Em forma de desabafo, Rashid transforma revolta política e social em rima e versos com lançamento da faixa “Diário de Bordo 6”. Trata-se da retomada da série de sons longos, sem refrão e sem papas na língua iniciada pelo rapper paulistano em 2010 (com o volume 1) e, teoricamente, encerrada em 2015 (com o volume 5).
Assim como os demais “Diário de Bordo”, este novo também teve produção e beats do DJ Caique, mas, pela primeira vez, Rashid contou com uma participação preciosa de Chico César. O artista conta que não gostaria de ter voltado a produzir a série, mas revela que sua caneta estava engasgada, “deixa ela cuspir…”.
“Não me lembro de ter vivido um período tão conturbado no país desde que tenho consciência de mim mesmo e da sociedade. É impossível, eu, artista que se compromete a espelhar a realidade em sua arte, não trazer tudo isso à tona”, afirma Rashid.
A música traz assuntos polêmicos que aconteceram no último ano e transforma em rima a indignação de centenas de brasileiros. Rashid tece reflexões sobre temas que vão desde a vacina do COVID-19 e negacionismo a racismo e política — ao longo dos mais de cinco minutos de música. Inclusive, o rapper é objetivo ao revelar o que motivou o seu processo criativo: “A raiva é o combustível aqui”.
Novo momento da carreira
Se o cenário é revolta nas letras de Rashid, internamente, na sua carreira, a imagem é de amadurecimento e crescimento profissional. Recentemente o artista e sua empresária Dani Rodrigues, anunciaram uma parceria com a Altafonte Publishing, braço forte da agregadora Espanhola no Brasil, gerido por Heloisa Aidar.
A empresa passa a assumir a função de Editora do artista, passando a assumir a gestão do autoral do Rashid e demais autores da Foco na Missão (FNM), como Duda Raupp, Julio Mossil, Flavia K e Devasto Prod, recentes no casting da empresa.
“As obras do Rashid estão editadas pela Foco na Missão desde 2018, no entanto, com a questão dos direitos autorais do digital e para a prospecção para sync (sincronização) e outros trabalhos, achamos importante ter uma empresa com maior poder de alcance administrando a nossa editora”, revela Dani.
“Depois de muita conversa e por confiar muito na Helô Aidar, optamos em passar a administração da Editora pra eles”, completa. Segundo a empresária, agora a FNM está preparada na parte burocrática e jurídica para representar o Rashid ou qualquer outro artista em quase todas as necessidades que um músico pode ter. “Temos ciência que ainda não temos braços e expertise suficientes para os melhores resultados sozinhos”.
E tem mais…
Além da parceria com a Altafonte, Rashid também está cercado de outras grandes empresas como a Sony Music, ONErpm e Laboratório Fantasma.
A ONErpm foi responsável pela distribuição das obras do artista de 2013 até 2018, quando Rashid aceitou o convite da Sony Music para fazer parte do casting deles. “Então licenciamos os novos trabalhos pra eles e tem sido muito legal, eles respeitam muito o trabalho do Rashid, respeitam muito o Rashid, respeitam a mim e ao que construímos”, conta a empresária.
Segundo Dani Rodrigues, eles toparam um contrato que fosse confortável para os dois lados, mantendo a autonomia da FNM para os trabalhos que quiserem fazer em todo o entorno do Rashid e, principalmente, na música dele. Dessa forma, em suma, a ONErpm continua com o catálogo e tudo lançado a partir de 2018 está licenciado para a Sony Music.
“Demoramos muito pra reconhecer que um bom planejamento e um bom trabalho depende de muitas cabeças pensando e muitas mãos realizando. Durante muitos anos, estávamos fazendo tudo sozinhos com a nossa equipe interna. Conseguimos bons resultados porque a música é boa e o trabalho também era bem feito, dentro das nossas possibilidades. Mas, poderia ter sido um pouco mais fácil se tivesse mais pessoas investindo tempo, dedicação e também dinheiro com a gente”, revela Dani.
Já a Lab Fantasma está à frente do comercial do Rashid. Durante o primeiro de pandemia, mesmo com o péssimo cenário para o entretenimento, o artista conseguiu trabalhar e manter sua equipe por causa dos esforços e know how da empresa comandada por Fióti em sociedade com Emicida. “Não sei se eu teria conseguido sozinha, porque nunca tive esse feeling para o comercial”, conta.
“É uma grande parceira desde sempre, começamos juntos lá em 2006 e mantivemos esses reencontros ao longo de todos esses anos. Eles cresceram muito e têm uma expertise ainda rara no mercado. A convite do Fióti, conversamos e eles assumiram a parte comercial do Rashid e tem sido incrível essa troca com eles”, diz.
Ou seja, em suma, hoje: a Altafonte sume como editora; o licenciamento dos fonogramas e a distribuição fica por conta da Sony Music; e o comercial de shows e publicidade com a Lab Fantasma. “Consigo ter mais tempo para pensar, planejar e executar os próximos passos do Rashid, assim como estruturar melhor a empresa para que possamos expandir em um futuro próximo”, comemora Dani.
Para ela, esse formato de hoje a deixa mais livre para trabalhar de forma mais estratégica. “Hoje tenho a impressão que eu ficava dia e noite apagando incêndios. Isso foi uma quebra de paradigma pra mim também, porque acho que nós, do mercado independente, durante muito tempo deixamos de enxergar o valor de parceiros no trabalho”, finaliza.