A indústria da música atualmente é pautada por músicas cada vez menores, singles em vez de álbuns, e tendências de TikTok. Que artista conseguiria reunir, em uma sala, oito jornalistas dos maiores veículos do país para ouvir um álbum completo (de sofrência!) com quase uma hora de duração? Adele. One and only.
Evento luxuoso
A Sony Music promoveu uma audição exclusiva do álbum inédito “30” em seu escritório no Rio de Janeiro, na terça (16/11). O POPline marcou presença e te conta tudo. O evento – sem registros, porque celulares eram confiscados na entrada – foi luxuoso como merece o “maior lançamento de 2021” (palavras da gravadora, mas de fato é disso que se trata).
Em clima solene, garçons serviam champanhe e petiscos doces e salgados para os oito convidados. O salão da gravadora foi decorado especialmente para a ocasião, com coberturas de pelúcia branca nas cadeiras, tapetes e cortinas na mesma cor, e almofadas escuras com o número “30” em dourado. Jarros de plantas nas extremidades e uma mesa de centro com velas e flores brancas faziam pensar se tudo aquilo era mesmo só para ouvir um álbum. E era.
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Adele está escondendo o ouro
“30” é o quarto álbum de estúdio da Adele e reflete o divórcio da cantora. Ela escreveu as músicas para lidar com a frustração de não conseguir manter a estrutura familiar que queria para o filho Angelo. Em uma das faixas, a R&B “My Little Love”, ela expõe o áudio do que parece ser uma conversa com ele. A voz do interlocutor é de criança. Nessa faixa, Adele canta versos como “sei que se sente perdido”, “eu não me reconheço” e “quero que você tenha o que nunca tive”. É uma carta aberta para o filho. No fim, há outro áudio pessoal, que traz a estrela chorando e fungando.
Recentemente, Adele estrelou o especial da CBS “One Night Only”, no qual apresentou as inéditas “I Drink Wine”, “Hold On” e “Love Is a Game”, além do single “Easy On Me”. Todas ótimas, mas não dão pistas de tudo que há no álbum. O “30” traz o que o mundo espera dela (lê-se baladas sofridas com vocais maravilhosos, agora vez ou outra bastante marcados por backing vocals também), porém com surpresas. Vai além disso. A primeira é “Strangers By Nature”, música de abertura do disco. É diferente de tudo que Adele já fez. Com presença forte de cordas, a canção parece criada sob medida para um filme romântico indie.
“Cry Your Heart Out” é dançante e tem uma batida marcante, apesar da letra pesada, na qual Adele jura sentir como se estivesse morta e canta “realmente odeio ser eu”. “Oh My God”, a música seguinte, também tem melodia animada. É bastante pop. Nesta, Adele parece superar o luto da separação e buscar a superação. Canta que não deve explicações e que quer se divertir.
“Can I Get It” é outra que foge da sonoridade característica de Adele. Ela até assovia. Perfeita para ouvir no carro e cantar junto, faz lembrar o folk rock de KT Tunstall. “Can I get it… right now?”.
A boa e amada Adele
Na faixa sete, “I Drink Wine”, Adele volta a ser a Adele que conhecemos: a das baladas sofridas. A letra é dolorida e mesmo quem viu o especial da CBS terá uma surpresa ao ouvir o álbum: a faixa termina com um áudio de voz pessoal. Adele realmente se abriu mais do que nunca com o “30”. Essa faixa tem mais de seis minutos, assim como “My Little Love”, “To Be Loved” e “Love Is a Game”.
“All Night Parking”, que começa com o piano de Erroll Garner, é a única música curta do álbum. É um interlúdio. Dura menos de três minutos e você fica tipo: “ué, já acabou?”. Na sequência, entra a faixa “Woman Like Me”, que destoa um pouco do restante do disco. O “30” é muito sobre como Adele se sente falha pelo fracasso do casamento, mas nesta música ela aponta o dedo para o ex-marido (algo que evita fazer nas outras). Ela pergunta se ele está louco, diz que nunca terá uma mulher como ela, e que ele só reclama. “É tão triste que um homem como você possa ser tão preguiçoso”, canta.
Vocais poderosos estão garantidos em “Hold On”, “To Be Loved” e “Love Is a Game”. “To Be Loved” é uma das músicas mais tocantes do disco inteiro. Você sente como se a garganta dela estivesse arranhando tamanha dor que ela sente. Nesta música, ela diz que amar e ser amada exige o sacrifício de perder coisas sem as quais ela não consegue viver. Ou seja, abrir mão de algo que ela não quer nem pode. Ela diz que não se arrepende de nada e implora para que se lembrem que ela tentou (manter o casamento). “Aguentar” é uma palavra que aparece vez ou outra no álbum também.
O “30” é concluído de uma maneira que fará todos de coração partido cantarem a plenos pulmões (talvez em posição fetal): na música “Love Is a Game”, Adele diz que o amor é um jogo para tolos jogarem. “E eu não estou jogando, que coisa cruel auto infligir essa dor”, diz. Mas ela já está de namorado novo, sim.