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“RENAISSANCE”: a militância dançante de Beyoncé

Foto: divulgação

Okay, garotas, agora vamos entrar em formação. Em fevereiro de 2016, na véspera de sua performance no 50° Super Bowl, a cantora Beyoncé lançou aquela que seria uma das maiores músicas de sua carreira: “Formation“. Na letra, a artista exalta suas raízes, e no clipe, denuncia a brutalidade policial contra a população negra dos Estados Unidos.

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Para muitos, este foi o “despertar” da artista para questões sociais como racismo e discriminação; porém, desde o início de sua jornada musical, a postura militante sempre esteve presente. Sejamos honestos: uma mulher negra construindo um verdadeiro império dentro de uma indústria machista e preconceituosa, ao lado de musicistas e dançarinas negros, é bastante revolucionário. Mas só com o álbum “Lemonade” que o público pareceu perceber isso.

No entanto, a nova sonoridade da Queen B não agradou muito uma parcela de sua audiência. Como resultado, Beyoncé sofreu tentativas de boicote, ataques nas redes sociais e foi até alvo de manifestações. Ainda assim, ela não parou com a militância! Com os lançamentos dos álbuns “Everything is Love” (2018), em parceria com seu marido Jay-Z; “The Lion King: The Gift” (2019), para a trilha sonora do live-action de “O Rei Leão“; e os filmes “Homecoming” (2019) e “Black is King” (2020), a norte-americana reafirmou com orgulho sua identidade e influências.

O renascimento de Beyoncé

O tempo passou e, após dois anos de pandemia, a colmeia estava inquieta, ansiosa por novas músicas da abelha rainha. Muitos pediam por um som mais animado, dançante, e sem tanto teor político. Foi então que, na madrugada de 16 de junho, a cantora surpreendeu a todos com o anúncio de “ACT I | RENAISSANCE“, seu sétimo álbum solo de estúdio. Quatro dias depois, o single “Break My Soul” chegou às plataformas digitais.

A faixa, com sample de Robin S e uma pegada house noventista, caiu como um banho de chuva numa tarde seca de verão. “Finalmente Beyoncé voltou para as farofas“, alguns comemoravam nas redes sociais. Mas quem disse que a cantora deixou de lado os temas abordados com intensidade nos últimos seis anos? Muito pelo contrário! Por baixo do refrão chiclete, há história e resistência negra; que foram ainda mais evidenciadas na divulgação da tracklist e ficha técnica do disco. Chegou a era da militância dançante!

Juntos somos mais fortes – e Beyoncé sabe disso!

Assim como na área científica, a música e as outras artes são resultado de um trabalho coletivo. Um artista influencia o outro, que por sua vez dão origem a trabalhos novos, se tornando referência para novos artistas e completando o ciclo. Enquanto estamos no presente construindo o futuro, é preciso conhecer o passado; e entender os caminhos que nos trouxeram até aqui. No final, vale aquela máxima: juntos somos mais fortes – e Beyoncé sabe disso!

(Foto: Divulgação)

Na última quinta-feira (21), foi revelada a lista de compositores creditados em cada faixa do “RENAISSANCE“; e no dia seguinte, um vídeo mostrando a edição especial de vinil do disco revelou as participações especiais. Em meio a tantos nomes, alguns foram verdadeiras dicas do que esperar da sonoridade do álbum, e quais foram as referências utilizadas pela dona do projeto.

Vamos começar então pelos feats! “Energy“, faixa de número #5, contará com vocais de Beam, um rapper e cantor jamaicano. Filho do cantor de dancehall e gospel reggae Papa San, o trabalho do jovem de apenas 27 anos tem influência do trap, hip hop, hip hop cristão, reggae e dancehall; todos ritmos de origem negra. Se com “Break My Soul Beyoncé trouxe de volta o house dos anos 90, não seria de se espantar que nessa colaboração ela voltasse ainda mais no tempo, para os anos 70, quando surgiu o dancehall. Vale dizer que Beam já trabalhou com Kanye West e Justin Bieber, conquistando inclusive indicações ao Grammy Awards.

Foto: divulgação

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Mais adiante, a faixa de número #10, intitulada “Move“, conta com a participação de Grace Jones e Tems. Também nascida na Jamaica, Grace é um verdadeiro ícone cultural! Além de cantora, ela é modelo e atriz, e iniciou sua carreira artística no começo dos anos 70. Referência no estilo andrógeno, suas músicas abraçam os gêneros disco, dance, new wave, pop, soul e urban. Já Tems é uma cantora e compositora de R&B e afrobeats nigeriana de apenas 27 anos. No currículo, ela traz colaborações com os rappers Drake e Future, e com o cantor Khalid.

Embora o movimento artístico do Renascimento tenha surgido na Itália, ao analisarmos a escolha destes três nomes para colaborar em seu álbum, percebemos que Beyoncé voltou seus ouvidos para o Caribe e, mais uma vez, para a África em busca de novos sons. Deste modo, a artista utiliza seu alcance e impacto global para promover uma mudança de ponto de vista, tirando o holofote tradicionalmente direcionado para o velho continente e iluminando regiões cujo valor e importância não são tão destacados ou referenciados pela indústria musical.

De James Brown a Jay-Z

Escrever e produzir um álbum dá muito trabalho, e na maioria das vezes, envolve o esforço de muitas pessoas. Além dos tradicionais feats, é importante observar com atenção a lista de compositores de cada faixa; uma vez que ela traz não somente os responsáveis pelas letras, mas também revela o uso (ou não) de samples. Como já foi mencionado neste texto, “Break My Soul” conta com elemento de “Show Me Love“, da Robin S, mas ela não é a única que teve seu trabalho revisitado.

Foto: Scott Harrison / Getty Images

Em “Church Girl“, faixa de número #7 do “RENAISSANCE“, o lendário cantor de funk e blues James Brown é creditado. Este gênio da música, que dispensa apresentações, faleceu em dezembro de 2006, tendo deixado inúmeros hits para a eternidade; como por exemplo “I Got You (I Feel Good)“, “It’s A Man’s Man’s Man’s World” e “Living in America“. Seus primeiros trabalhos tiveram influência do gospel, criando uma certa conexão com o título da nova música de Bey!

Já em “Summer Renaissance“, última faixa do álbum, quem surge entre os creditados é outra lenda da música: Donna Summer! A diva da era disco, que recentemente foi tema de um musical apresentado em São Paulo, embalou as noites de milhares de pessoas entre as décadas de 70 e 80, com canções que são ouvidas até hoje; como “Last Dance“, “Hot Stuff” e “I Feel Love“. Assim como a Queen B, ela também enfrentou preconceitos por ser uma mulher negra e empoderada; e como James Brown, ela é fonte de inspiração para milhares de artistas até hoje.

Outro nome lendário da música que aparece na ficha técnica do B7, mas continua em atividade, é o guitarrista Nile Rodgers; cujos acordes são sampleados até hoje! Um dos maiores exemplos de sua influência é o hit “Get Lucky“, do duo Daft Punk em parceria com Pharrel Williams, que apresenta seus riffs. Aliás, Pharrel também aparece na lista de compositores, juntamente com outros grandes nomes da música atual; como o produtor The Dream, o rapper Drake, o também rapper Jay-Z, entre outros.

Foto: Jeff J Mitchell / Getty Images

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Com lançamento nas principais plataformas digitais marcado para o próximo dia 29 de julho, sexta-feira, as expectativas para o lançamento de “RENAISSANCE” são as melhores possíveis! Tudo indica que Beyoncé tem em mãos um dos melhores trabalhos musicais do ano, e olha que este é apenas o primeiro ato de seu retorno. Na contramão do que muitos podem pensar, a cantora não largou o discurso político para voltar aos charts, pelo contrário. Ela continua exaltando suas origens, dando espaço para novos artistas da comunidade negra, ao passo que honra grandes nomes do passado. Como diz na faixa “Be Alive“, da trilha sonora do filme vencedor do OscarKing Richard: Criando Campeãs” (2021), ela não poderia “limpar sua negritude nem se quisesse“. Continue com a militância através de suas músicas, Bey, pois nós estamos ouvindo.

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