Quem assiste à série “Sutura” no Prime Video não imagina os desafios enfrentados nos bastidores. O roteirista Fábio Montanari criou o projeto para este programa há mais de dez anos, e só agora ele chegou ao público. “Sutura”, inclusive, quase virou uma série internacional no meio do caminho. “No geral, as coisas no audiovisual têm seu próprio ritmo. Quem trabalha nessa área precisa de uma mistura de otimismo, perseverança e paciência”, Fábio diz ao POPline.
“É curioso que a série poderia ter acontecido em outro país. Eu ganhei um concurso de roteiro, fui para Los Angeles apresentar a série para estúdios, mas a série foi achar seu lugar mesmo no Brasil – e pensando bem, o DNA da série é brasileiro”, conta o roteirista, “é interessante lembrar que a primeira versão de Sutura foi escrita em inglês. Isso aconteceu durante o período em que eu estava fazendo um MFA (Master of Fine Arts) na Columbia University, nos Estados Unidos”.
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Com elenco encabeçado por Claudia Abreu, “Sutura” conta a história de um jovem da periferia recém-formado em Medicina e uma cirurgiã de elite atormentada por tremores nas mãos. Os dois precisam atuar como médicos do crime para resolver seus problemas. A ideia surgiu do desejo do roteirista de criar uma história médica e de thriller.
“Minha vontade de criar uma série que… eu mesmo gostaria de ver. Com tensão, reviravoltas, surpresas. Essa ideia de mistura de gêneros foi muito estimulante para mim. eu morava perto do Hospital São Paulo, um hospital público, e sempre passava por uma portinha à noite, escura, que dava acesso ao necrotério. Era um lugar muito curioso para mim, porque as pessoas agiam de maneira suspeita — claro, é um necrotério, ninguém está ali feliz. Desde pequeno, eu senti essa curiosidade, misturada com medo e uma relação complexa. A vida nos bombardeia com estímulos e inúmeros pedaços de ideia, parte do trabalho do roteirista é juntá-los e dar sentido a eles”.
Por que “Sutura” levou tanto tempo para ficar pronta?
Do projeto originário até a venda para uma produtora e depois a parceria com o Prime Video, foi uma longa caminhada. Segundo Fábio, o projeto começou a ser escrito em 2013, tomou forma em 2015, e só depois encontrou sua produtora, a Boutique Filmes. “Não basta a série estar pronta. É preciso uma conjuntura em que algum canal esteja interessado em realizar uma série naquele gênero”, explica.
“Importante dizer que, durante esse tempo todo, fui trabalhando em outras séries, fui amadurecendo como roteirista em outros projetos. Ao mesmo tempo, fui realizando uma pesquisa extensa para o Sutura, entrevistando mais de 60 médicos, criminalistas, jornalistas especializados em crimes e sociólogos. Todo esse trabalho foi essencial para solidificar a base de ‘Sutura’ antes mesmo de começarmos a sala de roteiro”, conta.
O projeto passou por transformações ao longo dos anos. De 2013 para 2024, claro, o mundo mudou um bocado. Isso se refletiu em detalhes da história. “Apesar disso, o coração de ‘Sutura’ é o mesmo: a história de duas pessoas deslocadas, que querem pertencer”, pontua Fábio Montanari. “O audiovisual é uma área onde os processos levam tempo, e muitos fatores fogem do nosso controle. Talvez o segredo seja continuar escrevendo, evoluindo e acreditando no seu projeto, mesmo que ele leve anos para encontrar seu momento ideal”, conclui.