Gilberto Gil garante que a sua família – ao contrário dele – não teve nenhum tipo de constrangimento com as câmeras responsáveis pela filmagem do reality show “Viajando com os Gil”, projeto que acompanhou o klã-artístico durante a turnê internacional “Nós, a Gente” em 2022.
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Sob o olhar atento do veterano e de sua esposa, Flora Gil, os filhos, netos, bisneta e agregados (quase 40 familiares ao todo) viajaram de ônibus pela Europa, intercalando a descontração dos passeios com o profissionalismo das apresentações, a diversão com a tensão, e o afeto com a frustração.
A sinergia familiar, amparada por momentos extremamente sentimentais e alguns arranca rabos sofisticados, é o tempero do série documental que estreia no próximo dia 30 na plataforma Amazon Prime Vídeo.
“Os meninos e as meninas, todos, estavam muito dispostos. Eles são muito jovens e cresceram com essa coisa de rede social, mídia eletrônica, moderna, muito rápida, muito ágil e muito invasiva (…) Eles estavam dispostos a tudo isso. Eu sou mais antigo, talvez tenha tido mais resistência, mas eles não. Eles gostavam de tudo, botavam as caras logo“, disse Gil ao POPline.
O novo projeto é praticamente uma continuação da série “Em Casa com os Gil“, lançada no ano passado e filmada na casa de campo da família durante a pandemia. Os episódios do primeiro registro mostravam os preparativos para a turnê que conduz o roteiro de “Viajando com os Gil“.
As duas temporadas foram dirigidas por Andrucha Waddington, que relata uma intimidade instantânea dos componentes familiares com as câmeras. “Na primeira temporada, que a gente criou exatamente sobre a preparação dessa viagem, já houve uma intimidade muito grande, como se as câmeras não estivessem lá, como se elas fossem um membro da família“, disse o diretor.
O clima agregador dos Gil fez com que a equipe de filmagem se tornasse membro da família, conta Andrucha. “Foi estratégico para que a câmera não fosse invasiva e, na hora que as pessoas se sentiram invadidas, elas tinham uma liberdade de recuar. É uma coisa de respeito mútuo para você conseguir ter um grau de confiança“, explicou o diretor, que é amigo da família há quase 30 anos.
“Briguento”
Algumas desmitificações acontecem quando uma câmera acompanha o cotidiano de uma família. Os episódios de “Viajando com os Gil“, por exemplo, mostram que o compositor de “Andar com Fé” não é um guru da paz como está estabelecido em parte do imaginário brasileiro. Centrado, a lenda viva da música tem momentos de rigidez durante os ensaios e de firmeza na condução dos desassossegos familiares.
“Você não viu nada“, brinca Gil quando escuta a constatação de que ele é briguento em alguns momentos da série. “Você só viu um pouquinho, tem uma parte que a Amazon não mostra“, complementa Flora em tom de brincadeira.
Algo muito genuíno sobre a sabedoria quase anciã de Gil é desenhado nos momentos com o neto Bento, figura adolescente da família e a quem o avô responde com firmeza quando uma tensão musical-familiar acomete um dos ensaios. Lidando com o descontentamento adolescente, Gil então convoca o rapaz para um momento de destaque durante os shows da turnê, onde ele teria que tocar “O Pato” no violão. Bento sente a responsabilidade de carregar um número musical ao lado do avô. A cena é muito bonita.
“Eu brigo muito, mas eu também fui me habituando a ficar quieto, aprendendo as impertinências de cada um, as manias de cada um e as minhas todas diante dessa dessa diversidade de vieses, dos modos enviesados cada um tem. Eu fui aprendendo. Na primeira temporada, lá em Araras, eu aprendi muito e na estrada era mais ainda porque eu tinha que cuidar de outras coisas”, disse Gil sobre o seu lado briguento.
As apresentações costuram toda a narrativa da série e mostram o rigor técnico e o profissionalismo de Gil, características destacadas por Flora e Waddington durante entrevista ao POPline.
“[O rigor de Gil] disciplina todo mundo. É bom porque respinga para todo lado. Ele, como band leader, se [deixasse] que a corda ficasse solta, eu acho que teríamos muita dificuldade de conseguir ter um resultado. A família toda ficava responsável sabendo que às 10 horas da manhã, teria que fazer isso e aquilo e o Gil era o primeiro a chegar. Isso dava exemplo para que a família não desse bobeira”, observou Flora Gil.
E agora, Gil?
Homenagens a Gilberto Gil e sua obra inundaram as redes sociais na última segunda-feira (26), quando o artista completou 81 anos de idade. Em “Viajando com os Gil“, a família do veterano da música não apenas reconhece a grandiosidade de uma carreira, mas também discute, em vários momentos, a disponibilidade do patriarca para encarar longas turnês, viagens e novos projetos.
Questionado sobre o tema e se pretende parar de fazer shows, Gil respondeu:
“O meu sentimento interno é de que eu tenho que começar a maneirar mesmo. Agora, tem a coisa da aceleração que já vem de muitos anos, sempre indo para frente, sempre apertando o acelerador e indo mais. Eu estou hoje em um estágio de pequeno conflito entre as duas coisas, né? Entre ficar em casa, descansar, admitir uma uma aposentadoria natural e ao mesmo tempo ainda [tenho] a vontade de continuar na estrada, continuar acelerando e fazendo as coisas. É um conflito que vai se resolvendo em função da própria manifestação. Enquanto der, enquanto tiver saúde, enquanto tiver vontade, enquanto a recompensa do encontro com o público tiver ali, integral e etc, o descanso vai ficando para depois“.
Com direção geral de Andrucha Waddington e direção de Pedro Waddington e Rebeca Diniz, Viajando com os Gil é produzida pela Conspiração, com roteiro de Hermano Vianna e Sebastian Gadea, além de produção executiva de Andrucha Waddington, Renata Brandão e Ramona Bakker.