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Silva conta detalhes do novo álbum “Ao Vivo em Lisboa”

Em meio quarentena, Silva encontrou em seu computador os arquivos de gravação de um show quem fez em Lisboa no ano passado e resolveu que esse material deveria ir para o mundo. Sorte a nossa! O “Ao Vivo em Lisboa” chegará às plataformas digitais nesta sexta-feira, 22 de maio, com um repertório que mescla músicas autorais com covers de grandes nomes da MPB, tudo isso em formato voz e violão. Pouco antes do lançamento do primeiro single deste projeto, “Júpiter”, o POPline conversou com Silva sobre o álbum e ele nos adiantou detalhes do que vem por aí e explicou a escolha da música carro-chefe do disco em relação ao que estamos vivendo em quarentena. Além disso, Silva ainda relembrou e falou da importância do “Bloco do Silva” em sua carreira e comentou as parcerias que gravou com Anitta, Ludmilla e Ivete Sangalo! Confira!

Foto: Reprodução Instagram.
Silva, tudo bem? Temos nova versão de “Júpiter” gravada em Lisboa, né? Início de um novo projeto ao vivo! Como você está?

Poxa, eu tou muito feliz de ter achado esse arquivo, sabe? Porque tem muita gente que me acompanha e que tá curioso com minha vida nesse momento. Sempre perguntam “cadê você?” e eu tou mais caladinho. Na verdade, assim como muita gente, eu fiquei meio assustado com as coisas e quis respeitar esse tempo e não quis me obrigar a falar sobre isso, ter essa obrigação de que preciso falar algo. Estava realmente esperando a hora, pensando bastante sobre tudo para ter alguma coisa relevante pra falar pras pessoas. Eu tou muito feliz de poder disponibilizar esse material agora nesse momento. Ali tem muitas que regravei, mas esse formato é inédito. Raramente eu faço voz e violão e esse disco é assim com um baterista. Eu acho que vai ser uma coisa que quem me acompanha e gosta do meu trabalho vai ficar feliz e sentir presenteado. Ficou um registro lindo do show! É ao vivo, então tem um errinho ou outro, mas não quis consertar nada em estúdio, deixei assim mesmo.

Então, como você postou nas redes sociais, você realmente reencontrou esse material no seu computador? Não era algo que pretendia lançar?

Não! Exatamente, não pretendia. De uns tempos para cá, junto com meu irmão e minha equipe, a gente tem pensado muito sobre isso… Sobre como a gente tem que cuidar da nossa história e guardar, sabe? Porque senão fica tudo parecendo trabalho planejado e com interesse comercial tipo “vou lançar alguma coisa”. A gente investiu uma grana na época com equipamento para gravar ao vivo, então fiquei muito feliz de ter isso, do material estar bom e ter sido bem gravado. Essa é uma coisa que quero adotar daqui pra frente, essa prática de gravar show, porque primeiro você se ouve! Às vezes você faz um show em que você acha que foi incrível e quando vai ouvir a gravação foi zero incrível! Risos! Então é uma coisa até mesmo de autocrítica, pra você aprender a se ouvir, pra crescer e perceber “preciso cantar melhor isso aqui, preciso tocar melhor isso aqui”. Então foi nesse intuito que o registro veio!

Você falou em “cantar melhor” e quando eu ouvi a versão nova de “Júpiter” e fiquei bastante surpresa o quão diferente ela está. Até o seu canto, a entonação das palavras está diferente. Diria até que vejo uma influência enorme da MPB nos novos arranjos – a original tinha uma produção mais gringa, estou certa?

Era beeeeem gringo, né? Risos! Eu dou risada porque era a minha referência mesmo. Nem vou falar que era coisa de gente nova, porque eu ainda sou novo, mas era outro momento, era o que eu estava mirando, o que estava ouvindo. Nessa época eu ouvia muito R&B gringo, Frank Ocean, Childish Gambino, sabe? Esse tipo de coisa… Depois eu entrei em uma onda mais brasileira, de pesquisar música brasileira e me encontrar dentro da música brasileira. Eu acho que o jeito que eu canto hoje é o jeito mais parecido com a forma que eu falo, o mais natural possível, sabe? Na época do “Júpiter”, a voz era meio impostadinha e depois eu pensei “pra que fazer isso assim?”. Então, eu tou em busca dessa naturalidade, sabe? Eu sei que não vai ser uma coisa para agora, amanhã ou ano que vem, mas é uma coisa que eu quero, que eu botei no meu radar.

A minha reação a esta segunda versão de “Júpiter” foi pensar “Silva Caetaneou”, Risos! Particularmente, eu gosto mais desta nova versão!

Total! Pois é… Quando eu comecei a cantar assim, essa comparação aconteceu bastante e eu adoro essa comparação porque ele é um dos meus cantores prediletos! Se eu botasse um ranking, um top 10 de cantores, João Gilberto seria lugar, Caetano e depois eu não sei, risos!

Você escolheu retomar esta música de 2015 como carro chefe do álbum “Ao vivo em Lisboa” por ela trazer na letra um conforto a nós que estamos isolados, porém quando o disco foi gravado a gente estava em uma realidade bem diferente! Como você percebe essa coincidência?

Essa música quando a gente fez em 2015, naquele contexto, ela tinha essa coisa do escape, de Júpiter ser uma coisa até utópica, mas ao mesmo tempo para dar esperança a gente de um mundo com menos preconceito, essa coisa toda… Só que a gente naquela época, eu mesmo que fiz “Júpiter” com meu irmão, não imaginava que isso ia rolar real, como tá rolando hoje. Então, hoje ela continua tendo significado, só que agora ela tem fatos, sabe? Ela foi ressignificada com essas notícias horríveis e acho que de alguma forma ela é uma música que fala disso, mas imaginar esse Júpiter é bom também para a gente não surtar. A esperança é uma coisa que não pode morrer, senão a gente tá ferrado!

O repertório do “Ao Vivo em Lisboa” tem músicas suas e alguns covers também, sei quem tem Pixinguinha, Martinho da Vila… Como foi a escolha desses covers?

Então, eu tava no meio da turnê de “Brasileiro” e tinha acabado de fazer O Bloco do Silva, isso foi ano passado, e logo depois surgiu esse convite de um contratante lá de Portugal, que é um amigo nosso, um cara muito bom. Ele queria muito fazer um show voz e violão e isso é uma coisa que eu não faço com muita frequência, nunca tinha preparado um show assim, de uma hora, uma hora e quinze, porque eu achava que isso seria chatérrimo! Risos! Eu sempre achei a banda uma coisa muito mais legal,mas aí eu topei fazer o voz e violão porque a proposta era muito boa e meu irmão reforçou que seria bom eu exercitar isso. Eu ensaiei alguns dias com o Hugo, que é meu baterista, e eu queria que a bateria fosse algo bem João Gilberto de 1973, só um chocalhinho. Daí procurei saber como seria o show, se só para brasileiros que moram em Lisboa ou não e o contratante me disse “cara, os ingressos estão todos esgotados” e terminou que era um público de maioria português mesmo, o que me deixou sem saber como ia ser, se seria bom ou não porque voz e violão depende muito do calor do público. Só que foi demais! A gente fez seis sessões, foi super puxado, mas o público tava super caloroso, sabe? Começo o show com “Carinhoso”, que é uma música muito de saudade do Brasil, mas não queria que o repertório fosse saudosista do tipo “ai, como era bom antigamente”, era mais uma coisa de ser “saudade do Brasil em tempos melhores”. Então foi isso, escolhi um repertório afetivo para mim, desde Pixinguinha que abre o show, coloquei músicas minhas que combinam com essa pegada do voz e violão, tem “Aquele Frevo Axé” do Caetano e do César Mendes que eu sou apaixonado por essa música… Então tem várias coisas que são afetivas para mim e o disco acaba com “Canta Canta, Minha Gente” que eu acho que é o jeito que a gente tem que encarar as coisas; não com negacionismo, mas sim encarar a alegria como uma força.

Esse é o seu segundo álbum ao vivo, porque você fez o Bloco do Silva ao vivo também e são experiências completamente diferentes, né?

Completamente! No Bloco eu tinha que cantar em um volume que nunca fiz! Eu nunca tinha passado por isso, porque minha voz tem um alcance pequeno, eu não sou um cara que tem volume de voz, então no Bloco eu tive que fazer um estudo de botar a voz pra fora mesmo, eu tive que resgatar algumas coisas de técnica de canto pra voz vir com mais força e mais volume. Então foi um aprendizado muito legal e ao mesmo tempo de presença de palco, independente da dança, até porque tem cantor que só mexe o braço e já preenche tudo! Mas o Bloco foi bem desafiador pra mim, porque não tem jeito, você tem que dançar, você tem que tá naquela onda ali que é mais acelerada do que eu sou normalmente, mas eu amei porque foi meu carnaval.

Saindo um pouco do Bloco, você viu que o Drake postou que estava ouvindo a sua música com a Anitta “Fica Tudo Bem”?

Então, eu vi um dia antes, na hora de dormir, e pensei ‘que? Será que ele postou errado?’ Risos! Eu fiquei muito feliz porque sou muito fã. Na época de “Júpiter” eu devorava Drake, tudo que ele lançava! Sabia e ainda sei os nomes de todos os produtores, quem fez backing vocal, quem tocou piano… Então para mim foi uma surpresa gigante. Na verdade, é tão distante do meu mundo! Eu estou aqui em Vitória, na minha cabeça, e isso é tão doido e tão distante… Não é muito real, mas fico muito feliz. Fiquei muito lisonjeado

E o que você achou da versão pagode total de “Um Pôr do Sol Na Praia”, que a Ludmilla fez no novo EP dela? A original de vocês já tinha um cavaquinho e uma cuíca, mas na nova ela pagodeou total!

Eu ouvi e adorei! Ela tinha mandado a música, na verdade ela já tinha me falado que queria gravar um disco e tinha pedido para gravar a música, porque eu e meu irmão somos os compositores, então é preciso pedir autorização pra gravar. Na hora a gente respondeu “é lógico, vai ser lindo” e quando ela mandou a versão eu fiquei impressionado, porque rolou um pagodão real, ficou lindo, né? Ela canta demais, na verdade ela pode cantar o que ela quiser! Eu achei que ela combinou muito com pagode e eu fiquei pensando se não vai ter aí uma nova geração de pagodeiras, seria interessante.

E pra gente acabar, vamos falar de “Pra Vida Inteira”, sua parceria com a Ivete Sangalo! Depois de tantos covers de axé do Bloco do Silva, achei demais você ter a sua própria música com essa pegada percussiva tão característica da música baiana! E ainda com a chancela da Ivete!

Ah sim, que lindo! Que bom que você achou isso! Isso para mim foi uma honra gigante, porque quando comecei a fazer o Bloco, tinha um grande risco de desagradar a galera principal, que era a galera da Bahia! São músicos que eu amo demais, a Bahia é muito meu xodó artisticamente. Adoro Caymmi, João Gilberto, Caetano, Gil e tudo que veio depois também, sabe? A história do Olodum, do Ilê, Carlinhos Brown, Ivete… Então eu fiquei muito feliz com esse aval, foi tipo um carinho, tipo “parabéns, meu filho, você pode fazer isso”, risos! Fiquei feliz por isso, porque poderia ter soado de várias formas, porque eu não sou baiano, então poderia ter algo do tipo “o que esse capixaba aí tá querendo fazer”, poderia rolar uma reação assim também, mas rolou com muito respeito de todas as partes. Fiquei bem satisfeito!

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