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Urias expande territórios em “Her Mind – Blossom Edition” e aponta para o futuro com confiança

Em entrevista exclusiva ao POPline, a cantora detalhou o projeto, falou sobre relação com o público e sobre a importância de ser compreendida

Foto: Gabriel Renné

 

Um dos nomes mais falados no pop nacional neste ano foi o de Urias. O lançamento de seu segundo álbum de estúdio, “Her Mind”, muitas vezes o mais temido pelos artistas, foi um divisor de águas na carreira da mineira, que conquistou ainda mais espaço e hackeou o mainstream com seu talento e ‘je ne sais quoi’. Agora, com 2023 quase chegando ao fim, Urias relança o disco com 3 faixas inéditas e um remix e o batiza como “Her Mind – Blossom Edition”

Como diz o novo título, o relançamento chega como um “florescer” da cantora para um novo momento de sua carreira e, em uma entrevista exclusiva, ela conversou com o POPline sobre esse projeto, a relação com seu público cada vez mais cativo e fiel e as possibilidades de explorar novas sonoridades no futuro.

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Foto: Cover art por @mtheusdrawings

“Her Mind”, o disco regular, chegou às plataformas de streaming em 8 de junho deste ano. O projeto trilíngue serviu como sucessor para “Fúria”, álbum de estreia de Urias lançado no ano passado. Produzido pelo time da Brabo Music, “Her Mind” caiu nas graças do público e, através de canções que se destacaram, como “Ultimate One”, “Neo Thang” e “Cuntelectual”, alçou a cantora para vôos ainda mais altos, com direito agenda cheia ao longo de 2023 e shows em festivais disputados, como a primeira edição do The Town, em São Paulo.

Sobre o desempenho do disco, Urias disse:

“Eu acho que o segundo álbum é o que deixa o artista mais nervoso. Porque com o primeiro, a galera entendeu, abraçou, mas aí você chega no segundo e dá a sensação de ‘e agora’? Como que eu vou ultrapassar essa linha? Como que eu vou me surpreender primeiramente? Então, eu não esperava todo esse desempenho, não achei que a galera ia entender e abraçar, como todo mundo entendeu e abraçou. Fiz um álbum em outras línguas e eu já tava pensando ‘a galera do Brasil vai me odiar’, vai pensar ‘quem é essa doida achando que sabe falar inglês’, entendeu? Risos! Mas ele me abriu outras portas que o ‘Fúria’ não pôde abrir. Foram grandes surpresas nesse segundo álbum.”

O entendimento realmente aconteceu. Algo ‘clicou’ entre Urias e seus fãs de uma forma diferente e basta assistir a um show da cantora para tirar a prova. O furor é grande e a setlist é cantada em uníssono pela plateia, que não se intimida com idiomas estrangeiros ou produções mais ousadas. “Acho que todo artista quer isso, né? Ver o seu público abraçando seu trabalho e ver que seu trabalho faz parte da vida das pessoas. É outro nível, assim. As músicas vão sendo ressignificadas, a pessoa dá o seu jeito de se encaixar naquela música. Eu sempre fiz isso minha vida inteira, né, então sei como é,” celebrou.

Foto: Gabriel Renné

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Her Mind – Blossom Edition

Um sucesso como tal, obviamente, merece ser estendido e é aí que chega “Her Mind – Blossom Edition”, a versão deluxe do álbum. O disco conta com três inéditas, “Rolling”, “Suave” e “Trip”, além de um remix de “Ultimate One” com a colaboração do rapper americano Cakes da Killa, conhecido como a “explosão queer” dentro do hip-hop americano e que tem parcerias com grandes nomes da cena LGBTQIAP+ dos Estados Unidos, como Honey Dijon e Mykki Blanco.

Sobre a ideia de lançar a versão deluxe, Urias conta que a possibilidade foi deixada em aberto na faixa “Her Mind”, que encerra a tracklist de seu segundo álbum:

“A última faixa do meu álbum é uma faixa que abre uma possibilidade para um outro diálogo. Ela conclui o álbum abrindo possibilidade de pertencimento em outro lugar. Em ‘Fúria’, eu sou muito levada a falar do corpo, e aí, fugindo de ‘Fúria’, fui atrás de falar da minha mente. Com a música ‘Her Mind’ fechando o álbum, eu abro espaço pra falar do divino, do religioso, do celestial, me colocando como a imagem principal. ‘I’m her image and her likeness’, ‘eu sou a imagem e semelhança dela’. Então, me coloco nesse lugar de reprodução dessa figura que eu tenho de Deus, entendeu? Me incluo na crença. Com o deluxe, já não seria mais sobre corpo, nem sobre mente; agora eu vou pro espiritual, sabe? Deixei isso aberto.”

 

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Apesar de ter dado a deixa de uma continuação do projeto ao fim de “Her Mind”, a cantora também confirmou que o desenvolvimento do “Blossom Edition”, que ganhou lançamento físico em vinil e merch especial, só foi possível por conta do apoio que recebeu do público e do sucesso da edição regular:

“Pra ser sincera, a gente deixou isso aberto no quesito assunto, no quesito letra, no quesito total, no geral. Mas eu sou artista independente e não sabia se ia dar pra fazer mais músicas. Então, depois de ter lançado o álbum, a gente foi começando a perceber o retorno, que o público abraçou, e foi aí que a gente começou a pensar em desenvolver a ideia. Até o lançamento do álbum não era uma ideia fixa que iria ter um deluxe, porque não sabia se eu ia conseguir, como a gente ia construir isso. Dependia do resultado, né? Mas ainda bem que deu.”

O “Her Mind – Blossom Edition” tem a assinatura do produtor musical Maffalda, que confirmou que a nova versão é um universo expandido em relação à primeira. Aqui, Urias ganha mais território:

“Foi uma oportunidade de expandir o universo sonoro do álbum original e trabalhar de outras formas as nuances e ideias que apresentamos na versão regular do disco. Por mais que o álbum tenha elementos de hyperpop, dancehall, EDM e hip hop, considero a paisagem sonora do HER MIND muito mais concisa do que o álbum anterior e, talvez por isso, ele também é mais penetrante e potente, um som que atravessa as pessoas.” 

Além de Maffalda, outro nome presente nos créditos do disco é o de Number Teddie, cantor e compositor manauara que assina todas as faixas do disco junto com Urias. Sobre a criação do single “Rolling”, ela disse:

“Fiz tudo com o Number Teddie, que tem me acompanhado desde o ‘Fúria’. A letra e a melodia vieram juntas. A gente queria fazer uma coisa mais sensual, uma vibe mais Tinashe, e queria jogar pra cima a letra, o flow, mas também não queria que explodisse. Sobre a letra, quis falar que me sinto em movimento e entendo por onde passei. Então, pra mim, é meio que me dá esse crédito, esse mérito, que às vezes a gente se sente num espaço da indústria que não nos dá, sabe? Não que eu me importasse também… Em ‘I’ve been rolling all my life, I’m doing all my way’, falo que tou fazendo do meu jeito… Uma caminhada onde comecei a me desenvolver melhor enquanto tudo, enquanto artista, pessoa, me conhecendo enquanto mulher. Eu quero entender todas as minhas questões, todos os meus recortes no meio disso tudo.”

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“Je Ne Sais Quoi” decodificado

Je Ne Sais Quoi é uma expressão francesa que sintetiza algo de bom, interessante, mas que não é facilmente compreendido. Urias cantou o seu je ne sais quoi na faixa 12 da versão regular do álbum “Her Mind” e esse diferencial parece ter sido captado. Para além do sucesso das faixas do disco, em 2023, a personalidade da artista floresceu em meio aos que ainda não lhe conheciam, seja através dos shows ou de suas participações icônicas em podcasts famosos ou talk shows, como o De Frente Com Blogueirinha, que rendeu um dos melhores – ou o melhor – episódio da temporada do programa.

Sobre esse novo momento, ela diz:

“Aprendi na vida que a gente tem que se fazer ser entendida, não interessa, porque senão você vai ser mal interpretada. Então, acho que durante esse tempo em que o meu público inicial começou a me conhecer, eu sempre me fiz ser entendida sobre meus gostos, como eu me porto na internet, fora da internet e isso meio que reflete em muita coisa, né? Então, acho que a galera passou a me entender melhor, sim. Eu passei a me mostrar mais também, mostrar outras partes de mim que eu às vezes nem tinha coragem ou nem tinha vontade de mostrar, entendeu?”

A compreensão mais ampla faz com que Urias também se sinta mais à vontade e confiante para explorar novos territórios. Se o “Blossom Edition” já traz uma paisagem expandida de sonoridades que ela quer e pode explorar, o que resta para o futuro? A cantora responde:

Essas últimas três [inéditas] foram todas nesse lugar de explorar. Tipo assim, ‘será que eu consigo fazer isso? Será que eu consigo contar uma história?’ Tudo pra mim foi muito novo, sabe? Eu não queria fazer a mesma coisa. Eu não sei se isso é um bom sinal ou um mau sinal, porque às vezes eu penso assim, ‘ai, talvez não achei meu rolê ainda’. Então, já me passam muitas coisas na minha cabeça quanto a isso, mas também talvez eu esteja criando meu rolê, sabe?”

Certamente é um “rolê” original e surpreendente. Para o futuro de Urias, as apostas estão abertas, mas se você for esperto, vai apostar alto.