Embora as primeiras doses da vacina contra a Covid-19 tenham dado à indústria da música um respiro a partir do segundo semestre do ano passado, foi em 2022 que o mercado e a classe artística retornaram com força a sua efervescência comum. Munidos de um período sombrio e a esperança por dias melhores como plano de fundo, os músicos brasileiros entregaram discos interessantes e bem produzidos, mas que – talvez – tenham passado despercebido por alguns amantes de música.
Confira, abaixo, uma lista com álbuns e EPs lançados em 2022 que merecem ainda mais atenção:
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Tim Bernardes – “Mil Coisas Invisíveis”
O segundo disco solo de Tim Bernardes, “Mil Coisas Invisíveis“, é de um esplendor transbordante. Refletindo sobre o que há de místico, o artista paulistano constrói ambientes e imagens cinematográficas através de arranjos emocionantes. Em um ano ainda confuso, esse disco reforça o papel da arte em algumas situações: o de nos lembrar que a vida é mais do que o que podemos ver e tocar – e que ela sempre continua.
Fim das Tentativas – Rico Dalasam
O sucessor do álbum “Dolores Dala Guardião do Alívio“ (2020) era muito aguardado e não decepcionou – pelo contrário, surpreendeu. Rico continua brilhante em “Fim das Tentativas“, mas parece ainda mais honesto e profundo. Com cinco faixas, o EP é liricamente brilhante e transforma reflexões sobre afeto em um pujante alívio musical.
N.I.N.A – “Pele“
Um dos maiores nomes do rap nacional e referência em grime e drill, N.I.N.A entregou um dos trabalhos mais importantes do ano para o gênero. A rapper soube produzir uma obra rica em nuances sentimentais e retratos psicológicos de forma madura, sem perder a consistência e coerência que esse tipo de trabalho exige.
Terno Rei – “Gêmeos”
Terno Rei está mais maduro, inclusive, em relação às experiências do passado em “Gêmeos”. Novos cenários, acontecimentos e angústias são cantados com a típica vulnerabilidade do grupo indie paulistano em seu terceiro disco.
ICARUS – BK
Em seu quarto álbum, chamado “ICARUS”, BK costura robustas narrativas recentes – e contextos sócio-políticos bem colocados – com o mito de Ícaro. Ou seja: reflexões sobre desejos e ambições humanas são relacionados com questões sociais (racismo, pobreza, fome e a fama) de forma magistral.
Deizi Tigrona – Foi Eu Que Fiz
A veterana do funk não encontra aconchego e parece ainda mais inquieta em seu trabalho “Foi Eu Que Fiz”, lançado 14 anos depois de “Garota Chapa Quente“. Transitando entre parcerias com Teto Preto e BADSISTA, este projeto vulnerável parece movimentar as bases do funk ao reafirmá-lo como parte essencial da música eletrônica brasileira.
Djonga – “O Dono do Lugar”
O mais importante sobre os trabalhos do rapper mineiro Djonga é que, gostando ou não deles, eles provocam grandes debates. Com sua acidez sempre latente, o artista não deixa seus ouvintes em uma zona de conforto do ponto de vista narrativo. Aqui, ele entendeu a indústria da música e não gostou dela. Novas perspectivas sobre machismo, racismo e reposicionamentos são apresentadas.
Gloria Groove- “Lady Leste”
Dispensando grandes apresentações, “Lady Leste“ é Gloria Groove provando o seu talento ao caminhar pelas ruas da Zona Leste de São Paulo, onde é possível escutar rap, funk, pagode, trap, R&B e, é claro, pop.
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Number Teddie – “Poderia Ser Pior”
O que chama a atenção de qualquer ouvinte do disco de estreia do Number Teddie é, sem dúvidas, a autenticidades de suas composições. A singularidade do jovem amazonense é permeada por uma produção indie/rock capaz de difundir suas angústias existenciais a ponto de transformá-las em um fator de identificação com a GenZ. Reflexões sobre depressão, ansiedade, sexo e relações amorosas são encontradas ao longo da tracklist.
MC Tha – “Meu Santo É Forte”
A talentosa MC Tha revisita o repertório de Alcione a partir dos anos 1970 e o relaciona com a musicalidade das religiões afro-brasileiras em produções que mesclam elementos de axé, samba, batuques, pontos cantados e, é claro, funk.
WIU – Manual de Como Amar Errado
O disco de estreia de WIU, uma das estrelas em ascensão do trap, mostra como uma nova geração criativa constrói suas narrativas de forma minuciosa. Neste álbum, o jovem artista cearense traz perspectivas sobre a realidade dos relacionamentos amorosos sem perder de vista tópicos sociais.
MC Cabelinho – “Little Love“
O trap a lá Cabelinho conquistou um lugar de afeto nas playlists. O novíssimo projeto do rapper carioca fala de amores fugazes com a ajuda de Gloria Groove, Ludmilla e Baco Exu do Blues.
Xenia França – “Em Nome da Estrela“
Xênia França amplia os seus limites narrativos e transcendentais no seu novo projeto, “Em Nome Da Estrela”. Poucos trabalhos recentes conseguiram apresentar visões tão sensíveis, honestas e musicalmente criativas sobre a ancestralidade.