clientes que a procuravam para fazer o relacionamento entre artistas e marcas. 

Logo da Balestro.Co. Foto: Divulgação.

As marcas me procuram para fechar ou publicidade ou campanha com artistas e faço essa conexão. Ou seja, é a ponte entre marcas e artistas. Na minha trajetória profissional eu já trabalhei em agência, com marca, e eu conheço muita gente de publicidade.”

Desde o fim da Ceia, a procura para a empresária fazer planejamento estratégico e construção de carreiras artísticas é recorrente. Ela conta que ainda está estudando se vai entrar a fundo nessa área.  Para 2024, o foco de Nicole Balestro é expandir a sua agência e seguir na produção de eventos.

Edição de 1 ano do Pagode da Negrole. Foto: Talita Toledo.

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