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Para não esquecer: algumas mulheres que moldaram o rap nacional

Fotos: @karolconka @negrali @kmilacddoficial (Instagram)/reprodução

“Não é coisa só pra homem”, já versava Rubia RPW sobre achar rap “legal” mesmo sendo uma mulher nos anos 1990. A discussão sobre a presença feminina no gênero musical ganhou força nas últimas décadas graças às mulheres pioneiras, que impuseram seus talentos em um movimento dominado por homens. Na última semana, um debate sobre mulheres no rap dominou os amantes do gênero no Twitter, após um embate envolvendo Flora Matos e a dupla Tasha & Tracie.

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Tasha & Tracie | Foto: @stefflima

Em meio a vários tuítes sobre o assunto da vez, uma publicação do produtor Lucas Zetre chamou a atenção e provocou outro debate na rede sociais. Ele escreveu que nenhum nome nenhuma mulher do rap conseguiu representar, para as mulheres da favela, o que as gêmeas do Jardim Peri representam.

“Tasha e Tracie são os maiores nomes femininos da música brasileira”, publicou Zetre. “Postura, flow, estética, representatividade, posição dentro do meio, arte, ninguém conseguiu juntar isso antes delas”, continuou. “O que elas representam para as mulheres de favela, nenhuma mulher no rap conseguiu antes isso, finalizou Lucas.

A publicação repercutiu negativamente e recebeu milhares de respostas mencionando rappers que foram percursoras do movimento. Embora Tasha & Tracie, realmente, sejam sinônimos de representatividade, flow, estilo e boa música, elas também agregam fundamento e referências de mulheres que abriram os caminhos no rap e escreveram seus nomes na história da música.

Tasha e Tracie
Tasha e Tracie | Foto: @stefflima

Diante da renovação constante do público de rap, minas que pavimentaram o caminho do gênero não podem ser esquecidas para que novos talentos, como as gêmeas, apareçam.

Confira abaixo alguns nomes para não esquecer:

Kmilla CDD

Foi rimando com o seu irmão, MV Bill, que Kmilla CDD entrou para a história do rap nacional. A participação da rapper na icônica “Estilo Vagabundo” (2007) apresentou ao grande público o flow inconfundível e a presença impossível de ser ignorada. Cria da Cidade de Deus, a artista aborda a realidade do lugar em que cresceu e apresenta sua perspectiva sobre temas cotidianos das e mulheres da comunidade em suas músicas. Em 2017, Kmilla lançou o imponente EP “Preta Cabulosa“.

Dina Di

Kmilla não esconde que sua principal referência no rap é Viviane Lopes Matias, conhecida como Dina Di, a grande precursora do rap feito por mulheres no Brasil. Integrante do grupo Visão de Rua, formado na década de 1990 em Campinas, Di provocou reflexões sobre violência urbana, desigualdade social e machismo em suas rimas. Ela faleceu em 2010, vítima de uma infecção hospitalar. Sua arte continua vida em todas as meninas que vieram depois.

Rubia RPW

Referência para artistas de São Paulo, como Criolo e Emicida, Rúbia escreveu seu nome na história do rap nacional ao lado de seus amigos Paul e W-Yo. Juntos eles formaram o RPW, grupo de sucesso nos anos 1990, que ficou conhecido pelo estilo “bate cabeça” e o single “Pula ou Empurre” – música em que Rúbia já convocava outras mulheres para o movimento. Após 25 anos de atividade, o grupo chegou ao fim em 2016.

“Por isso convido mais garotas pra esse clima
Feche os olhos, tome coragem e caia pra cima”

Grupo Negaativa

Considerado um dos melhores grupos femininos dos anos 2000, o Negaativa foi formado no Rio de Janeiro por Mary Juana, Mônica e Jamille. A última foi vítima de feminicídio e faleceu em agosto do ano passado. Seja falando sobre uso de preservativos, opressão social ou racismo, o grupo chamava atenção pela lírica autêntica. O sucesso “Pula Na Muvuca” entrou para uma coletânea de Marcelo D2.

Cris SNJ

São mais de 22 anos a serviço do rap nacional. Cris entrou oficialmente para o grupo SNJ, sigla para “Somos Nós a Justiça“, em 2000, quatro anos após a formação original funda-lo, em 1996. Desde então, a rapper não saiu do grupo, mesmo com as diversas mudanças e formações. Militante do rap e voz do feminismo, Cris lançou o seu primeiro disco solo, chamado “Se tu lutas, tu conquistas“, apenas em 2016.

Nega Gizza

A história de Nega Gizza, nome artístico de Gisele Gomes de Souza, se confunde com a história de milhares de mulheres da periferia. “Adotada” por MV Bill após a perda do irmão, ela serviu ao rap não apenas fazendo música como também comunicando. Ela foi apresentadora de programas de rádio sobre o gênero, pioneira também nessa função. Gizza venceu o Prêmio Hutúz em 2001 na categoria “Melhor Demo de Rap“. O álbum “Na Humildade” é considerado um marco no rap feito por mulheres no Brasil.

Negra Li

Foi com a rapaziada da zona Oeste, o RZO, que a Negra Li foi apresentada a cena do rap nos anos 1990. Na companhia de Hélião, Sandrão e DJ Cia, a jovem Liliane de Carvalho fez parte de uma das mais significantes movimentações do rap paulista e se tornou um ícone não apenas da música, mas do estilo inicio dos anos 2000. Com uma voz inconfundível, ela investiu em uma carreira solo e marcou a década seguinte com diversos hits, entre eles “Você Vai Estar Na Minha” e “1 minuto”. Chamada de “Lauryn Hill brasileira“, a cantora agrega parcerias com Skank, Charlie Brown Jr, D Black Sabotage em seu portfólio. Em junho deste ano, ela liberou o single “Malagueta“, uma colaboração com Rincon Sapiência, nas plataformas de áudio. Uma lenda (viva e em atividade) do rap nacional!

Karol Conká

Mamacita fala, vagabundo senta! Embora a participação de Karol no BBB 21 tenha decepcionado algumas pessoas, a relevância e competência da rapper curitibana são inegáveis. Ela lançou o seu primeiro EP em 2001, mas foi com o álbum “Batuk Freak“, de 2013, que ela alcançou o mainstream e ditou tendências no rap e na música pop da época. No ano seguinte, Conká lançou, em parceria com Tropkillaz, o maior hit de sua carreira, “Tombei“. Feminismo, emponderamento, racismo, diversão e sexo são temas recorrentes nas músicas de KC.

Drik Barbosa

Drik ganhou muita visibilidade a partir de suas parcerias com Emicida, em meados de 2013. A rapper paulistana é cria da Batalha da Santa Cruz e lançou o seu primeiro EP, “Espelho“, em 2018 pela Laboratório Fantasma. No ano seguinte, liberou um disco de estreia com participações de Karol Conká, Gloria Groove, Luedji Luna e Rael.

Rimas & Melodias

Alt Niss, Drik Barbosa, Karol de Souza, Mayra Maldjian, Stefanie, Tássia Reis e Tatiana Bispo desenvolveram, em 2015, o “Rimas & Melodias“, um projeto de rap com elementos da Soul Music.

Tássia Reis

As diversas influências de Tássia fazem dela uma das artistas mais interessantes do rap nacional. No início da década passada, ela saiu de Jacareí, no interior de São Paulo, para tentar a vida na capital. Tudo mudou com a canção “Meu Rapjazz” (2013) – um sucesso instantâneo, que abriu portas nacionais e internacionais para a artista. Carisma, originalidade, personalidade e boa música são características que do trabalho de Tássia Reis.

Flora Matos

Quem conhece Flora apenas pelo hit “Pretin“, de 2011, perde uma discografia cheia de nuances e boas rimas. Dona de uma versatilidade rara na cena, ela misturou grime, drill e boom-bap com trap, samba e afrobeat no disco “Do Lado de Fora” (2020). No ano passado, lançou o ambicioso e diverso álbum “Flora de Controle“, voltado para as pistas. Poucos resistem ao flow de Flora Matos.

Clara Lima

O novo sempre vem! Com apenas 23 anos, a mineira Clara Lima já coleciona 4 discos em seu currículo – “Transgressão” (2017), “Selfie” (2019), “Só Sei Falar de Amor” (2021) e “Som Que Vem da Alma” (2022) – , além de parcerias com Djonga, FBC, Doncesão e mais. Ela começou a rimar quando tinha 14 anos e nunca mais parou.

Tasha & Tracie

Indicadas ao BET Hip Hop Awards, painel na Times Square e apostas de todas as plataformas de música. O corre das gêmeas do Peri tem representado o rap nacional ao redor do mundo. Com rimas cortantes e o estilo mandrake, elas conquistaram uma legião de fãs nos últimos anos. O EP “Diretoria“, lançado no ano passado, alavancou as irmãs Okereke a um novo patamar artístico. Dois discos inéditos são esperados ainda em 2022.