Quem já viu o filme “O Talentoso Ripley” (1995), indicado a cinco Oscars, se lembra imediatamente dele ao assistir ao polêmico “Saltburn” do Prime Video. Muitos críticos de cinema, inclusive, apontaram as semelhanças entre as duas histórias, mas Emerald Fennell, roteirista e diretora de “Saltburn”, nega a inspiração.
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Emerald garante que “O Talentoso Ripley”, adaptação do livro homônimo de Patricia Highsmith dirigida por Anthony Minghella, nem passou por sua cabeça enquanto desenvolvia “Saltburn”. “Eu realmente não estava pensando nele. Quero dizer, obviamente Highsmith é uma das minhas favoritas absolutas, mas acho que eu estava mais voltada para a tradição de casa de campo britânica de ‘O Mensageiro’ e coisas inglesas muito específicas”, afirmou em entrevista ao Radio Times.
“[Estava mais voltada para] uma espécie de mundo de Joseph Losey, onde classe, poder e sexo colidem em um lugar específico”, explica a cineasta, “esse é um filme sobre voyeurismo, eu suponho, e desejo e observação”.
A fala de Emerald Fennell, que ganhou o Oscar de melhor roteiro original por “Bela Vingança” (2020), não é convincente. As semelhanças entre “O Talentoso Ripley” e “Saltburn” são muitas para serem meras coincidências – com quase três décadas separando os dois filmes.
As tramas de “Saltburn” e “O Talentoso Ripley”
A partir daqui, a matéria contém spoilers sobre ambos os filmes.
Os dois longas têm tramas parecidas. Em “Saltburn”, o pobre Oliver (Barry Keoghan) se infiltra na família do colega de universidade ricaço Felix Catton (Jacob Elordi), a partir de um convite para passar as férias na casa de campo dele, e parece obcecado por Felix.
Já em “O Talentoso Ripley”, Tom (Matt Damon) viaja até a Itália a pedido do pai do playboy milionário Dickie (Jude Law) com intuito de convencê-lo a voltar para Nova York. Em vez disso, Tom fica com Dickie na Itália e também demonstra sinais de obsessão pelo colega, vestindo suas roupas e dando sinais de ciúmes.
São dois protagonistas sem dinheiro, obcecados pela vida de jovens ricaços e pouco interessantes, a princípio. Em ambos os filmes, os personagens tomam atitudes drásticas para usurpar aquelas vidas. Vão de mentiras a assassinatos.
Em “Saltburn”, Oliver mata Felix e um a um de seus familiares até herdar a casa de campo para si. Em “O Talentoso Ripley”, Tom mata Dickie, assume sua identidade na Europa, e mata também quem atrapalhar seus planos. Oliver e Tom revelam-se não obcecados pelos colegas e sim pela vida deles. Inescrupulosos e assassinos.
O amigo que é um obstáculo
Tanto em “O Talentoso Ripley” quanto em “Saltburn”, os protagonistas precisam lidar com amigos de seus alvos, que se tornam obstáculos. No primeiro filme, Freddie (Philip Seymour Hoffman) vê Tom como um intruso e aproveitador. Ele chega a debochar que Tom tem o emprego dos sonhos – usar as roupas, comer a comida e fazer as viagens de Dickie. Ele desconfia de Tom.
No caso de “Salbturn”, o amigo-obstáculo é Farleigh (Archie Madekwe), que também está hospedado na casa de campo da família embora não seja um membro dos Catton. Desde o início, ele demonstra incômodo com a presença de Oliver ali e chega a humilhá-lo de algumas maneiras, sempre expondo-o como um pobretão que não pertence àquele lugar.
Cenas parecidas
Em “O Talentoso Ripley”, Tom bisbilhota uma transa de Dickie com a namorada Marge (Gwyneth Paltrow) num barco. Em “Saltburn”, Oliver também se mostra voyeur de transas de Felix.
“O Talentoso Ripley” tem uma cena de tensão sexual homoerótica entre Dickie, que está dentro de uma banheira, e Tom, que se convida para entrar junto. Em “Saltburn”, a banheira é centro de uma das cenas mais comentadas antes mesmo da estreia: depois de assistir o amigo Felix se masturbar na água, Oliver lambe o resto de sêmen que ficou no ralo.
Detalhes assim tornam difícil acreditar que “O Talentoso Ripley”, seja o livro ou o filme, não foi uma inspiração para “Saltburn”. O que você acha?