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Rafael Cortez: “Há quem junte dinheiro para trocar de apartamento, eu juntei para investir nos meus projetos”

O artista bateu um papo super realista, sincerão e cheio de bastidores do seu último disco independente
Foto: Divulgação

Cantor, compositor, violonista, ator e humorista, Rafael Cortez é tudo isso e ainda arranja tempo para ser empresário e gerir sua própria carreira. Sim, t-e-m-p-o, essa é a palavra que resume a maior riqueza para quem atua em várias frentes, de forma multifacetada, como ele, e precisa equilibrar a balança. Foi sobre isso que o POPline.Biz é Mundo da Música bateu um papo super realista, sincerão e cheio de bastidores, com Cortez.

“As coisas acontecem quando você se dedica e, obviamente, abre mão de outras coisas. Esse é o preço de gerir uma carreira multifacetada, empreendedora, na raça mesmo. Eis-me aqui, com 45 anos, sem filhos, não casei, muitas das minhas coisas são sempre uma zona, enfim, sou um cara muito focado na carreira e acabo não dando valor a outras coisas que todo mundo gosta”, desabafa Rafael.

Para ele, gerir a própria carreira é sempre difícil, sempre complexa. “Outro dia eu vi uma entrevista de um artista muito mais conhecido do que eu, e ele falou: ‘Olha, administrar uma carreira artística é muito difícil’. Eu falei: ‘Gente, se tá difícil pra ele imagina para mim’”, conta Rafael.

Cortez está na estrada desde os 17 anos e completa 30 anos de carreira daqui há dois anos. “O público pode me conhecer como artista desde 2008, no CQC (Band), mas eu to desde 94 fazendo coisas. Uma hora como músico, outra como ator, muito depois virei comediante”.

Para ele, a carreira artística é profundamente difícil e tende a ficar “ainda mais problemática quando é administrada em um país como nosso, com um governo que não dá nenhuma moral para o artista, que não vê valor na cultura, que coloca a gente no limbo das categorias, que relativiza e problematiza tudo que a gente faz”, completa.

“Infelizmente não consigo manter essa balança equilibrada. Tem momentos de viver bastante da comédia e o dinheiro da comédia ir pagando os prejuízos da música e do entretenimento, outros a música se paga ou dá algum lucro e a comédia não respondeu nada nesse mês. E assim vai, ao longo dos anos tem sido assim”, revela.

Foto: Divulgação

Músico x Comediante, quem ganha a batalha?

Para Cortez, quem dita o lado que precisa dar mais atenção é a sua própria vontade. “Tenho momentos de estar absolutamente necessitado de fazer comédia, eu vou lá e faço. Em outros momentos esse chamado é da música, eu vou lá produzo algo. Já teve momentos que foi literário, por isso escrevi dois livros”.

“É lugar comum falar que a gente tem um chamado, mas sim, o que rege a minha produção é sempre uma vontade pessoal que eu tenho de fazer, que dialoga diretamente com alguma coisa que estou vivendo”, destaca o artista.

Ele revela que essa “coisa que estou vivendo” pode ser muito emotiva e pessoal, como pode ser uma coisa maior que está acontecendo no mundo. “Eu posso estar indignado com o cenário político, por exemplo, e esse desabafo precisa sair de alguma forma. O “Que Sorte a Minha”, que nasceu basicamente na pandemia, reflete esse momento terrível que estamos vivendo”.

Lançado no começo de novembro, o álbum independente “Que Sorte a Minha” foi a resposta de Cortez à pandemia imposta pela Covid-19. “A doença mudou radicalmente nossas vidas e ceifou milhares de outras. Mas dela, entre outras criações pessoais, fiz nascer as obras desse álbum”.

“Não lancei meu disco de forma independente por não acreditar em uma estrutura, na indústria, eu lancei de forma independente porque é o que eu posso fazer agora. Se for para fazer das maneiras convencionais, subordinada à indústria, ao modus operandi, entrar num circuitinho, eu desanimo e não faço. E eu sou a favor de fazer”, revela.

E completa: “Há quem junte dinheiro na vida para trocar de apartamento, para pegar um carro novo, eu juntei o meu dinheiro, que não é muito, para investir nos meus projetos. Enquanto tem gente que fica quebrando a cabeça, esperando editais, contatos, eu to pegando meu dinheiro e pagando todos os meus produtos. Não faço projeto pela Lei Rouanet, não faço crowdfunding, não tenho rifa, não pego dinheiro público, não pego verba de marketing direto das empresas, eu pego minha grana e lanço meus produtos conforme eu posso”.

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Há quem goste de CD, ainda!

Além da versão digital, com distribuição da Tratore, o disco possui 500 cópias em CD físicos com venda digital. Questionado sobre a decisão estratégica de produzir CD e não Vinil, Cortez revela que foi puramente pessoal.

“Sendo bem honesto? A minha estratégia foi realização pessoal. Eu lancei essas 500 cópias de disco físico só porque eu gosto de disco físico, é simples. Muito possivelmente muitas dessas cópias vão ficar aqui, estocadas na minha casa, como estão várias cópias do “Música divertida brasileira” (2016) e algumas cópias do “Energia da Alma” (2011). Eu gosto do disco, gosto de ter CD físico”, revela Cortez.

E completa: “Eu, Rafa Cortez, gosto da cultura do disco. Eu gosto de folhear o encarte. Gosto de ler a ficha técnica. Gosto de deixar o disco correr e acompanhar a letra. Gosto do cheiro do encarte. (…) O mundo pode estar moderno, mas a minha verdade está nos meus produtos, e eu gosto dos meus produtos dessa maneira”.

Pedro Mariano assina produção musical

Primeiro surgiu a Patrícia Fano, para assinar a produção executiva do disco. Ela é esposa e empresária do Pedro Mariano, e daí nasceu o interesse de Cortez em fazer o convite para que o músico assinasse sua produção musical.

Rafael Cortez e Pedro Mariano | Foto: Acervo Pessoal

“Foi uma coisa curiosa, eu não esperava que ele aceitasse. Ele foi conhecendo as músicas, e disse: ‘Eu topo, mas eu quero propor caminhos diferentes, quero que você se abra para esses caminhos’. Foi maravilhoso nesse sentido. Esse foi um aspecto positivo dessa pandemia, esses encontros improváveis”, conta.

“O Pedro me fez abrir mão de conceitos que eu tinha, eu queria um CD que fosse violão, percussão e baixo. Ele me abriu a cabeça para ter piano, trouxe umas sonoridades que eu não tinha pensado. Eu trouxe um samba que se transformou em uma gafieira. E ficou muito melhor como gafieira, mesmo”, revelou.

Pedro trouxe um time de arranjadores e músicos como Conrado Goys, Herbert Medeiros e Agenor de Lorenzi, para o disco, gravado no estúdio de Dudu Borges. “A cereja do bolo é ter a participação de Rafaela Mariano, jovem de 14 anos filha de Pedro e neta de Elis, nos backing vocals de algumas faixas”, comemora Cortez.

Ouça “Que Sorte a Minha”:

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