Entrevistas

Entrevista: Djavan celebra dias melhores, suas ancestralidades e família no novo álbum “D”

Foto: Gabriela Schmidt

“Retomar o que era bom; ser feliz é logo ali” são alguns dos primeiros versos que ouvimos do novo álbum de Djavan, o “D”, lançado nesta semana, mais precisamente na quinta-feira (11). O disco, que foi encabeçado pelo single “Num Mundo de Paz” e que marca as Bodas de Prata da discografia do alagoano, chega ao público em um momento simbólico, pós pandemia, e traz leveza e otimismo a 2022.

O POPline conversou com o cantor por cerca de 15 minutos, onde ele gentilmente detalhou os processos criativos e de produção do álbum. Djavan contou algumas curiosidades acerca do projeto, que traz uma colaboração, até então inédita, com Milton Nascimento, uma regravação de uma parceria entre ele e Zeca Pagodinho, um encontro sensível do artista com seus filhos e netos e capa poderosa assinada por Giovanni Bianco.

Capa do álbum “D”. Foto: Gabriela Schmidt

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Em toda sua sensibilidade, Djavan conseguiu trazer no álbum “D” um toque de otimismo, um olhar mais positivo para um futuro não tão longe; o agora. Ele garante que essa foi sua intenção, desde o momento em que começou a trabalhar nas novas músicas em junho de 2021:

“Comecei a compor esse álbum em junho de 2021, ainda naquela fase obscurantista da pandemia de medo e insegurança, mas comecei a compor com foco no otimismo. Eu queria um álbum que trouxesse luz a todos os campos, que as pessoas trabalhassem pelo futuro, pois só o futuro salvaria a gente. Dentro do meu processo, primeiro fiz as músicas, depois que está tudo pronto, arranjado, começo as letras. Em outubro, entrei em estúdio pra gravar o que já estava pronto, eram 8, e gravei tudo até janeiro. Fiz esse álbum bem mais rápido do que os outros. Depois, em Alagoas, nas férias, fui na intenção de escrever mais 3 letras, mas escrevi mais 8! O tempo estava favorável, muita luz, muito sol e mar. Assim, em abril terminei o disco e com toda essa intenção de ser um disco pra cima, ‘xô tristeza’. Esse era meu objetivo e assim ficou.”

Foto: Gabriela Schmidt

O tom mais leve é também um tom comemorativo, uma vez que o 25º álbum de estúdio da discografia de Djavan carrega por si só um número redondo, emblemático. Ao longo desses anos de carreira e lançamentos, ele colecionou também grandes parceiros, músicos que participaram de suas bandas e apareceram nos créditos de seus mais diversos trabalhos. Muitos deles voltam a figurar em “D”, como uma forma de celebração.

“Em geral, eu monto uma banda e gravo o disco com essa banda e saio em turnê com essa banda. Dessa vez, quis fazer diferente, pois quis trazer a maioria das pessoas que já haviam gravado comigo durante todo esse tempo. E olha, foi tão bom fazer isso! Gostei tanto de rever pessoas que não via há muitos anos e me reconectar com sua música, sua vibe. A gravação foi muito boa e foi feito até com um tempo menor, o que me deu uma certa tristeza, pois eu não acabei ele. Ele foi quem me abandonou, risos! Eu não queria acabar, queria continuar no estúdio com essas pessoas que amo e me amam também,” contou Djavan.

A variedade sonora de “D”

A diversificação dos músicos, explicada pelo cantor, resultou também em uma diversificação sonora para “D”. O disco pulsa em uma variedade grande de som, de vibração, que pode ser percebida ao passo em que as 12 faixas são executadas. Por exemplo, há mais uma fusão de MPB com música flamenca em “Sevilhando”, assim como feito em trabalhos antigos do artista, como “Andaluz” e o mega clássico “Oceano”. Já “Êh, Êh!”, samba composto por ele e Zeca Pagodinho, já gravado por Alcione, nos remete a outros sambas de Djavan, como “Flor de Lis” e “Fato Consumado”.

Sobre “Sevilhando”, ele explicou:

“Quem faz esses paralelos na minha música é a minha ancestralidade musical. Por exemplo, sou um negro que tenho uma música negra, com uma ascensão moura, tenho um pé na Andaluzia e Marrocos. Tenho a música indígena também, já falei até disso em uma música, sobre essas 3 ancestralidades musicais. Eu quis agora fazer uma coisa ainda mais radical, porque compus uma base musical de funk, coloquei um arranjo de jazz para emoldurar essa base e isso causou um suporte para uma música de melodia espanhola. Foi um desafio, para que esse hibridismo todo não se transformasse num monstro. Era esse meu cuidado, mas, realmente, ficou uma música linda.” 

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Colaborações

Um dos momentos mais emocionantes do novo álbum de Djavan é, sem dúvida, a aguardada parceria com Milton Nascimento, até então inédita. O encontro dos dois astros da MPB, que convergem em tantas coisas, chegou em grande estilo na faixa “Beleza Destruída”. Juntos, Djavan e Bituca trataram de temas urgentes, como ecologia e condição dos povos indígenas.

Sobre a demora para a colaboração entre eles sair, o cantor disse:

“Acho que a resposta mais concreta é a timidez que a gente tem, eu e ele. Eu não tenho coragem de chegar assim e pedir ou falar e ele também não, quer dizer, nunca foi feito isso. Agora, essa parceria só nasceu por força das pessoas que nos envolvem. Eles diziam ‘vocês têm que fazer’ e aí me conscientizei de que tinha que ser feito mesmo essa parceria.”

Djavan ainda detalhou a gravação:

A ideia inicial era fazer uma música juntos, mas acabou que eu fiz a música com um tema que é comum a nós dois, tudo que a gente ama e sabe que tem que preservar, e mandei a música pra ele e ele gostou muito, achou linda. Assim, ele veio aqui para o estúdio e passamos uma tarde e noite gloriosas, onde pude dizer coisas para ele que nunca disse e ele também. Foi muito bom e o resultado está aí.”

Outra colaboração especial e emocionante é a de Djavan com sua prole em “Iluminado”. O cantor já esteve acompanhado dos filhos Max Viana, João Viana e Flávia Virgínia por muitas ocasiões, em seus trabalhos, mas desta vez até mesmo a caçula Sofia Viana e o neto, Lui Viana, aparecem nos créditos.

“Esse encontro se deu porque a gente sempre canta em casa, quando se reúne, nos encontros. Mas persegui essa ideia mesmo porque achei que todos fossem ficar felizes com isso. Fiz a música, mostrei pra eles. Trouxe todos pra o estúdio e a gravação foi espetacular. A gente se divertiu muito. Eles são musicais, né? Achei que ia fluir bem e fluiu! Foi um registro imenso.”

Sobre a probabilidade de mais trabalhos em família, como o show da Família Gil, de Gilberto Gil, e o “Ofertório”, projeto de Caetano Veloso com seus filhos, Djavan disse:

“Não sei o que vai ser o futuro, porque embora eles sejam bem musicais, nem todos trabalham com música e querem exatamente abraçar a música definitivamente. O futuro a Deus pertence! A gente tinha, há 20 anos, por aí, a ideia de fazer um trabalho juntos. Eu até tinha colocado um nome para esse trabalho, ‘Laia’. Mas o tempo foi passando e cada um seguindo seu caminho e a gente não se empenhou em tirar esse projeto do papel. Quem sabe um dia?”

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Festivais, Rock In Rio e renovação de público

Há muitos anos Djavan vem se apresentando em festivais de todo o mundo e, neste ano, essa máxima se repetiu aqui no Brasil. O cantor passou por eventos como o Rock The Mountain e ainda tem na agenda datas confirmadas no Coala, em São Paulo, e no Palco Mundo do Rock In Rio. Em festivais, a maior parte do público tem entre 20 e 30 anos, o que para Djavan é ponto positivo, já que ele pode enxergar sua música atravessar gerações:

“Festival tem uma característica muito marcante: o público é sempre heterogêneo. É tudo muito misturado e você sempre tem ali um público muito jovem, porque  é preciso ter disposição pra encarar aquilo ali, aquela revolução de sentidos. Como tenho uma música diversa, a minha plateia sempre foi diversificada também. O número de jovens que acorrem à minha música vem se acentuando cada vez mais. Na internet, eu vejo pessoas cantando minha música com 14 anos, 12 anos, 10 anos e até crianças menores. Existe, cada vez mais, uma identificação com essa música que eu faço. O que, a princípio, é inexplicável, uma vez que minha música é também considerada complexa, mas você tá vendo que não exatamente só isso.”

Foto: Gabriela Schmidt

Djavan se apresenta no Rock In Rio no dia 10/9, mesmo dia de Bastille, Camila Cabello e Coldplay. Já no Festival Coala, em São Paulo, ele se apresenta em 16/9, mesmo dia em que se apresentam Gilberto Gil, Liniker e a dupla Tasha & Tracie.

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